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Sexta-feira, 29 de março de 2024

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Prática ganha público e mostra que não é "só para marinheiros e prostitutas"

Prática ganha público e mostra que não é
Uma haste banhada de nanquim e um martelo foram os materiais usados nas primeiras tatuagens, lá em meados do século 17. Devido ao som dos equipamentos se chocando contra a pele, a prática realizada pela tribo de aborígines Maori foi denominada “tatau”. O processo era tão doloroso, que não raro os guerreiros sobreviviam à guerra e morriam durante a tatuagem. De lá pra cá algumas coisas mudaram: os ocidentais se apropriaram da prática e a propagaram pelo mundo, houve a profissionalização do processo e a dor deixou de ser letal.

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Os marinheiros e piratas foram os primeiros ocidentais a aderirem à tatuagem, e deles também é a responsabilidade pela popularização da prática. Como viajavam por toda parte, se apropriaram do costume dos polinésios e espalharam para o resto do mundo. Prostitutas, presidiários, soldados e aqueles que viviam socialmente à margem vieram em seguida. É nesta época que a tatuagem ganha sua aura de marginalidade e estigma.

As primeiras mulheres ocidentais tatuadas surgiram no início do século passado. Elas eram atrações de circos e, para incrementar o show inseriam histórias fabulosas, como ter sido aprisionada por uma tribo aborígine e tatuada durante quatro dias inteiros. O que demonstra não só referência à origem da prática, como a imagem exótica e estigmatizada na época.



Nos anos 90 ocorre o processo de profissionalização da tatuagem no Brasil, incorporando qualidade artística e procedimentos higiênicos à prática. Neste período são abertos estúdios com toda a parafernália instrumental, materiais descartáveis, catálogos etc. Duas figuras se modificaram bastante desta época até agora: o tatuador e o tatuado.

Segundo a antropóloga Andrea Pérez, o público adepto da tatuagem atualmente se divide em três: “os de 'detalhe', que usam tatuagens pequenas e discretas, tidas como complementos ou acessórios, uma coisa que não tem um peso nem um comprometimento muito grande; os 'radicais', que tendem a tatuar todo o corpo, inclusive aquelas partes consideradas tabus, como o rosto, as mãos e os antebraços e, além disso, praticam outros tipos de modificações corporais bastante extremas, como implantes e escarificação; e os 'tatuados', aqueles que, embora tenham grandes áreas corporais cobertas por desenhos, diferenciam-se dos anteriores por não levarem ao extremo as modificações corporais, mantendo, em conseqüência, formas de discrição em seu entorno social”.

Além desta definição, a razão pessoal da tatuagem é tão diversa quanto seu público, serve como opção estética, motivacional, lembrança de uma etapa da vida, de alguém, e muitos outros. Para Sampaio, que tem 70% do corpo tatuado, é uma terapia “Se deixar por mim, todo mês eu faço alguma tatuagem. Na verdade, sinto falta. O que eu sinto? Quando acaba, é a maior felicidade do mundo. Eu considero a tatuagem uma terapia, algo que faz bem, porque enquanto você está sendo tatuado, você se esquece do mundo”.



A antropóloga explica a hibridação que sofre a figura do tatuador entre médico, sacerdote e artista. Enquanto médico há os cuidados higiênicos com esterilização, preparação do estúdio, depilação da área a ser tatuada e até o local, que na maioria das vezes é clean e com uma espécie de maca para o cliente se sentar. A função de sacerdote, de certa forma remete à origem, já que nas tribos Maori, era função dele marcar no corpo dos guerreiros suas vitórias e importantes etapas da vida. Mas não só por conta da história, e sim pelo seu papel de intermediar a pessoa e o seu eu interior na busca de significação do desenho que planeja tatuar. E como artista, sua habilidade técnica para transformar essa significação em algo esteticamente agradável.

No entanto, mesmo que ver alguém tatuado atualmente seja tão chocante quanto alguém de minissaia, a estrutura oficial e burocrática não acompanhou o processo. Ainda hoje em formulários de saúde a tatuagem é encaixada como doença de pele e pessoas com tatuagens com menos de 1 ano não podem doar sangue.

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