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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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Festa de Nossa Senhora das Dores reaviva cultura cuiabana e resgata cururu e siriri

Foto: Lázaro Thor Borges

Festa de Nossa Senhora das Dores reaviva cultura cuiabana e resgata cururu e siriri
Antes das seis da manhã, os moradores do bairro São Francisco, em Cuiabá, são acordodados com o barulho dos fogos. “Ninguém dormiu essa noite, passamos a madrugada nos preparativos”, conta Adriano Corrêa, que integra o batalhão de ajudantes que permite que a festa de Nossa Senhora das Dores ocorra todo mês de setembro.  

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Com uma tradição de quase cem anos, as comemorações em homenagem a santa lembram um passado distante que permenece vivo na memória cuiabana. Por volta das seis horas, começa a missa. A igrejinha está lotada e um grupo de curueiros se alinha na porta da diocese. “Dizem que a palavra cururu vem da expressão, curuzu  que era como os índios chamavam a cruz na época dos jesuítas”, conta Tomás Flaviano, um dos entusiastas e organziadores da festa.

Thomás é formado em música pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e acumula as funções de cantor, professor de escola pública e curueiro. Apesar de graduado, ele admite que ainda falta muito para chegar aos pés dos mais velhos, mestres curuerios com décadas de conhecimento e cuiabania.

São justamente os mais velhos que puxam a procissão após o fim da missa. A cantoria se estende entre o dessassoego da viola de cocho e o chiado estridente do ganzá. A cada cinco ou seis metros de procissão uma pequena pausa: os curuerios improvisam versos em homenagem a santa, ao que os devotos aguardam pacientemente com as velas nas mãos. 

Mas não há pressa. Nossa Senhora das Dores está muito bem acomodada no andô, com rosas azuis ao redor de si. Tudo, aliás, é sensivelmente índigo: a roupa dos curueiros, as cortinas da entrada do galpão da festa, os lenços das carolas e os brincos e acessórios das moças mais vaidosas.

"A minha bisavó Balbina – que no modo cuiabano a gente chamava de vó Barbina – ganhou uma imagem de madeira de Nossa Senhora das Dores da irmã dela. Essa imagem hoje já tem mais de cem anos. E quando ela ganhou ela prometeu fazer a reza e a festa todo ano e assim nós seguimos a tradição”, conta Thomas sobre a origem do festejo. 

As comorações migraram junto da família de Thomas. A festa, que já foi realizada no bairro Dom Aquino, acontece agora na comunidade do Mangueiral, pequena vila familiar incrustrada no bairro São Francisco, próximo ao Tijucal. O nome explica o local: repleto de mangueiras, as casas fazem um círculo em volta de uma praça de chão queimado, onde a festa ocorre.

Na edição do último domingo (17), a festa de Nossa Senhora das Dores levou mais de trezentas pessoas ao Mangueiral. Depois da missa e do café da manhã servido gratuitamente, os curueiros cantaram por mais uma hora enquanto a carne estalava no fogo improvisado aos fundos da vila.

No final da oração, a comida é servida gratuitamente e os festeiros combram somente pela bebida. A festa se estende e um grupo de siriri formado por crianças de uma escola da região apresenta um pequeno show sob aplausos da plateia, na sombra das mangueiras.

“A gente espera que a tradição se estenda, por isso é importante ensinarmos para as crianças, a gente não quer que todos eles virem festeiros, mas que pelo menos reconheçam e saibam que essa cultura existe com a força que tem”, conta Thomas, também um dos instrutores do grupo de siririeiros. 
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