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Colunas

A felicidade em doses diárias

Isolda Risso

Acho difícil alguém passar pela vida e não se perguntar o que é felicidade, é inevitável que em algum momento tal pergunta bata à nossa porta. Há pouco tempo me peguei às voltas com essa questão. Sabe aqueles dias onde tudo é cinza? Que a vida nem está tão ruim assim, mas tem uma “coisa “dentro de você que dificulta ou impede de ver o horizonte com clareza?

Naquela manhã foi difícil sair da cama, parecia que havia uma tonelada sobre mim, como se travando meus movimentos. Acordei macambúzia, queria ficar quieta no meu canto, somente alinhavando os pensamentos. Com muito custo me arrastei até o banheiro para a higiene matinal. Se não houvesse um compromisso inadiável, com certeza teria voltado para a cama, enfiado a cabeça debaixo dos travesseiros e ficado por lá... até aquela lua passar.

Tem coisas que não se explica, não se entende... Na noite anterior fui dormir bem, estava normal e literalmente da noite para o dia acordei com um aperto no peito, uma sensação de sufocamento, doía até para respirar. Mas com dor ou não, compromisso é compromisso e fui para o meu. Depois fui para o escritório, as horas passaram, mas a tristeza insistia.
Nada, nem ninguém me animava, e como estava com dificuldade de me concentrar no trabalho, fui até a estante em busca de algo para ler na esperança de amenizar aquela coisa mal assombrada. O livro a me chamar atenção naquele momento foi um bem fininho de capa verde limão, do filósofo Mario Sergio Cortella: “O que a vida me ensinou”.

Corri os olhos pelo sumário e parei na página 97, com o título felicidade como vitalidade. Muito já se escreveu e se falou a respeito da felicidade, muitos são os conceitos e elucidações do que ela seja, todas as definições tem a sua verdade.
O fato é que não existe muita novidade quanto a isso, mas Cortella, neste livro, foi muito feliz em sua forma de conceituar o sentir-se feliz. Ele nos fala que em latim a palavra felix tem duplo sentido. Ela significa feliz e também fértil. Assim, felicidade é fertilidade- não apenas no sentido de reprodução, mas como sentimento de que a vida não cessa, de que não há esterilização dos sonhos nem desertificação do futuro .

Ou seja, quando algo pulsa dentro de nós e nos faz sentir vivos, estamos tendo episódios de felicidade. E se ao longo da vida estes episódios acontecem, eles acontecem quando? Bem... a partir daí parei a leitura e me perguntei: em que situações me sinto viva? Em que situações me sinto fértil ?

Conclui:

Me sinto viva quando vou à floricultura escolher flores para minha casa.

Me sinto viva quando acordo mais cedo aos domingos e preparo meu café, saio da cozinha arrastando chinelos, com a xicara de café fumegante em mãos, sento em frente ao computador e começo a escrever. O silêncio das manhãs de domingo é mais inspirador e ao criar, me sinto fértil.

A vida pulsa dentro de mim quando entro em uma boa livraria e ali, misturada aos livros, passo horas sem me dar conta que as horas passaram.

Me sinto fértil quando contemplo meu filhos dormindo, quando saio para fotografar, quando vou à feira e ouço o vendedor gritar : “é a laranja, é a laranja”...

Me sinto radiante quando uma melodia me emociona, quando me apaixono, quando jogo conversa fora com meus amigos. Ah... a vida sorri dentro de mim quando faço um bolo que cresce e não murcha quando sai do forno. Me sinto viva quando Maria Antônia sobe à minha mesa de trabalho, criando uma barreira viva entre o computador e nós. Nessa hora sei que ela quer atenção e fazer um chamego na pequena me faz feliz! Foram tantas as formas que me vieram à mente... Acabei me esquecendo que até o momento de pegar o livro não estava feliz.

E você? Em que momentos sente a vida pulsar ?

*Isolda Risso é pedagoga por formação, coach, cronista, retratista do cotidiano, empresária, mãe, aprendiz da vida, viajante no tempo, um Ser em permanente evolução. Uma de suas fontes prediletas é a Arte. Desde muito cedo Isolda busca nos livros e na Filosofia um meio de entender a si, como forma de poder sentir-se mais à vontade na própria pele. Ela acredita que o Ser humano traz amarras milenares nas células e só por meio do conhecimento, iniciando pelo autoconhecimento, é possível transformar as amarras em andorinhas libertadoras.
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