Olhar Conceito

Quinta-feira, 02 de maio de 2024

Colunas

O tempo passa, nos arrasta e ficamos a recolher os pedaços do que fomos

Arquivo Pessoal

O tempo passou. Mais um ciclo se encerrou. O vem e vai da vida nos leva pedaços todos os dias. Pedaços daquilo que somos, do que queremos ser. Pedaços que nos completam e nos esvaziam, no incessante rodar das voltas do relógio. É o tempo. O tempo que marca a todos e não salva ninguém.

Aprisionados em ampulhetas do tempo, perdemos a noção de nós mesmos no corre-corre dos dias, na falta de respirar profundamente e se olhar atentamente. Perdemos todos os pedaços daquilo que inspiramos e não realizamos. Perdemos quando deixamos de acreditar.

Nossos pedaços são pedaços daquilo que foi, mas nunca volta ser o que era. Pedaços que nos remetem ao fim dos tempos, do começo de todos os tempos, da vida que promete louros, mas só arranca o couro.

É assim. Do começo ao fim, perdemos nossos pedaços. E corremos o risco de perder a nós mesmos, se insistirmos em viver como os reis do tempo e do espaço. Precisamos recolher nossos pedaços. Um por um. Dia a dia.

A nossa batalha não é contra o tempo. É contra o que deixamos que o tempo faça conosco. Não podemos deixar que os nossos pedaços de fé, de esperança, de crença, se percam nesta ampulheta louca que é a vida. O tempo nos faz escravos. Estamos presos aos ponteiros dos relógios.

Não podemos deixar que o tempo se esvazie, que escorra das nossas mãos como aves que não conseguimos segurar. Temos que ser os pedaços que acreditam em pedaços do tempo que nos pertencem.

Somos todos pedaços de algo maior que nós, que não temos a noção do ínfimo pedaço que cabe a nós, imposição do tempo, imposição do espaço em que estamos contidos.

Não tenho respostas. Apenas perguntas. E vazio. Um vazio crescente que engole cada pedaço daquilo que sou.
Mas então, recobro o meu espaço e retomo o meu tempo, faço dos meus pedaços o que quero, o que desejo, e não cobro explicações. Cobro apenas que haja tempo no meu próprio relógio, para que então, eu não perca aquilo que ainda vive em mim.

Recolha os pedaços, guarde as horas no bolso, e caminhe só. E quem sabe algum dia, você encontre, aquilo que sempre foi.

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