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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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afro paladar

Projeto cataloga culinária quilombola mato-grossense

Foto: Luzo Reis

Projeto cataloga culinária quilombola mato-grossense
O catálogo ‘Afro Paladar’, idealizado pela produtora cultural cuiabana Jackeline Silva, será lançado na próxima sexta-feira (10) no Sesc Casa do Artesão, a partir das 16h. O projeto, fruto do edital ‘Tradições’, da Secretaria de Estado de Cultura (Sec), traz a história de pratos típicos dos quilombos de Mato Grosso.

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O projeto surgiu em 2016, a partir do contato de Jackeline – que é cientista social e integrante do Instituto de Mulheres Negras (Imune) – com as comunidades quilombolas.  “Desde então, além de estar dentro do movimento social, passei pela Universidade também, integrando o espaço acadêmico, integrando os movimentos sociais, saí de lá e trouxe essa bagagem comigo. Então passei a trabalhar como produtora cultural com a cultura afro-brasileira”, contou ao Olhar Conceito.

Foto: Luzo Reis

Em suas pesquisas, Jackeline descobriu que alguns livros foram publicados a respeito da culinária quilombola, e pensou em fazer o mesmo em Mato Grosso. “Porque nós temos uma grande visibilidade internacional nesse sentido, a forma como os cuiabanos fazem, preparam o peixe, a farofa de banana, que é algo que sempre surpreende os turistas, amigos de outras cidades que vêm visitar Mato Grosso, o pessoal gosta bastante, acha diferente. Então eu juntei uma coisa com a outra. Eu falei: ‘bom, esses pratos não surgiram do nada. Essa criação parte de algum lugar. E essas raízes da alimentação vêm da cultura indígena e da culinária quilombola também, dessa presença africana no Brasil. E foi aí que o projeto começou a aparecer”.

No início, a ideia de Jackeline era visitar sete comunidades quilombolas de Mato Grosso, em épocas de festa de santo. Para fazer a ‘ponte’ com essas comunidades, ela contou com a ajuda da presidente do Imune, Antonieta Luisa Costa, além do apoio da Fundação Palmares e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

Luzo, Jackeline e Juliana (Foto: Luzo Reis)

O projeto foi realizado em parceria com o fotógrafo Luzo Reis e a cineasta Juliana Segóvia, além de ter recebido algumas fotos de Vila Bela da Santíssima Trindade de Mário Friedlander.

Realização

Na prática, o projeto aconteceu um pouco diferente do planejado. Ao invés de sete, foram visitaras nove comunidades, mas nem todas durante as festas de santo. “A gente acabou circulando por esses locais e conversando com as pessoas. Fomos muito bem recebidos, a conversa fluiu, foi muito interessante”. Não foi em todas as casas que os pesquisadores encontraram pratos prontos, mas em cada comunidade houve uma surpresa diferente. Foi possível estar em festas de santo na Cachoeira Rica, conhecida antigamente como Peba, e também em Barra do Bugres, na comunidade Retiro. “Eu percebi que a devoção está muito ligada a esse ato de nutrir, de oferecer o alimento. É como uma dádiva que se estabelece entre as pessoas, na qual você reparte, você comunga com aquela pessoa. Por mais simples que a sua casa seja, tem um copo de café, sempre tem algo. E é muito legal, isso me emociona bastante”, declara Jackeline.

Foram essas visitas, também, que mudaram o ‘rumo’ do catálogo. “No início a minha ideia era identificar quais são as comidas mais tradicionais, mais típicas. Por exemplo, a Maria Izabel, a farofa de banana, a paçoca de pilão, as comidas que nós conhecemos. Só que o grande diferencial disso é quem produz esse alimento”.

Com este novo pensamento, Jackeline encontrou um novo parceiro, o chef Alício Charoth, que tinha experiência com comunidades quilombolas da Bahia. “Após conversar com ele, eu vi que realmente era muito mais interessante a gente mostrar essa coisa não comum de fazer em um livro de receitas, e mostrar sim quem são esses quilombolas, e como eles estão vivendo aqui no estado. A minha premissa, nesse catálogo, antes era mostrar a culinária, as receitas desses pratos, mas nesse percurso, de pesquisa, de conversa, a gente vê que é mais importante ressaltar esse elemento humano”.

O catálogo será lançado no Sesc Casa do Artesão, e, depois disso, ficará disponível para download gratuito. Depois de Cuiabá, ele será lançado em Brasília, e a ideia é expandir ainda mais. “Eu quero chamar parcerias, pesquisadores, consultores que trabalham com essa temática da gastronomia, que trabalham com comunidades quilombolas, com os polos tradicionais, para que a gente possa expandir, começar aqui pelo Centro Oeste, que infelizmente ainda é invisibilizado. Quando a gente fala de culinária quilombola, a gente sempre remete à Bahia, que é o berço da cultura negra no Brasil, ao estado do Rio de Janeiro, famoso pela feijoada, pela caipirinha, pela umbanda também, da religiosidade afro-brasileira, mas a gente tem que mostrar que outros lugares do Brasil também tem muitas peculiaridades, então eu acho importante ressaltar isso e partir aqui do Centro Oeste, então Cuiabá vai ser um grande marco”, finaliza.

Serviço

Lançamento Afro Paladar
Data: Sexta-feira, 10
Horário: 16h
Local: Casa do Artesão (Novo endereço: Av. Tenente Coronel Duarte, 2140)
Mais informações: FAN PAGE / INSTAGRAM
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