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Quinta-feira, 02 de maio de 2024

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Costa-Gavras expões as vísceras do capitalismo

Na última quinta-feira (14) presenciei uma mesa que debatia cineclubismo na XII Mostra de Audiovisual Universitário, promovida pelo Cineclube Coxiponés, na UFMT. Debatia-se a importância que o cineclubismo tem para resistência social e, também, política e cultural, logo seria o cinema o propiciador destas ações. Vale a pena citar os cineclubes Roncador e Zumbis de Barra do Garças e Sinop, respectivamente.

Impossível não recordar do trabalho exercido por Buñuel, Gordard, Coutinho, Eiseinstein, entre tantos outros, que não se omitiram ante à natural demanda política na arte de uma sociedade doentia, que definha em sua humanidade. Costa-Gavras é um destes tantos outros, mas não apenas mais um.

Em seu recente O Capital (2012), a citação a Karl Marx vai além do título, estende-se pelo roteiro, na história de Marc Tourneuil (GadElmaleh) que ascende à presidência de um grande banco europeu, o Phenix. O diretor greco-francês apresenta então os bastidores, as formas de pensar e agir daqueles que detém o capital. As cenas que iniciam e terminam o filme, são diferenciadas, engraçadas, onde os chefões do sistema financeiro europeu são ridicularizados.

Outros momentos oníricos são aqueles em que Marc imagina-se cedendo aos seus impulsos, frutosda mente exaurida do executivo, constantemente reprimida. Estas cenas revelam como ele, um homem até então integrante da base da pirâmide social, vai adequando-se à nova lógica imposta pelo capital. Tais cenas em maior quantidade na obra não soariam como exagero. Entretanto não se pode dizer que o autor não explore os exageros da caricatura, a arte permite essas maximizações, e isto acontece o tempo todo, através de diversos artigos de luxo que compõe as cenas, ou ainda, mais especificamente, quando todas as crianças da família de Marc brincam com seus smartphones sentadas no sofá durante o jantar, sem interagirem entre si. Caricatura parecida foi vista há algumas semanas na Folha, no artigo de Antonio Prata que se intitula “Guinada à direita”, recomendo.

Costa-Gavras traz Marx ao cinema para expor as vísceras do capitalismo. Diante de todas as mutações vívidas e estágios passados pelo capitalismo, o longa indica que a essência ainda é a mesma dos últimas cento e cinquenta anos quando circulavam as primeiras impressões de O Capital.

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