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Quinta-feira, 28 de março de 2024

Colunas

Crítica: Falemos de Tabu

Grito de resistência pela arte e cultura em Cuiabá, uma peça de teatro, mais uma turma de atores se formando e alguns de nós na plateia, pela primeira vez, aguardando em uma casa com estrutura simplória, sem muitas sofisticações arquitetônicas e com o espaço cheio de plantas, janelas, portas e gente sedenta pela arte e interpretação.
 
Todos encharcados de expectativas, não haviam poltronas vermelhas ou os três toques da campainha que nos avisasse que o primeiro ator, quem sabe, nos daria as caras. Ouvimos um grito de guerra vindo lá dos fundos: um por todos e todos por um.
 
Era o desejo de sorte, merda.
 
Estávamos na área da frente, bancos de plástico e às pessoas mantinham o tom de voz baixo, meio que desajeitadas ao esperar curiosas pelo que haveria de vir. Aos poucos, cada um no seu assento e, enfim, com atraso de 4min iria começar. Na verdade, já havia começado, pois um dos atores estava entre nós. Era pra sermos os primeiros a chegar, mas de tão infiltrado, quando chegamos ele permaneceu ali.
 
Tivemos inevitavelmente que olhar uns para os outros, às vezes, interagir. Essa coisa de sentar em rodas me dá nos nervos, força uma proximidade, mas logo seríamos um público íntimo cômodos adentro.
 
Durante o espetáculo houve quem abrisse caixão, sentasse no banco do júri, cometesse assassinato ou se assustasse com um pelado vagando pelo lugar.
 
Até agora, não sei se posso dizer que Tabu foi uma peça de finalização daquela turma de teatro d'entre tantas outras que poderão vir nascer no espaço. Quem sabe, combine mais dizer que foram cortinas que se abriram, foi um “sejam bem-vindos” aos novos artistas, esforçados e que se misturavam ao público com textos e figurinos também planejados por eles, mentorados pelo André D'Lucca, atrevido artista dessa cidade.
 
Nos espalhamos pelas salas, quartos, corredores, cozinha e fundo da casa. Nos espalhamos não, nos esprememos. Foi de público limitado, poucas pessoas, que nem quando acontece novena ou aquele evento pequeno e, ainda assim, cheio de penetras. Éramos quase uma família, sensibilizados e incomodados com as falas, que às vezes de tão familiar-(in)adequada, dava mesmo vontade de no meio da encenação, falar.

Tudo nos mínimos detalhes, iluminações, sensações térmicas, olfativas, molhadas e reais. Foi a segunda ou terceira vez que a luta pelo teatro me surpreendeu por aqui, a primeira eu reservo para a Maiêutica, que entre seus trapos e toques suaves pariu e me fez sorrir desconcertada ao vê-la rolar no chão.
 
O teatro, o amor e a arte podem e devem estar em todos os lugares. Democratização, acessibilidade e fazer pulsar também depende de nós.
 
Que Dioniso nos ajude a defender vocês!
 
Mirella Duarte é jornalista e artista plástica em Cuiabá

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