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Terça-feira, 16 de abril de 2024

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novo lambadão

Transexual cuiabana une música e ativismo: conheça o ‘lambatrans’

Foto: Henrique Santian

Luisa Lamar

Luisa Lamar

Luisa Lamar tem apenas vinte anos de idade, mas a música corre em suas veias desde que nasceu. Autointitulada uma ‘criança do bar’, teve seu primeiro contato com princípios musicais aos dez anos. Atualmente, é uma artista contemporânea, e trabalha em seu ‘lambatrans’, composição de lambadão que chama a atenção para a causa das transexuais.
 
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“Desde que nasci eu vivo rodeada de muita música e de muitos e muitas musicistas, gosto de dizer que eu sou uma “criança do bar”, já que meu pai e minha mãe tiveram que aprender a administrar uma criança trans enquanto, ao mesmo tempo, administravam um bar em pleno bairro Boa Esperança”, contou a artista ao Olhar Conceito. “[Em 2007] Minha mãe veio a óbito e eu, junto de minha família, me mudei para Chapada dos Guimarães, iniciando ali uma nova caminhada. Foi já vivendo em Chapada dos Guimarães que iniciei meus estudos dos princípios básicos da música através do coral “Pra-Ti-Cu-Tu-Cá” do SESC Arsenal daqui de Cuiabá mesmo, com meus 10 anos de idade (e vemos aí que a pontualidade me persegue desde então)”.

Luisa voltou para Cuiabá em 2018, para estudar Ciências Sociais na Universidade Federal do Mato Grosso. Influenciada por nomes como Rita Lee, Janis Joplin e Claudia Wonder, mas também por artistas regionais, como a banda Erresom, Estrela Dalva, Os Maninho, Lucianinho dos Tecrado, ela não abandonou a música. Muito pelo contrário.

Foi neste contexto que surgiu o ‘lambatrans’. “O lambatrans, antes de tudo, é uma composição minha. Dito isso, entendo que minha composição por si só ser um lambadão (estilo de música característico da baixada cuiabana), pode ter um significado e um peso muito grande, visto que estamos passando por um momento muito delicado da nossa política de direitos humanos aqui no Brasil, onde são computados incontáveis casos de violência contra mulheres trans e travestis praticamente todos os dias, e aqui em Cuiabá não é muito diferente”, afirma.

Luisa é uma mulher transexual, e levou toda sua vivência para a música, também inspirada por nomes como Linn da Quebrada, Rosa Luz, Lineker, Delacroix e Alice Guél. “Quando saio nas ruas eu ainda sou perseguida com olhares de estranhamento, de ojeriza, e até de curiosidade. E acho que o lambatrans surge justamente como possibilidade de diálogo, visto que não nos deixam falar, e eu vejo a música realmente como um lugar seguro onde eu, uma travesti, posso criar algo divertido, para toda a família e ainda assim discutir direitos humanos. Nós, pessoas trans, estamos vivas e resistindo, seja dentro do baile de lambadão ou nas tradicionais festas de santo. O lambadão também é nosso, e nós também temos o direito de ‘cotchar’ e amar sem medo e com segurança”.

A criação da música, na prática, ainda não está finalizada. Todo o processo conta com o apoio de Paulo Monarco, irmão de Luisa. “O termo lambatrans nasceu de uma de minhas brincadeiras com um dos meus irmãos, Paulo Monarco, que compõe assim como eu. Depois que “demos a luz” a esse novo termo, eu acabei me pegando num processo de traduzir todos os possíveis significados do que seria o lambatrans numa só música, e assim a canção surgiu. A canção infelizmente ainda não está finalizada, mas estou recebendo comigo no projeto de desenvolvimento desse single a incrível produção e direção musical do meu próprio irmão Paulo Monarco e do pernambucano Raul Misturada, dupla essa que tem agitado a noite de São Paulo e que agora eu trago comigo para somar nesse projeto que pra mim é muito verborrágico e também muito natural, afinal, resisto cuiabana-chapadense”.

Por enquanto, Luisa já apresenta a versão ‘não finalizada’ a seu público, e visa atingir um público ainda maior. “Quando sou enxergada em cima do palco, cantando o que canto, no ritmo que canto, por outra travesti, é o momento onde eu acabo tendo um flashback de toda a minha vida e me lembro que devo permanecer ali com muita garra e muita resiliência, pois eu, assim como grande parte das pessoas trans, não vi representatividade onde eu mais precisava, e isso acabou acarretando em muitos problemas identitários na minha vida. A gente passa a se odiar quando a gente não pode se enxergar, quando nos ensinam que o que enxergamos no espelho é errado ou feio, o que é uma grande mentira construída por uma sociedade capitalista, fascista, anti-vida e hipócrita”, finaliza.

Confira os teasers do trabalho de Luisa:





*Foto e vídeos: Henrique Santian
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