Olhar Conceito

Sexta-feira, 29 de março de 2024

Colunas

O que você quer ser quando crescer?

Quando criança ao me fazerem esta pergunta eu respondia: “livre”. As pessoas riam carinhosamente e me esclareciam que ser livre não é profissão, mas eu insistia que ser livre era o que eu queria ser. Foram anos para que eu entendesse em um nível mais profundo, o significado do meu desejo, sempre defendido com unhas e dentes.

Em um Natal, minha madrinha que era professora, me deu de presente um quadro negro, algumas caixas de giz e um apagador, a partir daí, minha brincadeira preferida era dar aula para as minhas bonecas. Cresci e durante o período da faculdade, estagiei em uma escola que seguia o método Jean Piaget, foi um período que me deixou saudades.

A vida me levou para caminhos distantes do magistério, o que também foi bom, desenvolvi habilidades que talvez a docência não teria favorecido. Todavia, nunca deixei de acalentar o desejo de um dia voltar a sala de aula, seja como aluna, seja como monitora. Como aluna, voltei muitas vezes, penso que enquanto viver, estarei sentada em alguma sala de aula aprendendo algo novo ou aperfeiçoando o que já é conhecido.

Aos trinta e quatro anos, mulher feita, bem sucedida profissionalmente, mãe de duas crianças lindas e saudáveis, a vida sendo vivida dentro de uma confortável normalidade, passei a sentir que me faltava algo, que a princípio não sabia dar nome nem saber de onde vinha, mas que provocava em mim uma sensação de incompletude e vazio. Sentia-me culpada por carregar esse sentimento no peito, muitas vezes pensava que seria castigada por não me sentir totalmente feliz com a vida que eu havia conquistado.

Não tenho pudor em confessar que passei alguns anos nesse movimento de fuga de mim mesma, até que meu corpo adoeceu e aí me vi obrigada a vasculhar os cantinhos mais escondidos do meu ser, e trazer a luz do sol os meus desejos, sentimentos e sonhos que as crenças e as descrenças haviam deixado no passado.

Não foi fácil, não foi rápido, não foi simples. A alegria de me encontrar, se misturava as lágrimas que não chorei quando era para ter chorado. A esperança de que os dias seriam melhores, se confundiam com o medo do desconhecido.

Há vinte anos me vasculho internamente e não tenho a menor intenção de parar. Há dez anos, me dedico a ajudar pessoas a encontrarem-se e sentirem-se melhores e felizes na própria pele.

E você, já se perguntou, se o que “se tornou” é o que lá atrás, ainda criança ou um jovem adolescente desejava ser?

É lógico que as vontades mudam com o passar do tempo, as situações em que vivemos, as experiências, os relacionamentos, a condição financeira, exercem papel importantíssimo na modelagem de nós mesmos, mas e os sonhos? Todos nós sonhamos, somos movidos por eles. A vida sem sonhos perde o sentido, torna-se mecânica, transforma-se em uma rotina pálida em que acordamos, trabalhamos e ao voltar para casa no final do dia, o que trazemos como acréscimo é o sentimento de obrigação cumprida. O que de todo não é ruim, pior seria, se nem os deveres que compõe a existência cumpríssemos, mas isso basta?

Foi para isso que nascemos?

Não importa se o seu sonho é algo grande, complexo de realizar ou singelo, o fato é que por trás do seu sonho, do meu sonho, de todos os sonhos, existe um único objetivo: “ser feliz”.

Dia desses fui até uma loja comprar um presente para uma amiga. Quem me atendeu foi um jovem rapaz, simpático, atencioso, falante na medida certa. Em dado momento ele olhou para minha pulseira de óculos e perguntou: “com o que você trabalha”?
 
Eu sou Coach, respondi.

O que faz um Coach?

Entre outras coisas, ele auxilia pessoas a descobrir suas potencialidades, aprimorá-las, desenvolver competências e atingir seus objetivos sem perder qualidade de vida.

Que legal! Estou trabalhando aqui, mas o que eu quero mesmo é ser um profissional, daqueles que usam terno, que viaja toda semana, que conhece todos os aeroportos.

E em qual área você deseja atuar? 

Ainda não sei, me falaram que se eu fizer direito posso ser um cara desses, um administrador de empresas também daria para ser. Estou pensando, sou jovem, tenho tempo para decidir. 

A loja estava vazia e eu sem pressa, com isso, abri espaço para que a conversa se estendesse. Fui aos poucos buscando respostas nele mesmo, e depois de alguns minutos, ficou cristalino que aquele jovem ainda não possuía conhecimento o suficiente de si mesmo, ele se encontrava no escuro quanto aos seus talentos e aptidões, e atrás do desejo de ser um profissional que usa terno e vive em aeroportos, o que ele queria de fato é ser feliz.

*Isolda Risso é Personal & Professional Coaching Executive, Xtreme Life Coaching, Neurociência no Processo de Coaching, Programação Neurolinguística (PNL) pedagoga por formação, cronista, retratista do cotidiano, empresária, Idealizadora do Café Com Afeto, mãe, aprendiz da vida, viajante no tempo, um Ser em permanente evolução. Uma de suas fontes prediletas é a Arte. Desde muito cedo Isolda busca nos livros e na Filosofia um meio de entender a si, como forma de poder sentir-se mais à vontade na própria pele. Ela acredita que o Ser humano traz amarras milenares nas células e só por meio do conhecimento, iniciando pelo autoconhecimento
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