Foi pensando em emagrecer 8kg para passar por uma cirurgia bariátrica que o cirurgião dentista Julivan Toralis Trindade, na época aos 40 anos, procurou a academia AFC. Pesando 149kg, quase 50 a mais do que o ‘ideal’, ele não via outra alternativa, até que o treinador Gil Melo lhe propôs que tentasse fazer um tratamento multidisciplinar. Dois anos depois, além de ter atingido seu objetivo, ele se tornou atleta de fisiculturismo e conta que trabalha e vive melhor em todos os aspectos.

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Além da baixa auto estima por conta da estética, Julivan já estava com uma série de problemas de saúde. “De pressão arterial, diabetes iniciando, problemas de lesão, dificuldades de locomoção e assim por diante. E eu fui indicado pelo meu cardiologista a fazer uma cirurgia bariátrica”, lembra.

Na época, o cirurgião era sedentário e não tinha uma rotina de alimentação. “Eu não tinha um determinado horário de almoço, não tinha nada definido. Comia o que eu achava que tinha que comer. Chegava, montava meu prato comendo com os olhos realmente. Era comer à vontade e me satisfazer”.

Cerca de sete anos antes do ultimato, no entanto, Julivan chegou a treinar por conta própria. “Só que não tinha acompanhamento nenhum, fazia tudo com o que amigos falavam. Inclusive eu tive até complicações por falta de orientação de profissionais. E parei por desanimo, falta de foco, muito trabalho... [era] totalmente dedicado ao trabalho, ao estudo, à família... e acabei deixando de lado. É o velho ditado que diz, as pessoas lutam pra ganhar dinheiro, depois usam o dinheiro pra ganhar saúde”.

Quando Gil conheceu o novo aluno, lhe orientou a procurar a nutróloga Gabriela Coutinho e o nutricionista Leandro Freire para que os três, em conjunto, o ajudassem a atingir seu objetivo. “Nós temos um número muito alto de pessoas que não fazem atividade física. 68% da população de Cuiabá não faz nenhum tipo de atividade física. Isso é pra mostrar pra pessoa que, de repente, está gorda, que na verdade o bem estar é uma coisa muito importante, a auto estima principalmente. Qual é a intenção disso? é pra pessoa ter conscientização de que se ele tiver mudanças de hábitos, ele realmente consegue. O caso dele é um caso bem extremo, não é photoshop, não é montagem, foi uma conscientização. O mérito é dele, porque ele decidiu mudar, decidiu ser outra pessoa, deixou de ser uma pessoa sedentária”, afirma o treinador.

O processo não foi simples. Julivan conta que, no início, não tinha motivação, e que demorou cerca de três meses para que seu corpo começasse a responder. “Na verdade é um processo árduo pra fazer as mudanças de hábito, porque a pessoa está acostumada a comer porcaria”, explica Gil. “As pessoas acham que vão vir pra academia e já vão ver o resultado. E não é. Na verdade o papel da academia é que você treine e não lesione, aumente sua resistência, aumente sua força. Pra [ter] o resultado, se a pessoa busca o resultado, é totalmente direcionado pra equipe multidisciplinar”.

Da mudança de hábitos à competição, foi outro processo. “Quando ele me falou que tinha vontade de ser fisiculturista, com 40 anos e obeso, a gente dá até risada... Pensei, poxa, vai ser difícil. Então assim, eu sou muito sério com meus alunos em relação a isso, eu olho dentro do olho da pessoa e não minto. Se alguém me procurar e falar, ah, Gil, eu vim aqui pra emagrecer, eu falo, você veio no lugar errado. Você tem que ir no nutricionista, tem que ir no médico...”, afirma Gil.

Para Julivan, também foi surpreendente. “Eu não esperava um resultado tão fantástico. Nem eu esperava chegar a competir um campeonato de fisiculturismo. O fisiculturismo, em que é visto o corpo como um todo, e eu consegui o resultado só com esse trabalho”, comemora. No campeonato estadual, que participou como iniciante, ele chegou a ficar em terceiro lugar na categoria Master e na categoria Geral (de sua idade). Os planos, agora, são para competir também no brasileiro, no final do ano.

“Essa busca veio para a melhora dele, e essa é a parte mais interessante”, completa Gil. “Ele se conscientizou que a vida dele não estava boa, que ele estava deixando de ser um bom profissional, um bom pai, por causa da autoestima. Porque nós, homens principalmente, trabalhamos muito em cima da autoestima. A pessoa falar que vem pra academia por causa da saúde? Isso é mentira. Ela vem porque ele quer algum tipo de resultado. Porque não é gostoso. Eu até digo que o exercício é obrigação, igual escovar os dentes. Alimentação é motivação. Você dormir bem, descansar bem, é o que nós chamamos de homeostase, que é o equilíbrio, o que ele foi buscar. E é isso que estamos querendo mostrar pra todo mundo. A pessoa ir em busca, primeiro, do seu eu, se conhecer, se auto analisar, saber seus defeitos, e foi isso que ele fez”, finaliza.

Julivan e Gil (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)