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Segunda-feira, 07 de outubro de 2024

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O acalanto do possível

Agentes públicos precisam ter foco. Afinal, cabe a eles definir o rumo, direcionar e gerenciar ações de modo a que elas alcancem o mais amplo contingente possível de pessoas, de comunidades. Se os gestores atuam de forma integrada, interagindo, se comunicando produtivamente, é certo que as políticas públicas tendem a acontecer com maior efetividade. Quero, pois, neste artigo, dar foco à questão dos consócios intermunicipais em Mato Grosso, por entender que eles podem se configurar nos polos necessários para que essa comunicação produtiva se estabeleça e dê os esperados frutos.

É fato notório que por vezes ações isoladas de nossa parte acontecem e têm sucesso, do mesmo modo, no município vizinho podem estar se desenvolvendo ações que, embora isoladas, também, em si, são atividades de sucesso. Mas acontece que o vizinho não fica sabendo do que eu fiz, nem tampouco eu fico a par do que ele fez, e aí uma boa iniciativa acaba se perdendo ou se confina em seu gueto, não se propagando à sociedade como um todo, como seria desejável. E isso, evidentemente, é um desperdício de informação e de estratégias para superarmos os muitos gargalos colocados em nosso caminho para o necessário avanço social.

Precisamos, com efeito, procurar saber quais passos foram dados, quais as etapas percorridas para se chegar àquele case de sucesso, ter a oportunidade de troca para otimizar resultados, de parte a parte.

A comunicação, em nível de estado, depende dessas pontes que estabelecemos, e pode ser bastante melhorada no sentido de que essas boas práticas aconteçam e sejam catalogadas, sejam potencializadas pelo poder público, para que outros administradores possam ter a chance de bem utilizar esse conhecimento técnico. E isso inclusive já acontece, por exemplo, no mercado privado, com o uso compartilhado de tecnologias de plantio, então, certamente a Aprosoja, a Ampa, a Fundação Mato Grosso têm uma leitura do que está acontecendo de bom no estado todo, como está sendo trabalhado determinado tipo de terreno ou está sendo combatido determinado tipo de praga, qual tipo de semente funciona numa área de Mato Grosso ou qual tipo não funciona. Tudo no sentido de que a produtividade seja aumentada e que se alcancem maiores lucros – que é a lógica do sistema produtivo. Afinal, por que não pensar isso de forma pública, republicana, para que os bens públicos cheguem às pessoas, que as grandes experiências frutifiquem coletivamente? De fato, é preciso que os investimentos feitos pelo Estado nas áreas de saúde, educação, cultura, ciência e tecnologia cheguem à ponta de uma maneira transversal e acessível a todos, porque já houve um investimento.

O sentido central do consórcio, portanto, é o de potencializar o aglutinamento de municípios, para realizar uma determinada ação. Logo, é uma inteligência, uma estratégia de inteligência para ampliar as coisas que estão dando certo e minimizar os problemas, para que eu não repita problemas que o meu vizinho já detectou e que eu possa aglutinar a partir do sucesso dele. E aí cabe ao poder público fazer essa costura entre todos os atores sociais, para fazer chegar essas informações a quem interessa.

A ideia, antes de estabelecer qualquer tipo de estratégia de governo ou de implementação de uma política, é estabelecer uma comunicação que seja funcional. Acordar entre os parceiros, entre os atores de qualquer sistema (educação, saúde, cultura, meio ambiente, turismo, ciência e tecnologia, desenvolvimento econômico), que as boas experiências, as boas práticas serão distribuídas e racionalizadas por meio do incentivo do Estado.

Essas experiências de sucesso são acalentadoras, particularmente em dias difíceis como os de hoje. E são, sobretudo, sinônimo de esperança, no sentido de nos estimular a fazer uma coisa diferente. 

Esse fenômeno da comunicação multicultural em Mato Grosso é uma coisa que precisa ser mais bem apreciada e utilizada. Uma cultura miscigenada, multifacetária e ao mesmo tempo cheia de novas ideias e inovações para a solução de diversos problemas.

Contrapondo-nos à ‘cultura do grampo’, de recente e triste lembrança em nosso estado, dizemos que grampo é exclusão, é falta de democracia. E o que a gente precisa, mesmo, é de comunicação. E essa comunicação, além de nos aproximar pessoalmente, facilita a vida do Estado, utiliza recursos públicos e torna a vida do cidadão um pouco mais viável.

Vivamos o acalanto do possível. E por meio de consórcios e contando com boa comunicação, obviamente, isso fica bem mais interessante.
 
*Fabrício Carvalho é maestro da Orquestra Sinfônica da UFMT. 

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