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Segunda-feira, 06 de maio de 2024

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O golpe da garça e outras lições do mestre Miyagi

A década de 80 é tão marcante pelos ícones apresentados ao longo desses dez anos. De fato, qualquer época só se torna memorável por conta de seus ícones. Estilos, manias, tradições, eventos emblemáticos e outros aspectos, que fazem de uma era uma lembrança viva. Seja ela boa ou ruim.

O que vamos levar do cinema dos anos 2000 ainda consiste uma visão turva para os meus olhos. É claro que essa geração será marcada pela consagração dos efeitos visuais como arma para um cinema sem fronteiras com a imaginação. Também sei que este mesmo período ficará marcado por filmes alucinantes, que fizeram da tecnologia avançada um forte aliado à arte. Dentre tantos, estou falando especificamente de Avatar. Mas, fora isso, fica uma dúvida que nossos pais sempre tiveram em relação a outras coisas: o que deixaremos para a próxima geração?



Meu amor se revela pelos filmes oitentistas da mesma forma que uma flor desabrocha com a chegada da primavera. É piegas, mas a sensação de que o ar e os elementos ao redor te propiciam a se abrir para uma nova experiência, é a mesma. Dos filmes dos anos 80 (que como já disse várias vezes, é uma importante época para a formação do mundo contemporâneo), aquele que mais me ensinou lições é Karate Kid. Considerado “velho” (há controvérsias da parte de muitos como eu) pelos novos adolescentes, este clássico de 1984 contabiliza os maiores ensinamentos de vida que jovens, no auge dos 12 aos 17 anos, precisam aprender para sobreviver no mundo cão chamado Escola.

A popularidade de Karate Kid possui um motivo. Muito mais que uma amizade sincera entre duas pessoas de gerações e regiões completamente distintas, o filme aproxima o telespectador da real situação que tantos de nós enfrentamos: os bullies. Atualmente o termo é popular e faz parte do linguajar cotidiano de todos. Mas na década de 80, ninguém fazia ideia do que isso significava no Brasil. Mas muita gente havia passado pelas mãos desses valentões.

Quando sua estatura, porte físico e voz fina – dada às mudanças hormonais – te impedem de “impor respeito” na escola, é comum se tornar um alvo fácil. Daniel San tinha todos esses aspectos, o que fizeram dele um saco de pancadas dos adolescentes fortinhos e abusados. E como se já não bastasse toda a mudança interna do corpo, ele ainda teve que lidar com as pancadas que levava a troco de nada.

Nos anos escolares, em qualquer parte do mundo, muita gente sofreu com os mesmo problemas de Daniel San. Mesmo sem saber ou sem qualquer motivo aparente, a lei do mais forte sobrepunha os mais fracos, que eram rejeitados, marginalizados e abusados nos corredores da escola. Eu, particularmente, observei de perto várias ações do gênero. E de fato, não é nada bonito.

Essa proximidade que o drama teen de Daniel gera com a vida de tantos adolescentes é quase um encanto. Aparentemente, alguém – em uma época sem internet Wi-Fi e conexão direta com o mundo – decidiu falar sobre algo que afligia tantos jovens. E tudo foi trazido da forma mais dócil possível: um adolescente novo na cidade tentando sobreviver à arte de adaptação.

Em Karate Kid, as lições de vida vêm de várias perspectivas. Muito mais do que sobreviver, é importante viver. Ninguém vive atormentado pelo medo e insegurança. As “aulas” do mestre Miyagi, mentor de Daniel San, ensinavam justamente isso. Para que você possa bater, precisa saber qual é realmente o seu alvo. Socar pessoas pode resolver seu problema temporariamente, mas o respeito que você impõe impede que as brigas se prolonguem. Além disso, Miyagi apresenta o equilíbrio. Ele não está na estrutura corporal, está na mente. E quem não tem autocontrole, é como um carro desgovernado em uma BR movimentada. Exatamente como é representado nos valentões do filme.



Todas essas características, aliadas às aulas de “pintar cerca”, encerar o carro em movimentos circulares (wax on, wax off) e a técnica do famoso Golpe da Garça, tornaram este filme em uma franquia de sucesso. Mas, muito mais que bandanas, produtos ou miniaturas dos personagens, Karate Kid trouxe ao mundo real – extrapolando o universo cinematográfico – a lição de que você não deve desistir de si mesmo. Não é um filme sobre luta. É um filme sobre valores. E como Rocky Balboa ressalta para o seu filho no cinema, 22 anos depois, não se trata de quão forte você pode bater, se trata de quão forte pode ser atingido e continuar seguindo em frente. É assim que a vitória é conquistada.

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