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Quinta-feira, 02 de maio de 2024

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Longe de casa, em território inimigo - confira coluna de cultura pop e cult by Rafa Gomes

Certas coisas são capazes de mudar o curso da história mundial e não dá pra fugir de algumas consequências, ainda que o ato não possua relação alguma com você. O mundo pós-11-de-setembro é um pouco disso. Um emaranhado de conspirações, especulações e ideias estranhas que formam o famoso combo do medo. Com um mundo mais sensível e “atingível” (todos se tornam possíveis alvos de qualquer tragédia, seja ela natural ou proposital), viver numa sociedade tranquila hoje é um luxo. Isso não faz muita diferença para nós. Corruptos continuam corruptos e o país ainda patina com a inflação. Mas em terras norte-americanas, o drama é outro.



Logo após os acontecimentos do 11 de Setembro, com o bombardeio das Torres Gêmeas, nada muito relevante sobre o ocorrido poderia ser dito. Durante o tempo de “luto” e recuperação, tanto no quesito ego como estrutural, ninguém tocava no assunto. Como disse, estavam todos sensíveis demais para comentar. Mas Hollywood sonhava com o momento em que poderia contar essa história em todos os ângulos possíveis.

Como fruto do terrorismo e dos inúmeros ataques que aconteceram num curto intervalo de tempo (Londres, Pentágono e Nova York), a indústria cinematográfica (que se estende ao universo das séries de TV) concebeu uma série de produções que falavam do assunto. Todos tentando superar a dor. E como parte desse drama-da-vida-real, vimos surgir filmes como Tão Forte e Tão Perto (2011), Reine Sobre Mim (2007), A Hora Mais Escura (2012), Guerra ao Terror (2008) e a famosa série de Jack Bauer, 24 horas. Só para mencionar alguns.

Muito fora dito por meio dessas produções. Enquanto algumas abordavam a perspectiva de famílias que sofreram com a perda, outras puxavam o viés dos soldados, mostrando a árdua tarefa de proteger a pátria. Mas ninguém ainda havia trazido à luz o que rola nos bastidores. Sim, a Guerra ao Terror é intrigante, mas os conflitos internos dentro da própria CIA – responsável pela captura desses vilões – são ainda melhores.

Homeland chega à grade de séries de TV abordando essa vertente. O que acontece por debaixo dos panos é quase tão pior quanto as conspirações e inúmeras retaliações feitas entre países atingidos e os terroristas em questão. Desenvolvida por Howard Gordon e Alex Gansa e baseada na saga de livros israelense Hatufim, de Gideon Raff, a série – estrelada por ninguém menos que Claire Danes e estreada em 2011– aborda o universo escondido da CIA, que trapaceia, puxa o tapete e briga por disputa de poder e soberania, em uma América frágil e desconfiada.

Com um elenco exemplar e – notavelmente – desconhecido (com a presença da brasileira Morena Baccarin), Homeland não mede esforços em ser realista, levando o telespectador para dentro das salas secretas, onde as reuniões mais importantes – relacionadas à segurança nacional – tomam parte. Além de não medir a quantidade de sangue derramado em seus episódios, ela traz a frieza de um mundo onde manda quem pode, obedece quem é tolo e matar é considerado lei. Se você possuía uma versão romanceada da CIA – como Hollywood incansavelmente nos mostrou – sua visão será completamente mudada.

Enquanto a equipe incansável da CIA busca pistas sobre terroristas e acompanha o Oriente Médio de perto, com agentes infiltrados e câmeras escondidas, Carrie Mathison (Claire Danes), oficial de operações, usa sua inteligência impressionante para conectar os pontos daquilo que ninguém mais enxerga. Batalhando com a bipolaridade e imersa em um universo onde vida pessoal é inexistente, Claire dá vida à protagonista feminina mais forte já vista na tevê. E a história, que começa com a busca de um suposto terrorista, o ex-fuzileiro americano Nicholas Brody (Damian Lewis), entra em colapso por diversas vezes, mostrando reviravoltas impressionantes ao longo de três temporadas que estão longe de seu fim.



Em seu terceiro ano e com uma grade de fãs crescente, Homeland é quase um pente fino de tudo que o escritor americano Tom Clancy tanto amou: conspirações, sujeira política e o lado negro da CIA. Responsável por clássicos da literatura que se consagraram ainda mais nos cinemas como, A Caçada ao Outubro Vermelho e Jogos Patrióticos, Clancy permanece sendo o cara que sabia demais sobre a CIA, mesmo se conhecer nada. As semelhanças de Homeland com os livros de Tom são impressionantes e salientam ainda mais a certeza de que Carrie Mathison é o reflexo feminino de Jack Ryan, o voraz agente da CIA, personagem central dos livros de Clancy. Feita para os amantes de ação e conflitos psicológicos, Homeland se consagra como a série sobre aquele assunto batido, vista de uma perspectiva nunca antes mostrada.

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