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Sexta-feira, 29 de março de 2024

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Paixão da Alma

Professor da UFMT lança livro que analisa suicídio de escravos como recusa à escravidão

Foto: Arquivo pessoal

Bruno no lançamento do livro em Chapada dos Guimarães

Bruno no lançamento do livro em Chapada dos Guimarães

Um livro sobre o suicídio - ou a ‘morte voluntária’ - de escravos em Cuiabá no século XIX será lançado no próximo dia 24 de maio, quinta-feira, em Rondonópolis, e no dia 8 de junho, sexta-feira, durante o ‘II Seminário do PROFHISTORIA", na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Este é o primeiro livro do professor de história da instituição, Bruno Pinheiro Rodrigues.

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A obra já foi apresentada ao público em Chapada dos Guimarães e em Belém, no Pará. “Paixão da Alma: o suicídio de cativos em Cuiabá (1854-1888)” foi lançado em parceria com a EdUFMT e Carlini & Caniato, e é fruto da dissertação de Mestrado de Bruno, defendida em 2010, na UFMT.

“O interesse pelo estudo sobre a temática surgiu no final do curso de graduação, na fase de pesquisa documental. Enquanto investigava casos de revoltas escravas na Cuiabá do século XIX, frequentemente apareciam casos relacionados a suicídios. Existe uma gama de pesquisas históricas desde os finais dos anos 1980 que abordam casos de resistência individual. Ao ler a documentação sobre suicídio de cativos, passei a entender que também seriam casos de resistência individual ao sistema escravista, tendo em vista que a condição escrava, para alguns, era um fardo demasiadamente pesado”, explica o professor. 

De acordo com a assessoria da UFMT, desde a defesa do mestrado, foram realizados poucos acréscimos e correções à obra, “tendo em vista os estudos surgidos durante o período com dados sobre o comércio de cativos transatlântico à luz do banco de dados disponível no projeto "Slave Voyages”.

Bruno conta que, em sua pesquisa, percebeu que o ato dos escravos de optar pela própria morte poderia ser uma recusa à escravidão. “Além disso, colocava em xeque a própria lógica da escravidão, que se baseava no fato de que um ser escravizado fosse um mero objeto, desprovido de subjetividade. Os casos encontrados, que são explorados especialmente no terceiro capítulo do livro, demonstram alta carga emocional e subjetiva. Acredito que uma pesquisa que se proponha a trabalhar com uma temática como essa seja, antes de mais nada, uma oportunidade para dar visibilidade àqueles que foram silenciados na história, e não têm espaço nos livros didáticos. Faço parte de uma linha de historiadores, vinculados a uma corrente chamada "História Social", que entende que a história precisa ser reescrita, dando espaço também aos vencidos, perseguidos e silenciados, a fim de termos uma visão mais democrática do passado”.

O professor acrescenta, ainda, que apesar de o suicídio ser estudado frequentemente pela filosofia e a sociologia, a história pode dar uma compreensão diferente à temática, mostrando como a questão é tratada ao longo do tempo. “A depender do período e local, o suicida pode ser herói ou vilão. Se em Platão, aquele que põe fim a própria vida merece condenação, pois ofende aos deuses que o colocaram na terra, em outras sociedades, aquele que se mata por uma causa, merece o paraíso. No caso do cativo que dá cabo a própria vida, se do ponto de vista do senhor é um ato a ser condenável, sobretudo porque causa "prejuízo econômico", apesar de alegarem razões religiosas..., inversamente, da perspectiva do cativo, pode ser abreviação de sofrimento e ruptura definitiva com os grilhões da escravidão. Em suma, a maior contribuição histórica é possibilitar compreender que a questão precisa ser analisada em suas singularidades temporais, sociais e individuais”.

O livro será lançado no próximo dia 24 de maio, na UFMT de Rondonópolis, junto ao ‘Memórias Kilombolas”, da autora Amélia Alves, e também no dia 8 de junho, em Cuiabá, em lançamento coletivo com: “Fazer história: a importância de ler, interpretar e escrever sem ala de aula”, de Renilson Rosa Ribeiro; “Escritas de viagem, escritas da história: estratégias de legitimação de Rocha Pombo no campo intelectual”, de Alexandre Lima Silva; e “Patrimônio, cultura e processos educativos em História: percursos e reflexões”, de Jaqueline Zarbato.
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