O Serbian Film – Terror sem Limites fez merecidos estrondos em 2010 e 2011. Com direção de Srdjan Spasojevic o filme provocou reação imediata de conservadores pelo mundo, e consequente censura, ao apresentar uma história repleta de perversões sexuais do quilate de necrofilia, incesto e pedofilia. Foi o caso do Brasil, pra terror daqueles que de fato apreciam a arte cinematográfica, tendo em vista que nada, ou quase nada, nas cenas é gratuito. Como não existe gratuidade em Clip, de 2012, também sérvio.

O debute da diretora Maja Milos é notável como foi o de Spasojevic, dentre outros autores. Ela opta por valorizar o prisma de sua protagonista, Jasna (Isadora Simijonovic), uma porta-voz de sua geração, a geração K, como sugere o cartaz (o título original é grafado com K). Parte relevante das imagens que compõem a obra são feitas pelo celular de Jasna, quase nada passa desapercebido por seus registros. Seu olhar pela lente grava festas, brigas, o pai seriamente doente, o consumo de drogas e, principalmente, o sexo, seja sozinha em seu quarto ou com Djorje (Vukasin Jasnic), garoto violento pelo qual Jasna desenvolve obsessão doentia, porém passivamente incômoda.

Milos é feliz por não tentar explicar tudo, por não deixar sua história didática demais e assim pouco verossímil. Não que Clip seja totalmente verossímil, não aparenta ter tal pretensão, todavia, apresenta em Jasna algumas características salientes desta geração. Jasna é adolescente, vive em Belgrado, capital da Sérvia, devastada por conflitos recentes, tem no pai um doente terminal, e nas baladas o escape pertinente.

Clip permite diversas reflexões sobre as relações de Jasna com o seu celular e Djorje. A validade do registro desta geração é facilmente comprovada pelos casos recentes de pornô revanche, em que namorados trazem os dispositivos móveis para a cama. Apesar de falar de amor, Clip não é tão agradável e, por isso, possibilita uma experiência estética importante, um contato direto com outra realidade. Uma boa-nova do cinema sérvio.