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Quinta-feira, 25 de abril de 2024

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Entre defensores e detratores, secretário assume com apenas um consenso: o desafio é grande

Entre defensores e detratores, secretário assume com apenas um consenso: o desafio é grande
Com atuação quase que restrita à área de realização de shows de música sertaneja – quando se fala em gestão cultural - o recém-empossado secretário de Cultura de Cuiabá tem enfrentado duras críticas desde que foi anunciado, na última quarta-feira (21) pelo prefeito Mauro Mendes (PSB). Durante a posse, o chefe do Executivo atribuiu sua escolha ao perfil empreendedor de Alberto Machado, o Beto Dois a Um. Veio a calhar também o fato de o secretário atuar como cantor. Mauro Mendes, em tese, atenderia assim tanto o anseio da classe, quanto o seu pessoal de escalar para seu staff, empresários, assim como ele.

"Não existe unanimidade", justifica Beto ao assumir sob críticas do setor cultural

Há oito meses, a classe vivia o impasse de uma possível fusão das secretarias de Cultura e Turismo e reclamava de um aparente desdém do prefeito com o segmento. Mauro disse durante a posse de Beto que teria usado este tempo para fazer uma avaliação e optou por manter a autonomia da pasta.

Classe artística realiza ato público com apresentações musicais em frente à Prefeitura contra fusão de secretarias

O cineasta Yuri Kopcak, que discorda da nomeação, avalia que esta escolha é reflexo do projeto político do prefeito. “Estou vendo a indignação da categoria de operários da cultura em desaprovação a nomeação do empresário/sertanejo para a secretaria. Não iria me manifestar, mas não resisti a um comentário. Haviam dois projetos disputando as eleições e sagrou-se vitorioso o do empresário-empreendedor e etc, etc... Não há o que se esperar de diferente! Trata-se de um mandato excludente e fim”, opina.

Tanto Mauro quanto Beto disseram durante a coletiva de imprensa de posse que o diálogo vai permear a condução da secretaria, mas para o músico Márcio Campos, a atual gestão já tem um breve histórico de aparente intransigência. Exemplo disso, segundo ele, foi a falta de discussão com a classe quando no início do ano os artistas faziam apelo pela não-fusão da Cultura com o Turismo. "Eles foram lá, apresentaram a proposta, e pronto", sustenta.

Outras críticas contra o empresário são pelo fato dele, apesar de ser do meio artístico, não ter atuado nas discussões travadas sobre a possível fusão da Cultura com o Turismo no começo do ano e também por Mauro não ter consultado o segmento ao escolher o novo gestor.

“Não tenho notícia de qualquer debate para que se chegasse a um nome-consenso. Ao que parece foi um negócio e não uma nomeação. Isso coloca nossa cultura em xeque: como falar em cultura plural quando sabemos que o secretário nomeado não sabe do que se trata? Nesse momento precisamos de aproximação com a classe artística. Ele se distancia disso. Tenho ainda a recordação funesta do aniversário de Cuiabá, da qual ele estava na coordenação do evento, que deixou de lado muitos artistas locais e muito menos contemplou a diversidade. Foi quase o aniversário de Goiânia”, completa Márcio Campos.

Na ocasião, artistas se reuniram na Praça da Mandioca em um evento gratuito e paralelo ao "oficial", que ficou conhecido como o Aniversário dos Excluídos. Já o evento da Prefeitura, em parceria com a rádio Mega FM, cobrou R$ 5 de entrada para a apresentação de mais de 40 artistas nacionais, que fizeram playback. O evento, de acordo com o Alencastro, ultrapassou a marca de 80 mil pessoas.

"Excluídos" comemoraram aniversário com arte regional
Cuiabá dos "Excluídos"; artistas fazem festa de aniversário cuiabana na praça da Mandioca

O artista plástico Babu Sete Oito diz que tem pouco conhecimento sobre a trajetória do cantor-empresário junto à cultura local, exceto que “ele é um artista da música e de um segmento musical rodeado de gente com grana , fazendeiros, casas de show, redes de entretenimento e políticos. Sinceramente, não sei o que esperar dele, apenas, que faça um bom trabalho. Espero que olhe a cultura de forma homogênea, ouvindo os artistas”.

Depois a posse, Beto disse aos jornalistas que vai receber os artistas em seu gabinete. “Recebi o convite na segunda-feira (20) e ainda estou me inteirando ”, disse o gestor cultural.

Na defesa de Beto

Presente na posse, o produtor cultural, pesquisador e músico do rasqueado Guapo comemora a escolha do prefeito Mauro Mendes. “Beto é uma pessoa que lutou muito pela carreira dele. E ele se predispôs a receber os artistas e trabalhar para que haja uma produção mais sustentável dos artistas, para que eles busquem parcerias, para que eles possam ‘andar com as próprias pernas’”. Segundo Guapo, a iniciativa dá certo, pois empresários do centro histórico estariam engajados com ele na promoção da Rua do Rasqueado, projeto realizado às quintas-feiras.

Se Beto quer priorizar a independência dos artistas, a classe espera que ele invista na revitalização de espaços culturais da Prefeitura. “É uma gestão muito difícil, porque, afinal, a secretaria está muito comprometida, aparelhos culturais estão sucateados e por fim, alguns artistas já estão desistindo, assim como eu”, testemunha a produtora Cibelle Bussiki.

Enfim, se a recepção ao secretário não foi tão calorosa, fica claro que o caminho vai ser tortuoso, e contar com apoio da classe, seria imprescindível neste momento. “Não existe unanimidade, mas quero buscar o diálogo e atender as necessidades de todo o setor", sacramentou Beto ao tomar posse.
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