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Sexta-feira, 29 de março de 2024

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Sobre fotografia, Ayrton Senna e o Drible da Vaca

A fotografia em seu termo literal, é entendida como uma tecnologia que possibilita produzir imagens através da sensibilização de algum material quando exposto à luz. Foto e Grafis, as palavras gregas de origem, significam Luz e Estilo/Pincel. Sendo assim, qualquer indivíduo que domina e executa - mesmo de maneira limitada - a técnica necessária para fazer uma foto, é fotógrafo. Seja ele profissional ou não.

Essa idéia simples, leva uma quantidade gigantesca de jovens - e nem tão jovens - fotógrafos a incorrer em um erro primário. Eles pensam que dominar a técnica é o único segredo. A lógica leva ao pensamento de que se eu tiver um excelente equipamento, ler todo o manual, comprar pilhas de livros e fazer workshops para aprender a operar tudo isso, vou me sobressair, ser melhor que a concorrência, ficar famoso ou ganhar mais dinheiro. O problema dessa idéia é que ela é verdadeira, mas apenas parcialmente.

É claro que técnica e máquina fazem diferença. Do contrário, Senna teria corrido para sempre na Toleman, sua primeira equipe. Mas a McLaren também já teve outros excelentes pilotos e...bom, Senna era diferente, não? Todos concordam que era um cara extremamente técnico e entendia muito bem a sua máquina, assim como o bom fotógrafo deve fazer. Mas o fator decisivo é que Ayrton era um artista das pistas. Ele tinha a tal inspiração, o talento. Essa coisa mágica e intangível que fez Pelé dar o drible da vaca, que apareceu quando Beethoven compôs a 9ª sinfonia praticamente surdo e quando Niemeyer projetou Brasília. Técnica sem arte é um prédio quadrado. Funcional, útil, só isso.



Não estou dizendo que o fotógrafo não deve estudar e viver de pura inspiração-bicho-grilo. Pelo contrário. Estudo e treino são elementos chave para ter sucesso em qualquer coisa nessa vida. Estratégia de trabalho, algum marketing e bons contatos também. Mas o que realmente vai te diferenciar é a sua capacidade de transformar a técnica em poesia e emoção. De chegar ao coração das pessoas. Pra isso, você deve chegar primeiro a seu próprio coração, seguir as dicas e os passos mais malucos que ele te dá. Dançar ao som de seu improviso. E claro, ralar muito. Assim nascem golaços e sinfonias, campeões das pistas e das lentes. Assim nascem, crescem e se reproduzem eles, os - raros - artistas. Sem arte é possível, à penas, sobreviver.

*Lucas Ninno é fotógrafo e editor da agência Alvorada Imagens.

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