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Quinta-feira, 02 de maio de 2024

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Hipócritas ou espertos ao contrário? O grito da exclusão nos pede para não fechar os olhos

Arquivo Pessoal

Afinal, quem são os hipócritas? Aqueles que perpetuam um sistema visando lucro e consequentemente a exploração, ou aqueles que sem alternativa precisam exaurir sua força de trabalho que é a única forma em conseguir mudanças em relação aquilo que desejamos? “Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser opressor”, já sentenciava Paulo Freire, um dos maiores estudiosos do Brasil.

Todos os rostos são tristes, marcados pelo descaso, por uma vida perdida, que não é vivida em sua plenitude. Trabalhar 30 dias por mês, de oito a 10 horas por dia. Como uma máquina que se não produz será descartada, como o lixo que saem das casas luxuosas e são aproveitados por pessoas cuja única morada reside em revirar aquilo que não tem mais serventia.

A busca incansável é por algo palpável, bens materiais, conforto, sofisticação. E nesta implacável e desordenada missão de vida, vamos nos perdendo, pouco a pouco, esquecemos quem somos, e que a nossa mãe verdadeira nos dá ar e terra (o que realmente precisamos para viver, o resto é supérfluo).

Hipocrisia é andar todos os dias no coletivo lotado, apertado, em condições subumanas que te faz questionar, a cada segundo de sua existência, se realmente vale a pena prosseguir? Estamos submetidos a um sistema do qual não tivemos escolha. Sobrepor nossas vontades, gritar a nossa insatisfação, é ser reprimido, taxado como vândalo, que não tem o que fazer, a não ser depredar o patrimônio público e privado. Depredar as mentes que não pensam.

É como disse Estamira, catadora de lixo que dá nome ao documentário, e em sua insanidade sana revela: “são espertos ao contrário”. E o que significa ser um esperto ao contrário? E é o mesmo que ser um hipócrita?

Um esperto ao contrário é quem acha que vai se beneficiar quando na verdade tem a sua força vital exaurida, para dar luxo ao lixo dos patrões. Já os hipócritas, são aqueles que possuem todos os mecanismos para enxergar as dificuldades, a desumanidade que assola os corações impuros, e se fazem de cínicos, com olhos arregalados e dentes cerrados, querem nos impor que somos egoístas como o resto do mundo.

Afinal, quem somos? Somos o grito? O desespero? A revolta? Somos uma luz no fim do túnel da vida? Ou somos pobres mortais, que caminham a ermo sem saber para onde ir ou como voltar?

Ser hipócrita ou esperto ao contrário é uma escolha de cada um. Fechar os olhos e tapar os ouvidos para não dar atenção as atrocidades que comandam o mundo contemporâneo (e acho que assim como toda a história da humanidade), é se fechar em uma concha, que aos poucos, irá sufocar e matar, lentamente.

Olhe para o lado. Enxergue com clareza quem são as pessoas que caminham sem rumo na vida. Enxergue aqueles que todos os dias sofrem por um pedaço de pão. E não feche os olhos. A vida grita incessantemente nos seus ouvidos, e tudo o que pede, é um olhar atento, que não seja sonolento, e nem desvencilhado de emoção, mas que seja aguçado e com isso, traga um novo sentido para os que já deixaram de acreditar.

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