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Fräulein

Autor: Da Redação - Rodrigo Maciel Meloni

27 Mai 2013 - 14:00

- Ontem eu morri 13 vezes minha irmã...
- Não conte seus sonhos, eles podem ouvir. Veja, estão todos com os dentes sedentos por um pedaço de sua pizza suada de costa a costa.
- Proteja-me.
- Protejo-te.

As duas irmãs, uma maratonista e uma fräulein, discutiam o sabor dos ventos, pisavam o mundo em pantufas de algodão doce e corriam pela única via asfaltada da pequena cidadela das 13 pessoas.
Mas uma delas tinha morrido?
ninguém sabia ao certo, todos temiam uma resposta direta.

- Conte-me seus sonhos.
- Eles são concâvos.
- Devem ser lindos.
- São rendilhados, disso eu sei.
- Ontem eu sonhei com você 13 vezes minha irmã. Caíamos de pernas cruzadas do 13º andar do único prédio em pé que se fazia ver naquela cidadela...
- quem nos acompanhava?
- Éramos só nos dois.
- Caíamos com elegância?
- Imagino que sim. Você ainda sente as dores?
- Sinto os sabores.

Reminiscências estão sempre a acompanhar àqueles que se atrevem a sonhar com os olhos abertos. Aquele que quer um pouco mais do que o céu, a terra e a alma... aquele que almeja o sucesso... aquele...

FADE


- Você me contou segredos durante o sono?
- Te contei amenidades. Coisas sobre árvores ululantes, montanhas mágicas pensadas por Mann, coisas poucas...
- Promete me proteger da pomba estúpida que vive a sujar nossos poleiros?
- Dela e de seu criador, aquele velho ranzinza que vive a derrubar aviões e a criar desastres para que os ignorantes acreditem nele.
- Graças a natureza eu acredito nas suas promessas.
- Beije-me a palma da testa.
- Beijo-te a alma, minha grande irmã.

As duas irmãs se davam as mãos porque eram duas irmãs. Se fossem três, a natureza as espancaria. Três irmãs nunca devem andar de mãos dadas. É a lei.

- Percebes que somos agora 12, antes 13?
- O que o futuro nos reserva?
- Uma quiromante, penso eu.
- Minha alma está um tanto seca, penso em parir uma cachoeira.
- Peçamos a mamãe permissão?
- Mamãe está morta. Mamãe morreu. Mamãe é um cadáver de útero seco.
- Ainda bem que temos um pai, ou não temos?
- Não sejas otimista...

O otimismo tirou-lhes as lentes e os tímpanos.
Só lhes sobraram a distância da pomba estúpida, que nem pomba era, era um artifício religioso.
Fräulein e maratona eram felizes. Comiam pizza, caíam de pernas cruzadas, atiravam em pombas da paz e tinham a mãe morta e o pai ausente.

Desta vez elas dormiram felizes, e puderam sonhar seus sonhos concâvos.

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