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Com virtudes de obra-de-arte The Last of Us é o último suspiro desta geração de games

Autor: Vinicius Mania - Especial para o Olhar Conceito*

25 Jun 2013 - 16:55

Lançamento exclusivo para o Playstation 3, The Last of Us é o game mais comentado, comercializado e elogiado do momento. E existem motivos de sobra pra tanta festa acerca deste novo game da Naughty Dog, a mesma produtora da série Uncharted, um clássico do PS3. The Last of Us, título que traduzido seria algo como “O que restou de nós”, mas que se fosse um filme, seria lançado nos cinema brasucas com um nome tipo “Os Últimos Heróis” ou “A Esperança É A Última Que Morre” ou “O Vírus do Apocalipse” ou, deixa pra lá, já deu pra entender, né, narra uma história intensa e marcante. Aliás, mais do que um filme, a história daria um bom seriado de TV. Daqueles que dá agonia de ter que esperar pelo próximo episódio.

Joel é um quarentão que perdeu a filha no princípio do tumulto causado pela infestação de um vírus. Essa doença, causada por infecção, mata as pessoas e as ressuscita em forma de zumbis assassinos e rápidos. Os zumbis mais jovens (transformados em pouco anos) são chamados de “corredores”, são os mais comuns e são perigosos quando estão em bando. Quando atingem certa idade de “pós-vida” eles perdem a visão, mas se transformam em “estaladores”, seres que parecem que vieram de algum filme de terror trash (e já aparecem como objeto de culto dos praticantes de cosplay), cujo um contato mais próximo é muito mais mortal. Também podem aparecer os raros “vermes”, os zumbis mais velhos, gigantes cegos completamente deformados lançadores de bombas de gás. Joel e seu irmão conseguem escapar das criaturas, mas se separam, e 20 anos após o início da infestação, em 2033, Joel é agora um sobrevivente em um dos redutos habitados por humanos, as zonas de quarentena. 



Num ambiente hostil, sem meios de comunicação ágeis e desprovido de recursos básicos, Joel teve de se adaptar, é agora é um sujeito de cara amarrada, um anti-herói violento e brutal quando lhe é necessário, digamos, o tempo todo. Joel é grandalhão, mas pode morrer com um ou dois tiros dos militares que controlam o vai e vem das pessoas ou uma mordida de um infectado. Enquanto espera por pelo menos um notícia agradável, ocupa seu tempo fazendo trabalhos de tráfico e contrabando e tem um status por isso. Talvez por isso, Marlene, a líder dos Vagalumes, o mais antigo e forte grupo de resistentes, tenha optado por escolher Joel para fazer o serviço de escoltar Ellie, uma menina de 14 anos até um reduto distante da organização onde a garota estaria segura dos militares e da lei, visto que a menina seria valiosa (cuidado, um mini-spoiler!) por supostamente estar infectada e não apresentar sinais da evolução do vírus, uma imunidade que poderia ser o indício de uma cura ou base da pesquisa de criação de uma vacina. A relação entre Joel e Ellie, seus imbróglios emocionais, seus diálogos e sua parceria na hora do combate é o fio que conduz a trama de sobrevivência, horror e esperança de The Last of Us.

O afeto de Joel por Ellie é crescente na medida que os dois vão passando por situações arriscadas. Ela o faz lembrar de sua filha, e essa saudade com gosto de mágoa é um sentimento que Joel achava que tinha deletado. Aos poucos Ellie se torna mais do que sua protegida. A menina que cresceu sem ver o mundo, sem contato com a natureza e animais é uma menina cheia de surpresas estranhas para Joel e para o jogador. Para o bem de Joel (por mais que fique estranho e tire um pouco do realismo do jogo), a menina, que não consegue nadar uns poucos metros e adora os gibis que o tio Joel recolhe pra ela, é capaz de ter talentos incomuns como direção de carros e montaria com uma destreza inexplicável, além de outras surpresas que ocorrerão mais ao final do jogo. Coisa de Hollywood!

E por falar na Meca do cinema, a atriz Ellen Page (que concorreu ao Oscar por Juno) declarou ontem em um fórum na internet que não gostou que as feições de Ellie (seria trocadilho?) foram “roubadas” de sua pessoa. Roubada ou não a semelhança é impressionante mesmo. Por sua vez, as interpretações corporais e faciais estão num nível avançadíssimo, todas amparadas por um vasto elenco de atores e salientados por gráficos de qualidade próximas ao que foram apresentados ao mundo recentemente pelos jogos da geração futura (PS4 e Xbox One).



Joel e Ellie atravessam cenários urbanos caóticos e de natureza exuberante, nos quais é impossível não parar para contemplar. Todos os fatores climáticos, a poeira no vento, as folhas caindo, a neve, os mínimos detalhes das texturas dos objetos, a movimentação da vegetação e água, principalmente nas cenas de mergulho, superam todos os jogos lançados até hoje e criam uma sensação de realismo tão bela quanto aterrorizante. Os cenários são amplos e permitem que sejam traçadas rotas estratégicas de combate ou fuga pelos personagens. Como os recursos de sobrevivência são escassos e são encontrados pelo caminho, dar aquela vasculhada furtiva é essencial, além de ser uma maneira interessante criada pelo jogo para explorar e apreciar os cenários e o jogo sem muita pressa. Vasculhar permite a Joel encontrar itens que somados criarão os kits médicos e armamentos necessários na longa jornada. Só que fugir nem sempre é uma opção.

Outro ponto artístico de destaque é o som, que dá vida à ambientes e também tanto te faz sorrir quanto te faz arrepiar. Seguindo na linha hollywoodiana, a trilha sonora é acertadamente criada pelo ex-roqueiro argentino Gustavo Santaolalla, ganhador de dois Oscar (Babel e O Segredo de Brokeback Mountain). Climática, melancólica, intensa e dramática, a trilha em si é suficiente pra te fazer mergulhar no jogo. E essa imersão completa de The Last Of Us, de roteiro envolvente, audiovisual impressionante e jogabilidade agradável e realística, chega a ser tão grande que quanto mais se joga, menos se quer chegar no final. Mas chega um momento do jogo em que a tensão fica tão grande que é preciso por um ponto final nesta história trágica e emocionante.



Mas espere aí, um passarinho pós-apocalíptico assobiou que pode haver uma continuação.
Fora o modo de um jogador, existe o modo multijogador online, onde o destaque fica por conta do modo Survivor. Grupos de dois times duelam em equipes de quatro jogadores usando os mesmos recursos de combate do modo de um jogador, combates corpo a corpo brutais, tiroteio, e construção e ataque de bombas caseiras numa disputa onde sobressai a estratégia de equipe, na qual cada membro tem uma vida só e ganha quem sobrar pra contar a história.

The Last Of Us, em suas poucas semanas, já é um sucesso de crítica e público e carrega o simbólico posto de “último grande suspiro” desta geração. Arrancou elogios emocionados de todos os lados e já é considerada uma obra-de-arte dos games. É certo que o jogo possui seus defeitos estruturais, que em certos momentos aliviam a grata tensão do jogo, mas é mais correto afirmar que The Last Of Us atingiu um novo patamar de qualidade, uma obra bem pensada e bem excutada em todas as partes. É agradável pensar que este game deve aumentar a “responsa” dos games que vem por aí, principalmente os da nova geração que terão a desejada e ingrata missão de superá-lo. Mas até lá, é uma compra mais que proveitosa dos donos de PS3.

A versão nacional é dublada em português, o que é muito gratificante, porque não tira a atenção do belíssimo visual do jogo. A dublagem é em geral bem feita pra um game que contém uma quantidade tão grande de diálogos. Porém, infortunadamente peca em alguns momentos, e a sensação é de estarmos vendo um filme da Sessão da Tarde. E eis uma dica, a opção de legenda é muito interessante pra acompanharmos diálogos que ocorrem a uma certa distância, o que pode ajudar a identificar a presença de alguns seres indesejáveis circulando pelo local. Assista abaixo o trailer deste jogo imperdível:



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