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Sexta-feira, 29 de março de 2024

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Boliviano que vive há 20 anos em Cuiabá sonha em reencontrar a família no Natal

Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto

Boliviano que vive há 20 anos em Cuiabá sonha em reencontrar a família no Natal
Dos 44 anos de vida do boliviano José Suarez Soliz, mais conhecido como Cayman, mais de vinte foram do lado de cá da fronteira. Ele, que trabalhou como motorista desde muito novo, se apaixonou por uma cuiabana e acabou ficando em Mato Grosso. A última visita que fez à sua terra natal aconteceu durante as festas de final de ano em 2011. Poucos meses após o retorno, sua esposa sofreu um AVC e acabou ficando na cadeira de rodas, o que dificultou a realização de viagens. Neste ano, sua vontade é ir para lá e reencontrar a família.

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Cayman trabalhou por doze anos como autônomo, com seu próprio caminhão e prestando serviços para uma empresa. Na época, se quisesse folgar no final de ano, precisava encontrar algum motorista para ficar em seu lugar, com outro caminhão, ou deixar seu próprio veículo com outra pessoa, o que ele regularmente fazia a cada dois anos.

Nos quinze dias que passava em San Inácio, conseguia aproveitar as delícias que não encontra por aqui, como o ‘locro’ (tipo de sopa que pode ser de legumes, arroz, macarrão, frango, carne), a ‘patasca’ (milho com carne bovina ou suína, parecendo uma canjica, mas salgada), o ‘massaco’ (mandioca cozida e amassada, com queijo, banana verde frita ou carne seca, passada na frigideira) e o ‘somo’ (milho de canjica fervido com canela e cravo).

Hoje, no entanto, já são oito anos sem pisar em terras bolivianas. “A minha esposa teve um AVC e ficou na cadeira de rodas, o que nos dificultou muito”, lembra. “Nós estamos casados há 19 anos, e ela teve o AVC quando eu voltei da Bolívia, em 2011. Nós chegamos em janeiro para trabalhar, e em abril ela teve o AVC, paralisou e aí muda muito a história”.

No dia a dia, uma pessoa contratada cuida da esposa de Cayman, que é professora aposentada, e ele sai direto do trabalho (em uma empresa de construção civil) para casa. Para viajar, a principal dificuldade está em cruzar a fronteira, já que é preciso descer do carro.

Neste ano, no entanto Cayman está empenhado em rever a família, principalmente porque seu pai, de 73 anos, está doente, e foi internado na UTI quatro vezes. Também vivem na Bolívia seus sete irmãos.

Após tanto tempo longe de sua terra, José Soarez conta que está ‘por fora’ da política local. Lembra que da última vez que visitou, percebeu algumas melhorias na infraestrutura de sua cidade, mas conta que sua família concordou com a saída do ex-presidente Evo Morales. “A maioria [da família] é contra ele por causa de se manter. Igual aqui, passou de oito anos, ninguém mais vai aceitar, pelo que eu entendo”.

Recentemente, durante os protestos que aconteceram no país, Cayman chegou a passar alguns sustos. “É tenso, porque tenho família... onde tem mais conflito é La Paz e Cochabamba, lá na atitude, onde o pessoal briga mais. Eu tenho uma irmã que mora em Cochabamba, há mais de 20 anos, tem os filhos, um neto, e uma prima minha também que mora em La Paz e é casada. E ainda está feio”, conta. “A minha irmã, por exemplo, uma noite dessas me falou pelo WhatsApp que teve que se esconder, porque o pessoal saiu - os baderneiros - quebrando tudo. [Ela] se escondeu dentro de casa, e eu até falei: busca um lugar mais seguro, vê com vizinhos se é mais seguro... Ela estava com medo, chorando, e eu fico meio triste, mas graças a Deus que não aconteceu nada”, lembra.

Até algum tempo atrás, os bolivianos em Cuiabá costumavam se reunir em uma associação, faziam grandes festas inclusive com as comidas típicas. Hoje, Cayman tenta fazer algumas receitas em casa de vez em quando, mas nada se compara ao tempero de mãe, que ele pretende relembrar em breve. “Saudade eu não vou dizer que não existe, mas estou bem habituado aqui. Sempre trabalhei com ônibus, caminhão, sempre vim para cá, então sou acostumado. E a gente vai levando a vida da melhor maneira que a gente pode fazer”, finaliza.
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