Olhar Conceito

Domingo, 05 de maio de 2024

Colunas

A eminência das bombas em drama familiar

Arquivo pessoal

Alguns eventos ou ambientes podem ser suficientes para garantir a relevância de uma história minimamente razoável. Isso é elevado em um meio como o cinema que potencializa as possibilidades de ambientação e de experiência estética, quando o público se sente desligar da realidade, admitindo a outra projetada na tela. Contudo, não é exatamente este o caso de O Filho do Outro (2012), isso porque a história contada por Lorraine Levy vai além do razoável.

Temas como confusão de paternidade e troca de bebês em maternidade são conflitos base para ao menos três ou quatro folhetins televisivos por ano no Brasil. Entretanto, Levy consegue fugir das obviedades e dos maneirismos afluentes com certa destreza. Esses clichês poderiam se multiplicar...

A confusão se dá entre uma família israelense e outra palestina. Bombas e outros explosivos seriam bem vistos pelos distribuidores de um filme que se passa durante uma guerra. Felizmente não é esta a opção da diretora.

O peso dramático já chega até o aterrador em algumas cenas. Exemplo é o silêncio sepulcral durante a delongada explicação do diretor do hospital sobre a troca desastrosa, dezoito anos depois, quando todos os dois casais já sabem o veredito inapelável. Esta cena é um anti-suspense que, paradoxalmente, parece citar Hitchcock e suas artimanhas narrativas.

A trilha sonora e a própria fotografia são eficazes para a criação desta ambiência, que consegue soar natural, e livra o filme da pecha de ser panfletário. Seria desnecessário forçar o roteiro para mostrar algo que se pode ver claramente nas imagens captadas na Cisjordânia: o subjugamento de um povo pelo outro.

Uma tensão é criada no final do filme: uma bomba pode explodir e dividir em milhares de pedaços a bonita história onde conflitos de identidade, aparentemente inconciliáveis, são conciliados. Um pouco mais de realidade na ficção já um tanto realista: é um êxito de Levy nos colocar ali na linha de tiro, em contato direto, apesar do pouco tempo, com duas culturas bem distintas da nossa. Porém, quando os créditos sobem a bomba, contra qual protestei parágrafos atrás, não explodiu... E a paz reina entre as famílias que se odiavam.

Comentários no Facebook

Sitevip Internet