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Quinta-feira, 18 de abril de 2024

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Minhocão do Pari, Negrinho D'Água, Procissão das Almas: Conheça as 'lendas urbanas' de Cuiabá

Foto: Olhar Conceito

Moisés Martins

Moisés Martins



Toda cidade tem suas lendas. Algumas são mais conhecidas, outras já se perderam com o passar dos anos. Cuiabá ainda mantém as suas, seja passando-as de pai para filho, ou por meio das pesquisas históricas.

Um desses pesquisadores é o historiador Moisés Mendes Martins Junior. Em seu livro “Revendo e Reciclando a Cultura Cuiabana”, ele, que é natural de Campo Grande e é um dos imortais da Academia Mato-Grossense de Letras (AML), contou algumas dessas histórias.

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“Quando você pega o dicionário, por exemplo, o Houaiss, você vê lá que lenda é uma ficção, uma coisa ideária. Não é uma coisa real. E o povo se deixa levar muito por isso”, comentou o historiador.

Ainda segundo Moisés, as lendas se perdem com o passar dos anos, principalmente com o aumento dos estudos pela população. Aos poucos, elas deixam de ser verdade, mas passam a ser valorizadas como parte da cultura de um local.

Conheça algumas das lendas:

Procissão das Almas



“Conta a história que tinha uma moça que vivia de briga com a mãe e era muito curiosa. E uma noite ela ficou na janela e viu uma procissão, um monte de gente passando. Uma delas encostou na janela e entregou pra ela uma vela acesa. Aí, ela deixou a vela em cima da mesa e foi dormir. No outro dia de manhã já não era uma vela, era uma tíbia de cadáver”, conta.

A partir disso, a garota com medo ouviu de sua mãe: “Pra paga os seus pecados de novidadeira”. Depois, a moça passou a “engrossar a fila da procissão”.

Minhocão do Pari



“O ‘Minhocão do Pari’ diziam que era uma cobra com cabeça grande, que laçava os canoeiros na beira do rio e afundava”, lembra o historiador.  Apesar de ser uma lenda, Moisés conta que existiam algumas características reais, que podem ter influenciado para o nascimento da história.

“No pari mesmo tinha uma coisa que era real. No fundo do rio tinha uma espécie de enxofre, que quando a lua aparecia, a luz da lua batia naquela substância química que tinha lá no fundo e subia borbulhando até o nível da água”. Além disso, o fator do amedrontamento também teve influência: o medo do minhocão afastava, por exemplo, as crianças dos rios.

Curupira

Esta lenda, diferente do folclórico ‘curupira’ que tinha os pés para trás, é, na verdade, de uma índia homônima.
Conta a história que os moradores de Outeiro de Nossa Senhora do Rosário sempre lembram que havia um poço em que os negros escavavam em busca de uma alavanca de ouro. Um dia, eles foram surpreendidos por uma índia, curupira, que lhes pediu água.

Ao contrário de seus colegas, um dos negros decidiu ajudá-la e a levou à região da Prainha para beber. Ela agradeceu e disse que ele voltasse ao trabalho, pois teria mais prosperidade que todos os seus colegas, e para ficar atento, pois quando ouvisse cantar a ‘Anhuma’ seria um aviso para que ele saísse do poço com pressa.

Ele voltou, trabalhou como antes e não se cansou, e recolheu mais ouro do que os outros. Por fim, ouviu o cantar da ‘Anhuma’ e a terra caiu. O negro conseguiu se salvar. Anos depois, foi encontrada no poço a moeda de dois vinténs que Curupira havia jogado lá. Vale lembrar que esta é uma versão da lenda da ‘Alavanca de Ouro’.

Alavanca de ouro

“A lenda que, na época em que Cuiabá tinha muito potencial de ouro, estavam escavando na Igreja do Rosário e um negro descobriu uma alavanca, que cada vez que mexia ela afundava mais. Uma alavanca de ouro”, conta Moisés.

Enquanto eles trabalhavam, chegou um velho e pediu água. Mais uma vez, um dos negros negou, enquanto o outro saiu do buraco e foi atendê-lo. Segundo a história, este velho era Jesus Cristo.

“Ele falou pro negro: olha, você foi muito solidário comigo. Então vou te dizer uma coisa, quando você ouvir o barulho da terra, sai de dentro do buraco, porque ele vai cair e vai soterrar todo mundo. E foi o que aconteceu, e ele conseguiu sair, mas a alavanca ficou, de acordo com o narrar do Dom Francisco de Aquino Corrêa”, lembra o historiador.

Negrinho D’Água



Negrinho D’Água é mais uma das lendas que se assemelham aos folclores nacionais. Conta a história que o negrinho apareceu para um guarda que mantinha a vigilância junto a um poço de atracação, durante a revolução civil de 1906, em Cuiabá.

Enquanto o caboclo vigiava o poço, a água se estremeceu e surgiu um menino muito feio que lhe pediu o chapéu. Ele não quis dar, mas o menino lhe tomou e depois sumiu dentro do rio. Segundo a história, ele era um “menino arteiro, fazedor de daninhezas”, assim como o Saci Pererê.
 
“Todo povo tem seus tipos populares, suas lendas, Cuiabá também têm. E essas lendas eu encontrei em uma vasta pesquisa que fiz de arquivos da cidade”, finaliza Moisés. 
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