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Quinta-feira, 05 de dezembro de 2024

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Repercussão

Promotor coloca ‘grafite’ de Greta em seu gabinete e artistas fazem carta de repúdio à 'censura'

Promotor coloca ‘grafite’ de Greta em seu gabinete e artistas fazem carta de repúdio à 'censura'
Após o grafite com o rosto de Greta Thunderg ter sido ameaçado de ser apagado do viaduto de Sinop, o promotor da 7ª Promotoria de Justiça Cívil Alexandre de Matos Guedes imprimiu a imagem e colocou em frente ao seu gabinete. “O bom da arte e isso. Você tenta apagar mas ela se reproduz”, afirmou, em seu Facebook. Além dele, um grupo de artistas de Mato Grosso publicou uma carta de repúdio ao ato.


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A arte foi feita durante o 1º Encontro Internacional de Graffiti — Matograff, que reuniu artistas de toda a América Latina na cidade, entre 24 e 26 de setembro.  Os vereadores afirmaram que o grafite não condizia com as regras do evento, pois deveriam ser feitos desenhos da fauna e flora de Mato Grosso. No entanto, havia outra criança desenhada, e não foi pedido que ela fosse apagada. Na segunda-feira (30), a imagem de Greta apareceu pixada, com os dizeres ‘Lula preso’. A população também se revoltou contra o grafite, publicando vídeos nas redes sociais.

"Toda censura política é proibida pela constituição, a começar por aí. Segundo, nós estamos tratando da censura de um retrato de uma adolescente de 16 anos que tem deficiência. O Ministério Público é defensor da liberdade de expressão, portanto, contra a censura, é defensor dos adolescentes e das pessoas com deficiência. Então, na medida em que a obra de arte foi suprimida, e ainda foi objeto de covardia, porque apareceram algumas pessoas no meio da noite para pixar o monumento", disse o promotor ao Olhar Conceito. 

"Na verdade, uma coisa que as pessoas que promoveram a censura prévia, e os covardes que depois fizeram a pixação não imaginaram é que quando você tenta suprimir a arte, na verdade você acaba a multiplicando, porque ela vai aparecendo em vários lugares. Quer dizer, se a imagem tivesse permanecido onde estava, teria tido pouco mais do que alguma repercussão regional. Da maneira como foi, hoje o retrato é miuto mais conhecido", completou. 

Alexandre ainda fez uma constatação sobre o estado: "Mato Grosso é a terra de gente hospitaleira, uma terra que acolhe gente de todos os lugares, de todos os países, e não é uma terra de bárbaros que atacam adolescentes de 16 anos com autismo".

Na carta de repúdio, os artistas do estado se solidarizaram também com o artista Rai Campos, que fez uma imagem do Cacique Raoni. Sua obra também foi hostilizada nas redes sociais. “Repudiamos a atitude vergonhosa de parlamentares da Câmara de Vereadores de Sinop e demais envolvidos que, de forma arbitrária e antidemocrática, censuram a expressão artística. Em diversas mídias foi divulgado que as obras serão apagadas e serão pintadas outras imagens no local com justificativas infundadas que se caracterizam como intolerantes e sem o mínimo de compreensão do papel da arte para a sociedade”, diz o documento.

Matias Souza é natural do Acre. Ainda na terça-feira (1), o vereador Rodrigo Forneck fez um pronunciamento na Câmara da capital, Rio Branco, lamentando o ocorrido: “Nós vivemos em uma cidade que a gente tem o prazer de dizer que é amiga do grafite”, disse. Em seu Instagram, completou: “Em Rio Branco não existe censura, mas sim apoio à arte”.

A garota

Greta ganhou a mídia nos últimos dias, após fazer um discurso acalorado durante a Cúpula do Clima na ONU, no último dia 23 de setembro, em Nova York. Na ocasião, ela disse aos presentes: “Vocês roubaram meus sonhos e minha infância com suas palavras vazias. E ainda assim, eu tenho que dizer que sou uma das pessoas com mais sorte (nesta situação). As pessoas estão sofrendo e estão morrendo. Os nossos ecossistemas estão morrendo”.

Após o discurso, a garota virou alvo de especulações e ‘fake news’. O próprio filho do presidente da república, Eduardo Bolsoanro, publicou uma foto falsa da garota em sua rede social Twitter, que depois justificou como se fosse uma piada.” “Vocês roubaram minha infância..." disse a garota financiada pela Open Society de George Soros” ironizou o deputado federal. Greta é um dos nomes indicados ao Nobel da Paz, e concorre à vaga com o cacique Raoni – que foi grafitado por Rai Campos.

Outro lado

O diretor de cultura do município de Sinop, Daniel Coutinho, defende que o rosto da ativista sueca não condiz com as regras do evento, que tem como tema principal a fauna e a flora. “Não será apagado devido à censura. Esse é um projeto de incentivo à cultura que foi feito pelos grafiteiros do município. E o tema é a fauna e a flora. Eles iam trabalhar elementos voltados à natureza, à floresta Amazônia, insetos, animais, enfim”, explicou.

Sobre a outra criança que estaria também representada, Daniel afirmou que tem um contexto que a justifica. “Essa criança está simbolizando um contexto dentro da Amazônia. Ela está com uma cuia, uma cobra, então é um contexto geral. Agora, o lance da imagem da polêmica é a Greta mesmo, por ela estar em evidência, ter toda essa situação política... então eu penso que se tivesse sido uma menina qualquer desenhada lá, estaria fora do contexto também, mas talvez não teria causado toda essa polêmica”. 

Leia a íntegra da carta:
 
Carta em Apoio às Artes e Contra a Censura

Mato Grosso, 02/10/2019

Nós, artistas de Mato Grosso e sociedade civil, abaixo-assinados, vimos a público expressar nossa solidariedade aos artistas visuais, Rai Campos e Matias Souza que pintaram as imagens do Cacique Kayapó Raoni e da ativista sueca Greta Thunberg no contexto do  1º Encontro Internacional de Graffiti - Matograff, que reuniu artistas de toda a América Latina na cidade de Sinop-MT, entre 24 e 26 de setembro de 2019. Ao mesmo tempo,  repudiamos a atitude vergonhosa de parlamentares da Câmara de Vereadores de Sinop e demais envolvidos que, de forma arbitrária e antidemocrática, censuram a expressão artística. Em diversas mídias foi divulgado que as obras serão apagadas e serão pintadas outras imagens no local com justificativas infundadas que se caracterizam como intolerantes e sem o mínimo de compreensão do papel da arte para a sociedade.

Gostaríamos de relembrar a Constituição da República de 1988 – artigo 5º, inciso IX  - a qual garante a liberdade de pensamento e expressão artística como um direito fundamental do cidadão ao prescrever ser “livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”.

Os artistas censurados fazem parte de uma geração de artistas que democratizam a arte por meio do grafite, linguagem contemporânea que sai dos espaços institucionalizados (como museus e galerias) e inserem as obras nos mais diversos suportes dos espaços públicos e particulares, tornando-as acessíveis à todos.

Queremos, portanto, reiterar o nosso posicionamento e ressaltar a importância da liberdade de expressão e respeito às manifestações culturais que fortalecem a democracia.

Assinam:
Adnilson Silva Lara (Dj Taba)  - Músico
Adir Sodré - Artista visual
Gervane de Paula - Artista visual
Ruth Albernaz - Artista visual / bióloga
Vitoria Basaia - Artista visual
Eduardo Mahon - Advogado / escritor
Ivens Scaff - Escritor
Willian Gama -  Curador de Arte
Jean Siquera (Siq) - Grafiteiro / tatuador
Adriano Figueiredo - Artista Visual
Marília Beatriz de Figueiredo leite - Escritora
Luiz Marchetti - CALM Centro Visual Luiz Marchetti
Vera Capilé - Cantora / compositora / psicóloga
Maria Teresa Carrión Carracedo - Editora
Naine Terena - Artista / Jornalista
Ludmila Brandão - Professora UFMT
Rosylene Pinto - Artista Visual
Amanda Gama - Advogada / galerista
Adriano Souza - Secretário Adjunto de Cultura de Juína - MT
Rosemar Coenga - Escritor
Livia Bertges - Escritora
Imara Quadros - Arte educadora
Ivan Belém - Artista / arte educador
Lúcia Palma - Atriz
Roberto Ferreira - Ator / arte-educador
Anna Maria Ribeiro Fernandes Moreira da Costa - Antropóloga
Silvia Turina - Artista Visual
Zuleica Arruda - Arte educadora/ artista visual
Vera Baggetti - Arquiteta/ artista visual
Luciene Carvalho - Poeta
Flávio Ferreira - Diretor do teatro Cena Onze
Gloria Albues - Cineasta / jornalista
Otília Teófilo - Artista livre
Reinaldo Mota - Médico / professor
Amarildo Ferreira - Psicanalista
Santiago do Pântano - Tatuador / Músico
Jean Carlos Bass - Músico
Hector Flores - Músico
Roger Perisson - Publicitário / músico
Odilio Marcelo da Costa (Xito CondUta do Gueto) - Músico
Paulo Cesar -  Rondonópolis MT
Jeff Keese  - Arquiteto / curador / expógrafo
Claudete Rachid Jaudy -  Atriz / professora
Carlina Rabello Leite - Produtora cultural
Ricardo Correia - Diretor Artístico / Publicitário
Zilda Barradas - Conselheira Estadual de Cultura / Artes Visuais
Amandla Silva Sousa - Artista Livre
João Luiz do Couto - escritor / ator / contador de histórias
Caio Augusto Ribeiro - Coletivo Coma A Fronteira
Pedro Duarte - Coletivo Coma A Fronteira
Ligia da Silva Viana - Favelativa
Thaylayne Vanessa Cansi  - Movimento  Ocupa
Justina Fiori - Jornalista
Valdiná da Silva Ferreira/ Kaco do CPA - Coletivo Avante CPA
Hend - Músico 
Ronaldo Adriano - Ator membro do Teatro Experimental de Alta Floresta
Carlos Augusto Abicalil - Professor / mestre em educação /  ex-deputado federal
Instituto Superior de Cultura Gervásio Leite - Cuiabá/MT
CCF - Coletivo Correria Forte
Coletivo Não Reclame do Calor Plante uma Flor - Cuiabá/MT
Maloca do Quati Espaço D’Arte - Cuiabá/MT
Nelson Borges de Barros - Eng. Agrônomo
Jefferson Jarcem - Diretor geral do Grupo Tibanaré
Elaine da Silva Santos  - Produtora
Alexandre Aprá - Jornalista

*Atualizada às 13h29.
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