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Sexta-feira, 19 de abril de 2024

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Alunos de escola pública em Porto Alegre aprendem siriri; oficina acontece terça-feira

Foto: Reprodução

Alunos de escola pública em Porto Alegre aprendem siriri; oficina acontece terça-feira
Uma sucessão de intercâmbios entre o gaúcho Fred, professor de Educação Física, e o grupo Flor Ribeirinha, semeou o dançar Siriri entre estudantes de ensino fundamental da comunidade Morro da Cruz, periferia de Porto Alegre (RS). Em meio as dificuldades de lecionar em escola pública, o dançarino inseriu a manifestação de São Gonçalo Beira Rio, em Cuiabá (MT), no cotidiano das aulas e no projeto Danças Populares que desenvolve, há dois anos, com turmas do 6º ao 9º ano da EMEF Prof. Judith Macedo de Araújo.

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Em Cuiabá, o Flor Ribeirinha convida para participar da oficina "Dançando Siriri" na próxima terça e quarta-feira (13 e 14), educadores, estudantes e simpatizantes da cultura popular que desejam ser multiplicadores da dança típica de Mato Grosso.

O contato de Carlos Fazenda Junior (o Fred) com o Flor Ribeirinha se deu em seguidas edições do Encontro Universitário Nacional de Danças Populares, de 2013 a 2015, por meio de um projeto de Extensão da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Nesse meio tempo, ele conheceu o siriri em apresentações realizadas pelo grupo, recebendo os dançarinos e diretores, Jefferson Guimarães e Avinner Augusto, para ministrarem oficinas na capital gaúcha.

Em 2015, foi a vez de vir a Cuiabá para o mesmo evento. “Apresentamos um quadro de siriri, fizemos uma oficina na comunidade São Gonçalo e participamos de uma festa no quintal de Vó Domingas. Foi uma sensação muito boa poder dançar e vivenciar culturas diferentes, me marcou bastante. Trouxe um ganzá de recordação, só não trouxe um mocho porque ia ficar difícil de transportar no avião", lembra Fred, divertido.

Iniciando pelo contexto da dança popular gaúcha, Fred introduziu os alunos a culturas de diferentes regiões do país. O interesse pelo siriri, o professor relata que partiu dos próprios estudantes ao assistirem, em vídeo, coreografias do Flor Ribeirinha.

“Percebi que ficaram empolgados com a possibilidade de dançar o siriri. Então retomei o que tinha aprendido nas oficinas, assisti mais alguns vídeos do grupo e pesquisei as músicas disponíveis no site. Montei algumas aulas para o projeto da escola, mas, depois que fluiu, passei a trabalhar com o siriri também nas aulas de Educação Física, por se tratar de um passo básico simples e um ritmo mais animado, o que motiva os estudantes também”.

Com a consolidação do grupo na escola, Fred tem investido cada vez mais tempo e estrutura na dança popular mato-grossense, proposta que conquistou a adesão dos estudantes. “Encomendamos algumas saias com um rodado um pouco maior do que a gente costuma usar aqui e enfeitei com fitas os chapéus de palha que a gente usa no quadro da quadrilha junina. Só de usar o figurino os estudantes já ficaram bastante animados e a apresentação pra escola toda mexe bastante com a autoestima deles”, conta.

Trabalhando a Educação Física pela perspectiva da cultura corporal, Fred avalia de forma grata a experiência que acredita possibilitar a valorização da cultura popular brasileira, o protagonismo aos estudantes, além de um retorno positivo para escola e comunidade.
 
“Poder multiplicar uma experiência que eu tive acesso por conta de oportunidades que talvez estes estudantes não tenham na sua trajetória, é fundamental para que eles possam apreciar a diversidade de culturas, valorizar o que é dançado pelo povo e se aproximar de lugares que talvez poucos, ou nenhum deles, terão a oportunidade de conhecer, como Mato Grosso”, ressalta.

Identificação

Carlos Fazenda Junior conta ainda que chegou a ouvir do renomado pesquisador Paixão Cortes, especialista no estuda de danças populares em seu Estado, que já se dançou Siriri ali em algum momento histórico. Sobre semelhanças e diferenças entre danças populares do Rio Grande do Sul e Mato Grosso, o professor explicou:

“O movimento que as mulheres fazem com as saias é bastante semelhante, mas, em algum momento, se convencionou por aqui que os sarandeios deveriam ser mais contidos, levantando menos a saia. Os bate pés dos homens também está presente em algumas danças gaúchas, ainda que o sapateio argentino tenha uma influência maior, como na dança da chula, por exemplo. Em outras não sapateamos, apenas fazemos um bate pé, em movimentos mais rápidos e curtos, com a planta do pé inteira no chão”.

Intercâmbio nacional e internacional

O diretor artístico do Flor Ribeirinha, Avinner Augusto conta que a demanda de outras regiões do país e do mundo pela cultura popular mato-grossense, através do grupo, vem se intensificando nas redes sociais e plataformas digitais, desde 2012. Foi na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) que os cuiabanos tiveram a oportunidade de ministrar, pela primeira vez, a oficina “Dançando o Siriri”.

"Há um certo período do ano em que muitas escolas, universidades como a UFRGS e demais instituições de ensino, entram em contato conosco solicitando vídeos e músicas. Quando se pesquisa sobre cultura popular no Centro-Oeste, o Flor Ribeirinha aparece como uma das maiores referências", explica o dançarino.

Em território nacional, o Flor Ribeirinha já realizou a ação em Estados como Ceará, São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, além do Rio Grande do Sul. A última turnê realizada pelo grupo na Rússia, durante a Copa do Mundo, foi um marco para o intercâmbio formativo do grupo em âmbito internacional, através da troca cultural com países da África.

“A partir dessas experiências, nós percebemos que muitos alunos, enquanto professores, se aproximaram muito com a cultura cuiabana através do Siriri e começaram a aplicar a dança como uma atividade que possibilita o desenvolvimento cognitivo, motor ou afetivo. Isso nos deixa muito feliz, é um trabalho que nos enche de orgulho”, comemora Avinner.

Entre os conterrâneos, oficinas também acontecem na comunidade São Gonçalo Beira Rio e em ações pontuais com alunos e professores escolas municipais. Na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), o grupo, composto também por educadores, foi responsável por idealizar o projeto de Extensão “Bataru: Identidade e Cultura Popular”, vinculado ao curso de Educação Física.

“Ainda é um trabalho pequeno diante da proporção das redes de ensino municipal e estadual, mas já é um importante começo. A ideia é formar disseminadores para que a nossa cultura se fortaleça nas escolas, quintais e comunidades”, finaliza.

Próxima oficina

As aulas serão realizadas em duas turmas de até 25 alunos, das 13h às 17h, na Faculdade de Educação Física da UFMT, em Cuiabá. O investimento é de R$ 30 e as inscrições realizadas neste link.

Desta vez, o espaço é oportunizado pelo XVII EIDANCCE, evento organizado pelo grupo de pesquisa “Corpo, Educação e Cultura” (COEDUC/UFMT), que coloca em evidência práticas de dança, cultura e identidade no cotidiano escolar.
 
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