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Notícias / Artes visuais

Entre o divã e o ateliê, psicóloga manifesta suas criações em aquarelas e murais

Da Redação - Pedro Coutinho Bertolini

Duas salas dividem o apartamento 209 do edifício Wall Street, na avenida Isaac Póvoas, centro da capital. Numa delas, um ateliê, na outra, um divã. Entre elas, Natany Martins, de 30 anos. Psicóloga pela UFMT, se divide entre atender crianças, ser a mão e mente criativa que pinta em aquarelas as obras que compõem o acervo de “Ar Fresco Arte”.

Natany percebeu que não havia mais possibilidade de separar a arte da psicanálise, e vice-versa. Atualmente, sua rotina caminha entre atendimentos e criações que vão desde canecas customizadas, passando por imagens de pets personalizados em aquarela, pinturas de botânica, insetos e o seu xodó descoberto por acaso após encomenda de um casal de amigos: pintar paredes, levando cores da botânica para onde antes era acromático.

Entre a psicanálise e a arte, o divã e as aquarelas, percebeu que, de alguma forma, todos são atravessados por processos que afloram a criatividade, existindo aí a possibilidade de as pessoas irem de encontro com esses aspectos, seja lá qual for. “Comigo é pintura, desenho, mas com outros poderia ser com música, teatro, costura, dança, enfim, tem N possibilidades”.

Para conhecer o trabalho artístico da psicóloga, basta acessa o perfil oficial de instagram: Ar Fresco Arte.


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Ar Fresco

 
Ar Fresco é vital para Natany, onde ela se sente viva. É o lugar que consegue se encontrar consigo mesma, se movimentar e se inspirar nas sensações e elementos da natureza. No ateliê ela encontra soluções de frescor e tranquilidade para amenizar suas angústias, além de transmitir isso para clientes e entusiastas de sua obra.

É onde ela traduz em arte aquilo que lhe atravessa. Para ela, estar ali é apaziguador.  “Acho que a arte para mim apazigua, então ela é muito necessária. A arte existe porque a vida não basta!”, exclamou citando Ferreira Goulart.

Dos atravessamentos que perpassam por seu espírito no cotidiano, das sensações da natureza, cria, recria, produz, recebe encomendas e desenvolve o que é essencial para si: arte, pintar, criar, movimentar.

Suas criações vão desde canecas customizadas, passando por imagens de pets personalizados em aquarela, pinturas de botânica, insetos e o seu xodó descoberto por acaso após encomenda de um casal de amigos: pintar paredes.

“É outra coisa. Pintar parede tem sido algo diferente, me faz muito bem, é muito bom para mim. Dá muito mais trabalho, mas é muito gostoso, vale muito à pena”. Nos murais pintados pela psicóloga, espécies botânicas se unem colorindo paredes brancas, trazendo a sensação de frescor e beleza ao acromático.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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Ar Fresco tem uma coleção específica de canecas, especialmente criadas pela artista: as canecas “Passarinho” e “Pelo Caminho”; “O que a gente es(colhe) todo dia”; “Flores do Campo” e “Pequenas promessas de Alegria”.



Há também quadros pintados em aquarela, que atendem às encomendas dos clientes. Pode ser o seu bichinho de estimação personalizado pelas mãos da artista, um pássaro, um ramo de flores, e obras que envolvem a maior paixão de Natany: a botânica.

“Então eu faço muito isso de encomenda, que são os trabalhos de pets, gosto muito de fazer, invisto bastante, mas gosto também dentro desse trabalho, fazer não só o pet mas trazer minhas características enquanto artista”.

As obras de Natay ficam disponíveis no Instagram oficial do ateliê, onde os interessados podem fazer encomendas e realizar o orçamento para a pintura de paredes.



Sobre investir seu tempo com a arte, Natany foi assertiva em dizer que cada obra tem valido à pena, quando transbordam o retorno meramente financeiro. “É de muito à pena de saber que eu estou caminhando minimamente no que eu quero. Acho que ter clareza disso é um privilégio. É muito importante para mim, para eu saber que é o que eu tenho. É o que eu tenho de mais valioso e é para me manter na vida”.
 
Entre o divã e aquarela

Inquieta trabalhando no período de isolamento da pandemia em Campo Verde, Natany se sentia sozinha e com falta de ter um espaço de estudos onde pudesse continuar seus projetos com a psicologia e arte. Então retornou para a capital.

Mas seus planos, como os de muita gente, foram frustrados pela Covid. Ela tentou realizar um trabalho multidisciplinar – que não vingou -  entre a psicologia, fonoaudiologia e fisioterapia para crianças, a faixa etária que atua.

“Conversei com uma fono, ela até se interessou, mas não rolou direito por conta da pandemia. E como as tentativas que ia tendo eu fui me frustrando, decidi me dar umas férias e fui estudar mesmo arte”.



Autodidata, se muniu sozinha de estudos, vídeo aulas e investigações sobre materiais que pudesse utilizar para suas criações. Durante esse processo, ela foi se arriscando e topando fazer as encomendas que chegavam em sua página do Ar Fresco no insta. “Fui me arriscando e topando fazer, não tive medo, o que foi muito bacana”.

Diante do retorno positivo, foi investindo em mais materiais. Na época, ela morava em uma casa que tinha um espacinho reservado para a arte. “Um local muito criativo e potente para mim”. Mas, ela teve que sair de lá para retomar seus atendimentos presenciais. “Ai no ano passado, 2021 fui atras de sala que pudesse me oferecer possiblidade de atendimento com criança”.

É na sala 209 do edifício Wall Street, na avenida Isaac Póvoas em Cuiabá que ela percebeu que as aquarelas e o divã não necessariamente deveriam trilhar por caminhos distintos. De algum modo ou de outro, as teorias que utiliza para o trabalho na psicologia lhe dá suporte e ferramentas para investigar sua relação com a arte. “Acho que as duas andam juntas”.

Dessa união, quanto mais estudava psicanálise, mais se interessava por arte e mais essa conexão fazia sentido. Tanto os estudos psicológicos quanto analises pessoais lhe faziam entender cada essa relação entre as aquarelas e o divã.

Foi aí que decidiu juntas as duas coisas. Por exemplo, ela explicou que quando está atendendo crianças, surgem inspirações para ela criar no ateliê. Nisso ela começou investigar o processo e ato criativos, no que surge das falas de seus pacientes. Daí, tem tentado trabalhar na conexão entre os dois universos. “Tenho tentado trabalhar com isso, pois acho que tem a ver com vida, saúde, e tenho insistido muito nisso”.



Entre a psicanálise e a arte, o divã e as aquarelas, percebeu que, de alguma forma, todos são atravessados por processos que afloram a criatividade, existindo aí a possibilidade de as pessoas irem de encontro com esses aspectos, seja lá qual for. “Comigo é pintura, desenho, mas com outros poderia ser com música, teatro, costura, dança, enfim, tem N possibilidades”.

Ultimamente a psicóloga tem trabalhado o uso de técnicas de pintura com tintas, criações lúdicas com caixas de papelão para fazer monstrinhos, e usando elementos que possibilitem a criação aos seus pequenos pacientes.

“Então ultimamente, por exemplo, com trabalho para crianças, eu uso técnicas de pintura, trago tintas, e aí eu investigo o que ele vai fazer com aquilo. Porque de um modo ou de outro, atenua, dá uma certa anestesiada talvez em algum sofrimento. Você dá algum outro sentido para aquilo”.
 
Até as aquarelas

Desde criança, pintava a parede da casa onde morava, rabiscava em papéis e sempre gostou muito de criar coisas. Ela fazia pequenos armários com caixas de madeira, presenteava os amigos com suas criações, pintava e customizava seus cadernos. Mas, “nada muito sério”.

Jogando tinta onde dava, brincava enquanto compunha artes abstratas. Fez isso por muito tempo, até que em 2017, começou encontrar páginas no Instagram sobre tinta aquarela. Isso lhe despertou enorme interesse e, na época, comprou um minikit com godê, gotas de tintas primárias, um pedaço de papel aquarela e um pincel com um painho. “Esse foi meu primeiro contato com a aquarela, e eu ia brincando com isso”. 



Morando no interior de MT à trabalho, em Campo Verde, passou por uma fase em licença médica, o que lhe rendeu doses diárias de ansiedade. Ela encontrou na aquarela a fuga para as crises. Voltou a pintar, investiu em outros materiais e se pôs a produzir plantas, insetos, o que lhe agradava e, depois, presentava as pessoas mais próximas.

Foi quando retornou para Cuiabá que uma oportunidade de profissionalizar o que já vinha “brincando” desde criança aconteceu. Uma amiga estava abrindo negócio e-commerce de capuccino caseiro e queria dar xícaras ilustradas com aquarela aos seus clientes. Ela pediu que Natany fizesse as pinturas.

“E eu fiz. Essa foi minha primeira venda. E eu já tinha bastantes desenhos, e aí uma amiga na época me falou que queria compra-los e eu falei que não ia vender, pois não achava digno. Aí ela comprou tintas para mim, e eu fui fazendo”, explicou.

Para o futuro próximo, almeja que sua arte seja interpretada para além de decoração, como sendo algo que lhe dá o ar para respirar e forças para mover. “É um modo de encontro comigo mesma”.

Ela já se pegou questionando se suas criações não seriam meramente decorativas, e pretende que sejam mais que isso: Natany quer impactar, provocar, causar atravessamentos e movimentos.

“Então acho que ainda não estou nisso, é um desejo meu, mas ainda preciso estudar, criar, fazer e continuar me movimentando. Acho que a arte me dá movimentos [...]  Eu acho que meu objetivo seria poder ter mais tempo para criar coisas que provocam e que não seja apenas decorativo. Poder montar uma exposição e essa exposição poder falar de algo, provocar de alguma forma”, finalizou.
 
 
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