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Sexta-feira, 19 de abril de 2024

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Caderno H: Cuiabana conta como é viver com a comunidade de ex-patriados ingleses no sul da França

(A escritora e jornalista cuiabana Stéfanie Medeiros começou uma nova aventura ao mudar de ares e começar uma temporada na Europa. Inspirada por suas referências literárias e pelas maravilhas de passar pelos mesmos lugares que suas grandes inspirações, rodeada de cafés, pessoas e lugares diferentes, ela começou um diário virtual. Suas notas de viagem voltaram para a coluna que ela já possuiu no Olhar Conceito, " Caderno H").

Dordogne é uma região no sul da França onde várias cidades estão situadas. Muitas destas cidades são medievais e produtoras de vinho até os dias de hoje (a exemplo de Saint-Émilion). Uma coisa que não achamos nos guias de turismo, no entanto, é que esta área é também onde vive a comunidade de ex-patriados ingleses.

Quem não ama ex-patriados, não? Se você leu “Paris é uma festa”, de Ernest Hemingway, vai saber do que estou falando. Mas o mais interessante - e também o fato que deixa a história com aquele charme - é que a maioria destes ex-patriados são (ou foram) artistas.

Para quem não acompanhou as outras notas de viagem (creio que a maioria), vou contextualizar: Em maio deste ano, sai do Brasil para uma jornada de três meses na França. Primeiro dei uma passada na Alemanha, aonde conheci a cidade universitária de Heidelberg, depois passei dez dias em Paris e logo em seguida peguei o trem para Dordogne, aonde estou até o presente momento. Se você clicar AQUI, vai achar as outras notas de viagem.

Pois bem, meu objetivo principal com esta viagem, além de conhecer melhor a França e passar mais tempo em Paris, é, claro, escrever. E tem dado certo. Estes têm sido os dias mais produtivos neste quesito. Mas não consigo deixar de rir com a ironia da situação. E a situação é a seguinte: Encontro-me em meio a comunidade de ex-patriados artistas e estou morando na casa de um escritor já falecido. Explicando melhor:

Minha Anfitriã, de quem não citarei o nome, trabalhou como atriz dos dez aos vinte anos de idade. Depois decidiu fazer outra coisa. A mãe da Anfitriã também é atriz (e inclusive já morou com a Maggie Smith. Sim, a de Harry Potter e Downton Abbey). O pai dela é professor de literatura.

Um amigo da Anfitriã, que também mora nesta região, é um inglês ao estilo Hugh Grant. Ele já trabalhou na indústria do vinho (como quase todo mundo por aqui), mas também é poeta. Segundo a Anfitriã, ele se vê como uma espécie de Lorde Inglês escrevendo os versos que redefinirão a história da literatura no meio ao campo francês. Quando ele veio almoçar um dia, disse que é como a Branca de Neve: fala com os animais.

Mas o mais interessante (para mim) é o antigo morador da casa em que estou agora. O nome dele era David Stringer. Ele morreu há alguns anos. De acordo com a Anfitriã, Stringer fez uma fortuna com os livros dele, mas começou com a auto-publicação. Ontem a noite peguei alguns destes livros, que estavam escondidos atrás de um porta-retrato na estante.

Os títulos são os seguintes: “The Glass Rainbow”, , “The yesterday man”, “No time to lose”, “Who wants crackers at Christmas?”. Este último é uma auto-biografia. Na última parte, ele conta como foi a mudança para a zona rural francesa, como foi comprar e reformar esta casa, como era a vida aqui.

Os outros três são trabalhos de ficção. David também era pintor e tocava jazz. A Anfitriã não gostava muito do trabalho dele, porque, segundo ela, são muito “pesados” e “erotizados”.

A Anfitriã tem uma amiga que é jornalista e escritora. Frequentemente, esta amiga tem “bloqueio artístico”. Quando isto acontece, ela vem passar uma temporada nesta casa. Acho no mínimo irônico que eu tenha atravessado o oceano Atlântico e “caído de pára-quedas” nesta casa. Mais irônico ainda que estes dias tenham sido os dias mais produtivos até agora.

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