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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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Psicólogo do 'Hip Hop Combate às Drogas' alerta que a dependência química é um sintoma social

Foto: Rogério Florentino Pereira / Olhar Direto

Demolição da Ilha da Banana levantou questionamentos

Demolição da Ilha da Banana levantou questionamentos

Tratar a dependência química como um sintoma social. Esta é a solução para o problema e será, também, o tema da palestra do psicólogo Douglas da Costa, 28, durante o evento ‘Hip Hop Combate às Drogas’, que acontece no próximo dia 30 de junho, sexta-feira, na Orla do Porto.

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Organizada pelo coletivo ‘Hip Hop em ação’, esta é a terceira edição do encontro, que tem por objetivo levar alegria e entretenimento aos dependentes químicos, e oferecer uma mão amiga àqueles que não conseguem sair do vício.
 
Além da palestra do psicólogo, se apresentam no local os rappers DJ Taba, Conduta do Gueto, Karla Vecchia, Luciano Controvérsia, Dejanine, Valéria Rocha, além da poetisa (e imortal da Academia Mato-Grossense de Letras) Luciene Carvalho e do Mestre de Cerimônias Mano Raul, que idealiza o evento desde o início, em 2015.


Mano Raul (Foto: Reprodução)

Para Douglas, é necessário chamar a atenção das políticas públicas, e enxergar a dependência como doença que é, e não apenas colocar os dependentes na posição de incômodos à sociedade. Ao Olhar Conceito, ele deu uma breve entrevista sobre sua experiência e sobre o que será abordado no evento do dia 30.


Douglas da Costa (Foto: Arquivo Pessoal)

Leia a íntegra:

Olhar Conceito - Há quanto tempo você trabalha com combate às drogas?
 

Douglas - Há seis anos. Trabalho não com combate às drogas, até por que quem tem que combater é a segurança pública. Eu trabalho com pessoas que adoecem no uso de substâncias psicoativas, sejam elas lícitas ou ilícitas. 
 
OC - O que o uso de drogas tem, ou pode ter, a ver com traumas psicológicos?
 

D - O uso de drogas é um meio de saída (válvula de escape) disfuncional para situações sociais traumáticas que a vida em sociedade pode oferecer, tais como pouco investimento e incentivo na educação, famílias extremamente protetoras ou extremamente agressivas e abusadoras, o preconceito racial, o preconceito à sexualidade, a falta de regras e limites, a vulnerabilidade social ao crime. Todos estes fatores sociais são incentivos que podem favorecer o desenvolvimento da dependência química. 
 
OC - O que você vai abordar na palestra no dia do evento?

D -
A dependência química como um sintoma social. 
 
OC - Você sempre faz palestras com esse intuito?


D - Sim, acredito muito que a informação é importante. 
 
OC -  Quais são os maiores questionamentos de quem é dependente químico?

D - Qual é o seu lugar no mundo.  Uma vez dependente químico, para ele, pesa retornar à sociedade, enfraquece os valores morais por uma contraposição social que o coloca como incapaz socialmente. 
 
OC -  Na sua opinião, qual a solução para esse problema?

D - Haver mais interesse político em relação ao próprio dependente químico e não ver o problema como algo apenas a ser eliminado. 
 
OC - Vemos uma ação do governo, tanto em SP na cracolândia, quanto aqui, na Ilha da Banana, de destruir os locais onde esses dependentes vivem ou estão. Você acha essa uma técnica correta? Por quê?
 
D - Não. Este é apenas um movimento de higienização social, de jogar a sujeira pra debaixo do tapete. Hoje estamos sob o fio de uma navalha na questão do dependente químico. Se mandar para o CAPS [Centro de Atenção Psicossocial], temos apenas serviços burocratizantes, ideologizados. Defendem mais a bandeira de que estão fazendo o melhor e o certo do que dão atenção eficaz ao dependente químico. Sem alcance de eficácia social.
 
Por outro lado, instituições participantes desse movimento - na ilha da banana - são instituições sem formação técnica que estão mais a fim de defender uma bandeira social, a religiosidade, do que tratar a dependência química.  Ou seja, continuamos "a fazer história pra inglês ver", ações sem resolutividade alguma.


Foto tirada no dia da demolição da Ilha da Banana (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto) 

A Ilha da Banana não é um problema de hoje. O incômodo não é a pessoa humana do dependente químico. O incômodo é ter um povo esfarrapado perambulando pelo centro de Cuiabá, em plena festividade da Festa de São Benedito, que este ano retoma algumas tradições. O incômodo é a questão estética da urbanidade em pleno 300 anos de Cuiabá. 
 
OC - Como ampliar o acesso dos dependentes químicos ao tratamento psicológico, se muitos deles não têm recursos financeiros?
 

D - Não podemos perder de vista que dependência química é uma doença registrada no Código internacional das Doenças (CID) e no Código internacional da Doenças Mentais. Se não há prevenção, temos menos trabalhadores, maior população carcerária, outras doenças decorrentes do uso de substâncias psicoativas, acidentes de trânsito, aposentadorias por invalidez... Ou seja, precisa prevenir, investir em ações de prevenção através de estudos e pesquisas específicas, atuar junto à problemática utilizando todos os recursos de saúde de forma articulada - quando digo todos os recursos, digo tanto a iniciativa pública quanto a privada - e lutarmos pelo direito ao tratamento.
 
Assim como no Brasil somos referência em tratamento público do HIV, por que não podemos ser referência em tratamento da dependência química? Enfim... precisamos de investimento em prevenção e precisamos de trabalho efetivo no âmbito de tratamento, tanto da iniciativa pública quanto da iniciativa privada. 
 
OC - Tem algo a acrescentar sobre o assunto?

D - Acredito que precisamos mudar o discurso. Dependência química não é delinquência, não é imoralidade, não é bandidismo. Dependência química é doença, e temos hoje em Cuiabá um número visível de pessoas doentes circulando pela rua. Isso é grave. Precisamos pensar quais os recursos de cuidados biológicos, psicológicos, sociais e espirituais precisamos dar a essas pessoas. 
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