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Quinta-feira, 25 de abril de 2024

Notícias | Política Cultural

Mídia Ninja em debate

"A gente não é convidado de ninguém, a gente se convida e se impõe", diz cuiabano do Mídia Ninja

Foto: Divulgação TV Cultura

Ainda que não seja novidade um jornalismo combativo, as plataformas utilizadas pelo coletivo de comunicação Mídia Ninja configuram de certa forma, um modo novo de se comunicar. O que pode gerar um nó na cabeça de jornalistas aos moldes tradicionais e até na população que por vezes os enxerga como personagens dos protestos e não pessoas a serviço da notícia. Quando não, como defensores do grupo Black boc, os blockers, afinal, são os únicos que têm inserção a ponto de dialogar. 

Algumas transmissões alcançam até 12 horas ininterruptas, feitas a partir de celulares e notebooks. A proposta é que os seus espectadores vejam além do que se vê na TV e assim, andar por entre os agentes do protesto é uma estratégia em prol da credibilidade.

Alguns jornalistas chegam a duvidar dessa imparcialidade pregada pelo coletivo cuja sigla significa Narrativas Independentes e Jornalismo de Ação. Isso ficou claro no programa Roda Viva, exibido nesta segunda-feira (5) que teve como convidados os idealizadores do Ninja, o jornalista Bruno Torturra e o produtor cultural Pablo Capilé, que embrionou em Cuiabá o que viria a se tornar o Fora do Eixo. Ambiente no qual o Ninja foi gerado.

Eles ganharam visibilidade há dois meses quando milhares saíram às ruas em um “tsunami” de microindignações, como diz Capilé. Para se ter uma ideia da sede de comunicar todos os desfechos das coberturas, em uma delas um ninja chegou a ser preso e continuou filmando de dentro de uma viatura policial.

“É curioso que ainda seja uma dúvida se tratar de jornalismo. Acharia muito mais indicado questionar qual o tipo, a qualidade e a relevância”, desabafou Torturra.

Para quem acha que o Ninja surgiu do nada, ele fez questão de dizer que a iniciativa origina-se de um processo muito mais longo de conexão de coletivos, que vem sendo trabalhado há dez anos. E tanto ele quanto Pablo tiveram que responder questões quanto a financiamento de projetos do Fora do Eixo, quanto de dinheiro circula pelo grande aglutinador de coletivos do Brasil que é composto por 2 mil pessoas e ainda, foram-lhes questionada a transparência na prestação de contas.

Por conta de incentivos conquistados via editais do poder público, como R$ 800 mil para a realização de festivais de música capitaneados via um dos coletivos, eles foram questionados se isso não “contaminava” a isenção que eles pretendiam ter.

As fotos que circulam pela internet de Pablo Capilé ao lado de importantes lideranças do PT, como José Dirceu, Lula e Dilma renderam também. Fora sugerido que eles mantinham uma relação privilegiada, fato questionado por Torturra: “tiraram do Facebook dele, se tivesse a intenção de esconder algo, não teria colocado lá”. Além disso, destacaram o fato do presidente do PT, Rui Falcão, ter chamado Pablo, de ‘companheiro’.

“Temos dez anos de militância cultural. A gente não é convidado de ninguém, a gente se convida e se impõe. Fazem isso para tentar difamar, pois não somos organizados pelo PT, não nos encontramos só com o PT. Nos relacionamos com vários partidos”. “Mas vocês não falam o PSDB”, disse mais ou menos assim, a ombudsman da Folha de São Paulo, Suzana Singer.

“Mas o PSDB tem como política não dialogar com ninguém”, alfinetou. Para referendar o diálogo com vários partidos Torturra fez questão de relembrar que assinou a fundação da Rede, partido idealizado por Marina Silva.

Das questões políticas ao jornalismo, boa parte das discussões geraram em torno da crise da mídia impressa, o que parece ter incomodado alguns jornalistas presentes. Hoje, a entrevista repercutiu, especialmente em veículos criticados pelo Ninja, como a Veja e Globo.

Recentemente, algumas destas publicações falaram do interesse da Mídia Ninja se apropriar de recursos destinados à comunicação. Mas os ninjas, falaram também dos planos que têm para ampliar o raio de atuação com a criação do site e ainda, com a possibilidade de equipar colaboradores ao longo do país. Entre as ideias figuram o crownfunding, doações pontuais, micro-doações e assinaturas mensais.

Pablo tem uma visão otimista, já que segundo ele, a experiência do FDE que começou com a música, possibilitou a criação de um sistema não-hegemônico que proporciona auto-sustentabilidade.

Por fim, para quem tenha achado que a “sabatinada” tenha soado como uma guerra nivelada entre os jornalistas tradicionais e os jornalistas independentes, Bruno Torturra declarou em seu perfil no Facebook que, não viu os entrevistadores como inimigos. “Não me senti acuado ou atacado em momento algum. Algumas perguntas maniqueístas, que soam como ciladas são mais fruto da mecânica jornalística, quase automática, que busca manchetes, provocações, polêmicas, frases boas para caixa alta. Parte do jogo. Não achei, de verdade, as questões desonestas ou ilegítimas. Dinheiro, posições políticas, imparcialidade e a relação entre militância e objetividade são questões cruciais mesmo”.

“Pessoalmente, entrei e saí em paz com todos na Roda. Tenho ‘trocentas’ críticas e algumas diferenças irreconciliáveis em relação à velha mídia. Mas é uma guerra de memes, não uma guerra de gerações. Espero que o trabalho que estamos fazendo, midialivristas, comunicadores e jornalistas independentes, sirva também para oxigenar, provocar, tirar da inércia depressiva as redações tradicionais. Será melhor para todo mundo”, finalizou.


P.S.: estendendo os protestos para o canal aberto, Pablo Capilé usava uma camiseta com os dizeres: "Cadê o Amarildo?", questionando o sumiço do  pedreiro Amarildo de Souza,  desaparecido desde o dia 14 de julho, quando foi abordado por policiais da UPP da Rocinha, na Zona Sul do Rio

Foram 1h30 de programa, sendo assim, muita coisa ficou de fora. Assista na íntegra:


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