O amor é o instrumento da aceitação. Só com amor podemos enxergar os defeitos e qualidades e ainda assim, saber pesar os dois. O amor sempre encontra o caminho. Encontra o caminho para a aceitação plena. O amor nos faz aceitar que as coisas são como são e as pessoas são como puderam ser. O amor não exige. Não manda. O amor acontece. E por ser tão natural não impõe regras. Não há definição. O amor não tem medida e deve ser aceito como é. Cada qual tem a sua capacidade de ser. A vida impõe. O amor ameniza, acalma, deixa o fardo mais leve. O amor reconcilia. A vida arrasta. Mas o que o amor pode ser é o que a vida deixou que fosse.

Em um poema canadense, ela reclamava da sua vida. “Life is hard, you know?”. Mas porque uma frase tão simples causa tanto impacto? Por ser dessa simplicidade intensa com um sentido que entra fundo por ser a realidade crua dos dias, que são o que são e não deixam espaço para questionamentos.

As coisas são como devem ser. E o amor é por ora o salvador. O moinho dos ventos dos desamparados. A coisa certa na vida incerta. A vida dolorosa, queima, marca. A vida de trilhos complexos, de histórias entrelaçadas, de acertos e erros, e perdas irreconciliáveis. Não há para onde fugir. Mas há onde achar alento. Há onde encontrar conforto, seja o pé ao lado da cama, seja o sol que nasce forte, seja o verde que floresce em cores, seja por uma palavra, um ato de retribuição, um desejar sempre melhor, uma vontade gigante que transborda o peito, ou um olhar de aprovação.

A felicidade está nas pequenas coisas. Aquelas que são incontáveis, imensuráveis. Não precisa ser mais que isso. Precisa ser simples. A vida já é complicada. Pesada. Como o poema canadense. A sua pele negra marcada pelo preconceito. A sua vontade de fazer sempre interrompida por acasos do destino. Existe uma redenção do corpo e do espírito. Exige disciplina. Exige convicção. Exige todas as coisas difíceis de serem alcançadas. O êxito. A realização. Onde está o amor senão nas coisas boas? O amor também existe no feio, no estranho, no lado de fora. O amor sempre existe em um peito que bate. Mesmo que não haja vida fora daqui. Mesmo que não haja desejo.

O amor encontra um jeito de acontecer. De tornar a vida simples. De tornar as coisas simples. De ser simples. O amor não exige como a vida. O amor é a redenção.