Olhar Conceito

Quinta-feira, 28 de março de 2024

Colunas

Trovas, vinhos e canções

Arquivo Pessoal

Às vezes gosto de imaginar tempos longínquos, quando ao cair da tarde, com o sol se pondo, a humanidade no velho mundo se recolhia às suas casas iluminadas por velas e candeeiros. Onde, de vez em quando, aconteciam reuniões e às vezes o tradicional jantar. 

Ainda que falar de lareira em Cuiabá cause certa estranheza, elas existiram e fizeram parte principalmente da alta sociedade. As pessoas se aqueciam com o queimar das lenhas para compensar as frias construções nas noites de inverno. 

Imagino damas, lordes, cavaleiros e pessoas comuns reunidas a 'acalorarem' suas almas com histórias, vinhos e canções épicas, apresentadas por trovadores e seus menestréis na distante Idade Média. Tristão e Isolda...  

No pulsar das cordas dos alaúdes e guitarras latinas, cânticos à pessoas amadas, narrações de batalhas e feitos heróicos. Por sua vez iam se mesclando com as sombras na pouca iluminação dos grandes salões e as noites tornavam-se menos enfadonhas. Não havia luz elétrica. Talvez se não fossem estas reuniões, estes momentos musicais mesclados com histórias, poesias e performances, viver naquela época seria muito desalentador. Mas o tempo em sua marcha constante, assistiu todo esse cadinho cultural enfrentar os mares e vir se mesclar com os ameríndios em terras pantaneiras. 

Aqui em nossas noites quentes, as velhas lareiras se tornaram parte das histórias contadas do além-mar. Quis porém o Criador, que os velhos alaúdes agora renascidos como violas de cocho, embalar as cantorias dos nossos trovadores sertanejos, cantando suas toadas e versos, embalando as jovens e senhoras a cantarem dançando o Siriri. Daí, recolhido em minha sala, já bem distante das noites dos castelos medievais, enquanto tomo uma taça de um bom vinho tinto, sinto imensa saudade de ouvir os nossos saudosos trovadores cuiabanos Manoel Severino, Caetano Ribeiro, Bugre, João Batista e todos os Mestres que adentraram não os castelos medievais, mas os quintais à sombra dos mangueirais, para cantarem suas histórias através do Cururu...

Sonhador e saudosista sim, com orgulho daqueles que colecionam boas leituras e gostam de trazer à tona cenários musicais já tão distantes.

*Raul Fortes é músico educador e apresentador.
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