O fotógrafo Rai Reis já habita solo cuiabano a tempo suficiente de ter autonomia para registrar e tornar conhecidas novas facetas da personalidade da cidade, especialmente, a urbana. E isso fica mais que provado na exposição que conta com 25 grandes bandeiras e que podem ser apreciadas até o dia 14 de abril na praça central do Goiabeiras Shopping. É “Cuiabá-na-Lente”, título da mostra.
“Me considero muito mais cuiabano que cacerense. Cheguei em 1976 e acompanhei a evolução de Cuiabá, das ruas de terra aos paralelepípedos. Minha avó morava na Marechal Deodoro, perto da Getúlio Vargas e a rua era precária, tanto é que meus tios colocavam cabo de vassouras nas ruas com cartazes com frases do tipo, ‘olha o buraco do Rodrigues Palma’”, relembra.
Rai remexe a memória e relembra como era difícil fazer telefonemas interurbanos. “Cuiabá era uma cidade esquecida, a gente tinha que fazer agendamento das ligações via telefonista da Embratel. O vídeotape das novelas chegava um dia depois”.
Mas vida noturna não deixava nada a desejar. “A cidade foi sempre agitada. Lembro bem do Bar Internacional”.
Tendo vivência da cidade, ele lançou novos olhares sobre ela e captou os melhores ângulos. Se antes se divertia enquanto menino, explorando a cidade de bicicleta, hoje ele anda ao léu. “Assim eu quebro a monotonia do estúdio”. Rai começou sua carreira como fotojornalista, depois migrou para a publicidade. Mais tarde, montou seu próprio estúdio, na rua Castelo Branco com Cândido Mariano.
Na exposição em cartaz no Goiabeiras Shopping ele vai “denunciando” artísticamente os fragmentos que formam a cidade. “Mas acredito que a identidade de Cuiabá – apesar de esquecido – é mesmo o Rio Cuiabá. A meu ver, um cordão umbelical”. O rio está entre os temas explorados pela mostra. Tem ainda religiosidade, culinária e arquitetura, entre outros.
O próximo passo é realizar o sonho de um livro com suas fotografias, mas que constantemente é adiado. “O projeto foi aprovado pela Lei Rouanet no ano passado, mas não consegui captar até hoje. Os empresários têm visão limitada, não querem investir, não conseguem notar que Cuiabá está carente de produções culturais sobre a cidade”. Rai está certo. Ainda há poucos catálogos de fotografias de arte de autoria de artistas do Estado. E no caso da Rouanet, empresários direcionam o pagamento de impostos para o custeio de obras de arte. O nome da empresa ficaria quase que eternizado em um objeto de arte, como neste caso, um livro.