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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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proteção das funções renais

Médicos do Hospital Santa Rosa apresentam estudo em congresso sobre urologia nos EUA

Foto: Da Assessoria

Médicos do Hospital Santa Rosa apresentam estudo em congresso sobre urologia nos EUA
Um estudo que revelou que o pré-condicionamento isquêmico (IPC) pode proteger as funções renais em transplantes ou cirurgias oncológicas (com retirada parcial do órgão), feito por pesquisadores mato-grossenses, foi apresentado no Congresso Anual da Associação Americana de Urologia, Educação e Pesquisa (AUA), que aconteceu neste ano, em Boston, nos Estados Unidos.

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A PCI é uma espécie de treinamento de interrupção de fluxo sanguíneo, para que se evite problemas durante a cirurgia. Valter Torezan, médico urologista do Hospital Santa Rosa, foi um dos responsáveis pela pesquisa, e explica que muitas cirurgias envolvendo os rins exigem o “clampeamento” (o bloqueio) da artéria e da veia para evitar sangramentos durante o procedimento – como é o caso, por exemplo, da Nefrectomia Parcial, em que há a necessidade de ressecção tumoral. Contudo, o cirurgião precisa ter expertise e rapidez para reconstruir o órgão em um período máximo de 25 a 30 minutos.   
 
“Esse é o prazo ideal para a manipulação segura do rim ‘clampeado’ de modo que evite perda de função. Ao buscar novos métodos, desenvolvemos a aplicação da técnica de PCI que, em nosso estudo, consistiu em fazer três breves períodos de isquemia (de 3 a 5 minutos) anteriormente ao período mais longo, que passou a alcançar 45 minutos com uma hora de reperfusão (processo de liberação do fluxo sanguíneo)”, explica.
 
Esta descoberta dos médicos diminuiu os riscos de lesão dos tecidos e evitou a perda futura do enxerto ou a necessidade de hemodiálise. O estudo foi um dos 60 selecionados entre trabalhos de todos os lugares do mundo para apresentação na sessão de “Transplantes” do evento.
 
O estudo foi realizado em parceria com o curso de química da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e auxílio da professora Nair Honda. Nele, três grupos de ratos foram divididos para verificar os possíveis benefícios da prática – sendo um sem nenhuma intervenção prévia e “clampeamento”; e outros dois com “clapeamento”, mas um com pré-condicionamento.
 
“Percebemos que os resultados daqueles que não tiveram o ‘treinamento’ prévio não foram tão satisfatórios quanto aqueles que tiveram – que, por sua vez, se assemelharam aos resultados daqueles que não tiveram o órgão ‘clampeado’. O pré-condicionamento preparou-os de forma satisfatória ao período mais prolongado de isquemia. Não houve diminuições renais, nem lesão. Isto, se comparado com esse grupo sem ‘clampeamento’ intermitente”, ressalta Valter.
 
Segundo o urologista, o processo se assemelha a um pré-condicionamento físico praticado por um atleta antes de uma competição. “Imagine: você quer correr uma ‘Corrida de Reis’, mas vai sem treinar. Já, outra pessoa, treina bastante e participa da mesma atividade. Resultado: ela irá sofrer menos. Na medicina, não é diferente. Aliás, na vanguarda desse procedimento está a cirurgia cardíaca, que já pesquisa o pré-condicionamento isquêmico há mais tempo”, comenta.  
 
De acordo com a assessoria, sete mil novos casos de câncer no rim são diagnosticados no Brasil a cada ano, o que representa de 2 a 3 por cento das neoplastias malignas em adultos. Além disso, existem diversos tipos de câncer no rim, e as pessoas mais atingidas são os homens de 50 a 70 anos. A remoção cirúrgica é a principal solução.
 
“Cerca de 70% desses tumores são incidentais. Ou seja, você está com uma dor na barriga e, por acaso, faz um ultrassom. Nele, descobrem um tumor. Muitas vezes, ele nem tinha ligação com a dor. O aumento do número de exames que estão sendo pedidos atualmente fez com que esses tumores sejam descobertos ainda pequenos – com menos de 4 cm. Esta descoberta permite, na maioria das vezes, que se retire apenas o tumor, sem perda de função”, explica o urologista.   
 
Só em 2016, segundo a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), foram realizados no país 5512 transplantes renais. Mato Grosso, apesar de já ter sido habilitado para este procedimento, é um dos cinco estados que não o realizam, pois perdeu a autorização em 2009 e até o momento não conseguiu o aval do Ministério da Saúde para retomar as cirurgias.
 
O estudo dos mato-grossenses foi apresentado em um dos mais importantes congressos da área. “O Congresso Americano é um dos mais conceituados e criteriosos. Quando enviamos o trabalho, não tínhamos ideia se um estudo latino seria aceito. Associá-lo à área de transplantes é um dos nossos grandes motes. Nesses procedimentos, você tem um período para ‘clampear’, retirar o rim da pessoa – que está anestesiada em operação – e finalizar. Quanto maior o tempo de isquemia, maior o tempo de sair o órgão do doador para ser implantado no receptor”, comenta Valter.
 
Segundo o urologista, essa avaliação de tempo está associada à perda da função renal. Inclusive, neste período, por causa da interrupção do fluxo, pode ocorrer necrose em alguma parte do órgão e ele não conseguir desempenhar sua função primordial de filtrar – e, com isso, o paciente pode acabar perdendo esse enxerto (transplante) ou, em certos casos, perdendo a função do rim solitário.  
 “Em alguns casos, mesmo tirando o rim, o outro funciona bem. Já, em outros, que o paciente não tem ambos e opera, por exemplo, de um câncer, um tumor pequeno, e tiramos apenas um pedaço do rim, conseguindo manter 3/4 do órgão, um tempo muito grande de isquemia pode resultar na morte de parte do rim. Logo, se de alguma forma conseguirmos que esse órgão remanescente permaneça funcionando normal, o paciente não irá para hemodiálise”, contextualiza.
 
“Este trabalho é de extrema importância. Apesar de ter sido realizado em animais, ele tem essa visão de aplicabilidade na parte clínica. Inclusive, no Congresso, o estudo não foi apenas aceito, mas ganhou destaque com uma apresentação oral”, pondera o diretor médico do Hospital Santa Rosa e coordenador do Programa de Residência da Instituição, Cervantes Caporossi, parceiro no estudo.
 
Também participaram da pesquisa Rafael M. Assis, Maísa P. dos Santos Elias, Thiago R. Jaudy, Luiz F. L. A. Molina, Rafael D. R. do Amaral, Felipe de S. Bouret, Amanda M. Baviera, Damiana L. P. de Souza, João H. A. Cassaroti, Gabriel S. de Lima, Nicolle G. H. Seraphim, Thulio F. de Souza, Maikon A. Ticianel e Claudia B. de Lima.
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