Olhar Conceito

Quinta-feira, 28 de março de 2024

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entrevista exclusiva

Sistema de Museus, editais do audiovisual e mais: Confira segunda parte da entrevista com Leandro Carvalho

Foto: Rogério Florentino Pereira / Olhar Direto

Leandro Carvalho

Leandro Carvalho

Neste final de ano, o Olhar Conceito fez uma entrevista extensa com o Secretário de Cultura Leandro Carvalho. Leandro fez um balanço sobre os dois anos de gestão, comentou os principais programas, as dificuldades, e falou ainda sobre os planos para os próximos anos. Neste domingo, e nos próximos dois, você confere na íntegra o bate-papo.

Na segunda parte, relatada abaixo e publicada neste domingo (25), o secretário fala sobre a relação com o novo Ministro da Cultura, sobre o Sistema Estadual de Museus, sobre as novas funções dos Conselheiros e sobre os projetos da reforma da Biblioteca Estevão de Mendonça e do centro de cultura no 44° Batalhão. 

Leia a primeira parte da entrevista:

Muito além do 'Vem pra Arena': Em entrevista exclusiva, Leandro Carvalho faz balanço da gestão e comemora resultados

Olhar Conceito –
Algum projeto vai ficar mais difícil de realizar, agora, depois da saída do Ministro da Cultura?

Leandro Carvalho
– Agora nós vamos ter que reconstruir. E isso eu posso falar também como presidente do Fórum de Secretários, que eu sou. Então isso pra mim é um recomeço. A gente não sabe como vão ficar os secretários, se serão trocados, mas é sempre um recomeço. Toda troca de ministro, de secretário de Estado, muda-se equipes, muda-se conceitos, e nós estávamos construindo uma ótima relação tanto com o ministro quanto com o secretariado. Mas essa semana nós lançamos dois projetos em parceria com o Ministério, que já estavam encaminhados: uma nova Rede de Pontos de Cultura, e hoje de manhã (01/12), junto com o governador, nós recebemos uma visita do presidente do Ibram, o Instituto Brasileiro de Museus, o Marcelo Araújo, que é o ex-secretário de cultura de São Paulo, e lançamos o Sistema Estadual de Museus, um sonho também antigo. É mais uma iniciativa de política pública estruturante. São coisas que vão ficar pras próximas gerações. Eu costumo repetir, assim como o governador, que não estamos pensando nas próximas eleições. Eu não sou candidato a nada, sou candidato a fazer um bom trabalho. Então quando você trabalha pra fazer um Sistema de Museus, você está pensando em integrar os 60 museus que existem em Mato Grosso, você está pensando em capacitar, em otimizar, você está pensando em investimentos, em criar reservas técnicas unificadas, enfim, tudo aquilo que compõe esse conceito do sistema.

OC – Como funciona esse sistema?

Leandro – Ele passa por várias etapas. Atualização do cadastro, visitas in loco... O ano que vem, no primeiro semestre, vamos fazer o Encontro de Museus de Mato Grosso. As pessoas nunca sentaram na mesma mesa, elas não se conhecem. A gente mesmo não sabe onde estão esses museus, o que são, o que fazem. O que eles precisam? Tem reserva técnica? Precisam ser qualificados? Como a gente pode tornar os museus de Mato Grosso mais interessantes? Como a gente pode criar uma Rota de Exposições, por exemplo, ou Rotas Temáticas? Enfim, mil coisas que a gente pode pensar desde que a gente se encontre, se conheça, e ainda não existe isso.

Como coincidiu a finalização dos contratos do Museu de Arte, Museu Histórico, Museu de Arte Sacra, de História Natural – que nós criamos juntamente com o Memorial Rondon e Galeria Lavapés, tudo isso no mesmo pacote – a gente publicou a Consulta Pública para o novo modelo, concluímos o trabalho recentemente, e agora estamos consolidando as informações para publicar o chamamento público para todos os museus. A gente repensou todo o modo de funcionamento, o museu não como um local escuro, sombrio, feio, empoeirado, só com coisa velha, nada disso. O museu como um lugar vivo o museu como um centro cultural, uma instituição promotora de ações, de encontros, local pras crianças refletirem, pensarem, como um local vivo.

OC – E esse sistema, mesmo sendo em parceria com o Ministério, não teve nenhum problema?


Leandro - Não teve porque o presidente do Ibram continua, o Ibram como uma filiada ao ministério. E quando a gente pensa em política pública estruturante, eu falei agora há pouco, no começo de 2016 houve a aprovação e a sanção da Lei do Sistema Estadual. A criação dos sub-sistemas, dos sistemas abaixo, é uma consequência dessa política macro. A gente tem sistema nacional, sistema estadual, e dentro do conselho do sistema estadual, o sistema de bibliotecas, sistemas de museus, os outros sistemas. Então a gente está avançando na estruturação de uma política pública. Aí você tem conselhos de representação, representantes regionais, etc. Aí nessa mesma perspectiva de construção de políticas públicas, democráticas, com amplo diálogo, construídas com a participação social, a gente tem o novo Conselho de Políticas Culturais de Mato Grosso.

Então em breve a gente vai colocar pra consulta pública para o novo Regimento Eleitoral, pra justamente, mais uma vez, construir com a sociedade pra eleição do novo conselho. Serão representantes de todo o estado, de todas as regiões de desenvolvimento. E no Conselho, e isso eu também acho um grande avanço dessa gestão, os conselheiros tem o papel nobilíssimo de pensar as políticas públicas, não mais de apoiar projetos, que isso é que gerou aquela operação, chama Alexandria. Houve um sistema de corrupção dentro do Conselho, que resultou na prisão de conselheiros. Hoje quem analisa os projetos dos editais são pareceristas independentes, contratados pra isso. Há um cadastramento de pareceristas, no Brasil inteiro o pessoal manda currículo, são especialistas em cada área.

OC – E eles são contratados como funcionários só pra isso?

Leandro - Eles são contratados por análise de projeto. Aí eles fazem o parecer por escrito, e aí cada um, cada proponente, recebe um parecer. Porque quando você não é aprovado, o que você pergunta? “Porque”. E aí está aqui, três pareceres. E está aqui o currículo de quem fez seu parecer. Então quem teve as notas mais altas, são os que são selecionados. Aí o que a gente faz, a gente acompanha a execução do projeto. Vocês viram, por exemplo, o Circula MT. A gente vai lá, a gente está em todos, todo mundo faz foto e vídeo. A pessoa sabe que ela tem que fazer, e tem que fazer bem, porque está toda a sociedade e a Secretaria olhando.

OC – No prêmio de literatura é a mesma coisa?

Leandro - Mesma coisa. E ainda com um adicional de pseudônimo. O envelope vem com a obra, e fechado, sem o nome da pessoa. O parecerista não sabe quem é, só recebe o texto. Ele vai ler e vai dar nota em cima do mérito literário. Aí eles se reúnem e fica-se sabendo quem é, é tudo transparente. Isso é um grande avanço.

OC – Antes não era assim?

Leandro -
Não, antes eram os conselheiros. (...) Hoje os conselheiros trazem a voz de sua região, eles ajudam a criar o edital, criar política. Mas o projeto não, o projeto é mérito. Porque se não o cara quer o projeto ou da região, ou do amigo. Essa mudança é muito grande, e o resultado é a qualidade dos projetos. (...) Foi muito ruim pela cultura em si, mas ficou claro para a sociedade que esse modelo já não funcionava, em função da operação, do esquema de corrupção que existia ali. Então a gente começou essa gestão com essa questão resolvida: temos que mudar a Lei do Conselho, temos que mudar a Lei do Fundo, temos que criar um Sistema e temos que aplicar o Plano. Então a gente começou com um rumo muito definido, e isso foi muito importante, porque se fosse hoje, por exemplo, talvez a gente não conseguiria. Existiu um ambiente naquele momento.

OC – Porque hoje não conseguiria?

Leandro -
Porque a crise se agravou. E 2015 foi um ano melhor que 2016. Hoje estamos com dificuldade de pagar salário de servidor, isso é público e notório, sai todo dia na imprensa, o governador vai todo dia pra Brasília. E talvez nós não conseguiríamos tanta agilidade. E a pauta, a agenda do próprio parlamento mudou. Esse ano foi um ano de eleição, um ano politicamente muito carregado. Então foi muito bom que a gente começou com essa pauta, fizemos a consulta pública, fechamos o projeto, consolidamos, foi pra Casa Civil, Assembleia, em janeiro aprovou, em março o Governo sancionou, pronto. É um marco regulatório incrível. E agora nós temos outras leis em andamento: a Lei do Programa Cultura Viva, e a revisão de toda a Lei do Patrimônio Histórico, dos processos de tombamento e registro.

OC – Quais são essas leis?


Leandro - Existe uma Lei Federal 3018 que estabelece o Programa Cultura Viva, e a gente vai agora fazer a estadual, que estabelece ajustes de acordo com a nossa realidade. E a Lei do Patrimônio Histórico é a revisão de todo o procedimento de tombamento e registro do Patrimônio Histórico material e imaterial. A nossa Lei de Mato Grosso é muito defasada, é muito antiga, totalmente ou muito inadequada para os dias de hoje. A gente viu a importância de ter uma legislação sólida com esse caso agora do ministro, do Iphan. Você tem que ter regras claras pra defesa do Patrimônio Histórico, então é preciso modernizar essa Lei. Ela já foi submetida a consulta pública esse ano, fechamos, mas nós ainda não tivemos a resposta do Iphan, e nós só poderemos avançar com uma resposta mais aprofundada.

OC – Por quê?

Leandro - Nós temos uma minuta, e a gente quer saber o que a gente pode melhorar nessa minuta. E a gente gostaria que o Iphan se manifestasse. Nós já enviamos pro Iphan e estamos aguardando a resposta formal.

OC – E aquele projeto que vocês tinham de transformar o Batalhão num centro de cultura, como está?

Leandro – Nós vamos visitar o ministro Raul Jungmann, novo ministro da defesa, e vamos insistir. O processo parou, porque mudou o ministro pós-impeachment. (...) O projeto que nós apresentamos quando estivemos anteriormente foi o “Portal do Pantanal”, que o Niemeyer deixou pronto. É um projeto muito bonito, e é uma possibilidade que nós gostaríamos de fazer. (...) O importante é transformar a área numa área de utilização pública. Ali é uma área militar, reservada, fechada, e por estar em um local muito central, a cidade cresceu no entorno, nós gostaríamos que ali fosse o Museu da Guerra do Paraguai, uma área de preservação, cinema, teatro. Um parque cultural. Onde as pessoas possam fazer caminhadas, pode ter um restaurante ali, enfim, tem mil possibilidades.

OC – Mas o panorama é bom, ou não tem como ter noção ainda?

Leandro - Eu acho que é favorável. O exército tem essa mesma compreensão. Nós precisamos agora só buscar um caminho de operacionalização da ideia. Eu to bastante otimista, o governador também, é um dos nossos sonhos, a gente sonha muito.

OC – Mas isso seria bem pra frente, ou não?

Leandro - Acho que sim, mais pra frente. Talvez até 2018 a gente consiga consolidar a documentação. Eu imaginaria que, na melhor das hipóteses, a gente teria uma primeira etapa, talvez a parte tombada. Mas como é muito ambiciosa a ideia, envolveria a construção de um novo batalhão. Pro exército sair dali nós precisaríamos construir um novo Batalhão, e daí a justificativa de que ele seria moderno, dentro daquilo que o exército tem como parâmetro. Ali [44° Batalhão] é uma estrutura antiquíssima, o exército também precisa de um espaço mais moderno, que seria construído pro 44 todo sair, pra depois toda aquela área ser utilizada como Parque Cultural.

OC – E às vezes não seria interessante fazer uma parceria público privada ali?

Leandro - Se falou nessa possibilidade, mas ali é como abrir a Caixa de Pandora. O interesse imobiliário ali é naturalmente brutal e é uma área muito nobre pra ser explorada por poucos. Na minha visão a área toda deveria ser de utilização pública. Pode até ser que hoje a gente fale, ah, ela é muito extensa, mas daqui a 50 anos ela não vai ser. Daqui a cem anos a cidade de Cuiabá vai ser tão grande, vai virar uma metrópole Cuiabá e Várzea Grande, hoje a gente ta falando de um milhão de habitantes, daqui a 50, 100 anos, quantos habitantes? Então ali é uma área muito valiosa, que não tem mais. É o que resta dessa área central de preservação. Então eu acho que a área deveria até ser expandida mesmo, o que der pra usar como área de natureza tem que ser utilizado. Não cabe construir prédio, a gente acredita muito nisso.

OC – Mas é apenas um sonho?

Leandro - É um sonho, mas a gente também tem que ter sonhos. Hoje também nós entregamos o projeto de reforma da Biblioteca Estevão de Mendonça. E aí também na área de bibliotecas terá toda uma reestruturação conceitual. Biblioteca também como um lugar vivo, como um lugar onde você tem a revista do dia, o jornal do dia, você tem tablets, tem computador, tem um lugar gostoso pra deitar, tem um café funcionando, tem os livros do lançamento da semana, não só aqueles livros antigos, os Best-sellers estão ali também, além de todo o acervo da Estevão de Mendonça e do acervo da Academia [Mato-grossense de Letras] e do Instituto Histórico e Geográfico. Então você combina tradição, nosso passado riquíssimo, com a modernidade, o futuro. Vai ter espaço pra ciançada brincar, espaço de contação de histórias, de livros, de lançamentos.

A Biblioteca Estevão de Mendonça já tem a sala Mato Grosso, toda voltada pra produção estadual, você tem uma produção muito grande pra deficientes visuais, vai ter a ampliação do acervo em braile. E a gente quer continuar. Tudo que a biblioteca já faz de positivo a gente quer fortalecer e ampliar num espaço agradável.

OC – Mas o projeto já foi aprovado? Já vai começar?

Leandro - Hoje foi entregue, concluído, e a gente ficou sabendo quanto custa pra fazer a obra.

OC – E quanto é?

Leandro – Custa 9 milhões. Então como é que a gente faz com 9 milhões? Vamos buscar parcerias? Vamos buscar apoios? Como é que esse valor pode ser aplicado ao longo do tempo? Então isso está sendo objeto de discussão interna do próprio governador, nossa.

OC – Então não é algo certo? É apenas uma ideia?

Leandro – Sim, mas a gente quer fazer até o final do governo, até 2018. É uma obra de pelo menos um ano, aí tem todo o tempo da licitação e mais um ano de obra, então, nos próximos um ou dois meses talvez a gente já tenha que ter uma resposta.

OC – Você disse que não é candidato a nada. Mas não tem nenhuma ambição política?

Leandro – Não. Quando acabar posso continuar como gestor da cultura, ou no âmbito público ou no âmbito privado, porque realmente a experiência, o aprendizado que eu estou tendo é gigante. Eu posso usar esse conhecimento, que eu estou tendo a cada dia, continuar usando isso na gestão pública ou na gestão privada, mas nesse sentido que eu pretendo continuar. Pretendo continuar regendo, com minha vida como músico, mas continuar também como eu sempre fui gestor, ou de OSCIPS, ou de OESPS, mas não tenho nenhuma pretensão de ter algum cargo eleitoral.

OC – A Orquestra acabou de lançar um álbum. Como você enxerga esse momento da Orquestra?

Leandro – É um trabalho muito sólido, de muitos anos. São onze, doze anos de trabalho, mais de setecentos concertos, é muito impressionante. Cento e trinta cidades, todas as capitais, quase trinta cidades só em Mato Grosso, e no Brasil inteiro, então é uma Orquestra tida realmente como uma das mais importantes no Brasil. E isso só me orgulha.

Eu fui convidado pra ser secretário em função do trabalho com a Orquestra. Foi isso que me qualificou pra gerir a Secretaria. Eu sinto pela minha falta de tempo pra reger, pra ensaiar, porque eu tive que me afastar tanto da Orquestra como de outras Orquestras, de outros convites, dentro e fora do Brasil. Eu tive que reduzir muito. Mas eu aceitei [o convite para ser Secretário] já sabendo que teria que diminuir. Então eu regi muito pouco esse ano. Nós fizemos [os Concertos] Didáticos, não fizemos turnê esse ano. A Secretaria é demandada pelo interior, pra concertos no interior, as pessoas no interior pedem muito a Orquestra, porque a Orquestra passou onze anos fazendo turnês e de repente fica um ano sem a Orquestra ir pro interior. Este ano a Orquestra foi só pra Diamantino. Então é uma demanda que precisa ser atendida, mas a intenção é essa. Concluir o trabalho e voltar.

OC – Tem mais alguma coisa que você queira abordar?

Leandro - Eu queria falar do audiovisual. A gente tem uma preocupação muito grande com o audiovisual, a gente conseguiu esse ano lançar o edital de produção, no valor de quatro milhões e meio, e isso foi um grande avanço, e o edital de desenvolvimento de roteiros, de mais 500 mil. Já consolidou um avanço muito grande. Esses prêmios não foram pagos ainda, e não foram pagos justamente pelo momento difícil financeiro que estamos vivendo. Nós estamos lutando pra quitar essas pendências o quanto antes.

OC – E tem ideia de quando vai ser?

Leandro - Não temos. Nós estamos dependendo dos repasses da União. O governador tem lutado. Todo dia sai que depende do FEX, depende da Repatriação dos Recursos, isso que vai equalizar as contas do Estado, então a gente está nesse contexto também.
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