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Sexta-feira, 29 de março de 2024

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Após boicote, coletivo gay de MT lança nova série que aborda homofobia, HIV e intolerância

Foto: Olhar Conceito

Nadyne, Elton, Samuel (colo) e Renato são atores da série

Nadyne, Elton, Samuel (colo) e Renato são atores da série

Uma nova produção mato-grossense foi lançada há duas semanas nas redes sociais. ‘Minha Família’, uma websérie independente em dez capítulos, trata de temas polêmicos como a homofobia, a liberdade sexual da mulher, a intolerância religiosa e as doenças sexualmente transmissíveis, e é realizada pelo Coletivo Artístico Gay de Mato Grosso (Cagay – MT).

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Liderado por Elton Martins, 26, e Paulo Schorr, o coletivo foi criado inicialmente em 2015, para a produção de outra série, na época chamada de ‘Série de Lá’. Quando já estavam com todo o conteúdo gravado, e já tinham gasto R$5 mil, no entanto, eles foram boicotados.

“Caímos na besteira de divulgar os bastidores da série durante o processo. Aí a gente começou a ser atacado via rede social, e as pessoas encontraram nosso número de telefone pessoal e começaram a ligar pra ameaçar, só porque a gente estava fazendo uma série gay”, lembra Elton.

Além dos ataques aos atores, um editor – que trabalhava de forma voluntária – também recebeu ameaças, e se desvinculou do processo. O grupo, então, passou a procurar outra pessoa, desta vez para realizar um trabalho remunerado. “A gente começou a ligar pros editores que a gente conhecia aqui em Cuiabá. Todos não quiseram pegar, e o discurso era um só: a gente não sabe com quem vocês mexeram, a gente não pode pegar esse trabalho”.

Desanimados, os integrantes do coletivo se afastaram. Elton chegou, inclusive, a vender a câmera que tinha usado para filmar a série. Dois anos depois, no entanto, ingressou na MT Escola de Teatro e sentiu mais coragem para, de novo, colocar o coletivo de pé.

Minha Família

Do primeiro coletivo, ‘restaram’ somente Elton e Paulo Schorr. Mas não foi difícil encontrar outras pessoas para a empreitada. Um deles foi Renato Pereira da Silva, 22, que já tinha trabalhado com Elton no canal ‘Drag Boys’, no Youtube. Outra parceira que aceitou foi Nadyne Marques, 25. Ambos tem papeis essenciais na série.

Como já não tinham mais a câmera, o Coletivo decidiu que ‘Minha Família’, a série gravada em 2018, seria feita totalmente pelo celular, tanto as gravações quanto a edição (que Elton aprendeu também a fazer).

Outra mudança foi em relação à logística. “a série de 2015 era mais audaciosa. Tinha um núcleo que abordava a transfobia, um núcleo que abordava a questão da barriga solidária, outro núcleo abordava a questão da religiosidade, ai tinha outro que abordava a questão do namoro de travesti com gay... Era uma história bem complexa e grande, tanto é que o primeiro episódio estava cotado pra ter 30 minutos, e o segundo 35, o terceiro 40, e ia chegar a uma hora de episódio em determinado momento. A gente gravava em vários lugares de Cuiabá, totalmente distintos, como a Arena Pantanal, CPA, Osmar Cabral... era muito louco a logística, e era tudo do nosso bolso”, lembra Elton.

Desta vez, quase tudo foi gravado em um só lugar, de forma mais simples, para evitar prejuízo. A trilha sonora também é toda autoral, feita por artistas brasileiros. Minha Família’ conta a história de ‘Zé’, que após a morte de sua mãe, cuida de seus dois irmãos, Fatinha, de dezesseis anos, e Zézinho, de oito.

Os conflitos principais acontecem nesta casa. Fatinha é uma adolescente rebelde, que quer chamar a atenção do irmão e, por isso, bebe demais, briga e está sempre estressada. Ela acaba contraindo HIV. Zezinho,por sua vez, estuda na Escola Monteiro Lobato, e sua nova professora não aceita o fato de que quem cuida dele é seu irmão gay. “Ela fica indignada com isso, porque na mente dessa professora, esse gay pode abusar da criança. Porque ela acha que os gays são pessoas imundas, são pessoas impuras”, explica Elton. “E no meio de tudo isso tem a personagem da Keyliana, que é a travesti da série. Ela é a amiga, a que chega e dá a palavra de conforto, que dá a palavra de carinho, que apazigua as brigas entre os irmãos”.

“O tema me interessou muito, porque fala sobre homofobia, HIV, e sobre a intolerância religiosa, e é um tema que eu me identifico, eu gosto de debater, é um tema interessante que me atrai. Eu acho que é importante pra sociedade falar sobre isso, discutir, porque isso não é falado na TV. É um assunto que fica encubado”, conta Nadyne, que interpreta Fatinha. Segundo ela, uma das questões trazidas à tona por sua personagem é a liberdade sexual da mulher.

“A ideia do Coletivo é essa mesmo, da gente criar uma história pra mostrar a realidade da comunidade que a TV não mostra. A travesti não é só garota de programa, não é só engraçada. Ela é humana, é amiga, ela pode ser mãe, irmã, tudo isso. O gay não é só aquele que sofre, que é depressivo, que é coitado... ele é um cara que vai a luta, ele trabalha, sustenta dois irmãos”, completa Elton.

Já foram publicados dois episódios de ‘Minha Família’ e, segundo o Coletivo, a ideia é lançar novos episódios a cada quarta-feira. Ao contrário da primeira experiência, desta vez a receptividade do público tem sido muito melhor. “Eu to assustado agora pela calmaria que esta acontecendo.  a gente já está no segundo episódio, o primeiro episódio já esta com mais de 4 mil acessos, e todos os comentários que vieram pra gente foram positivos e incentivando”, conta Elton. “Tem várias falhas técnicas. Áudio é ruim? É ruim, a gente sabe. A imagem não é tão boa, a gente sabe, porque é por celular. Mas as pessoas estão olhando a ideia do projeto e a ideia da história, e estão embarcando nisso. A história é legal. Recebo muitos conselhos, dicas pra melhorar o áudio, e estou pegando para a próxima”.

Futuro

Quando foi lançado o primeiro episódio de ‘Minha Família’, o Coletivo já recebeu um convite para ir até Chapada dos Guimarães gravar com um grupo de transexuais. “Eu já estou trabalhando - porque eu que sou o dramaturgo do Coletivo - nesse novo enredo. (...) E a gente já sabe o recorte que a gente quer trazer: a prostituição turística”, adianta o idealizador.

Para além desta ideia, o principal, segundo ele, é não ficar estagnado, “Somos um coletivo de Mato Grosso, então a ideia é não ficar fincado em um lugar só, é ir pra outros lugares do estado”, finaliza.

Serviço

Assista aos dois primeiros episódios da série:





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