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Terça-feira, 23 de abril de 2024

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CLARINETE

Com falas em migalhas, Paulo Moura se reconstrói na imperfeição

“Todo instrumento é imperfeito”. Assim Paulo Moura apresenta seu clarinete de acrílico no documentário sobre sua vida e obra, Alma Brasileira, dirigido por Eduardo Escorel, escolhido para abrir a 18ª edição do Festival É Tudo Verdade. É uma de suas poucas falas. São nas apresentações impecáveis, com instrumentos imperfeitos, no entanto, que o músico conta sua história.

A voz grave do diretor irrompe as imagens melancólicas do início da película para explicar que quando o documentário começou a ser rodado, Paulo Moura morreu. “Só tínhamos duas opções”, afirma o diretor. Nem precisava dizer qual caminho foi tomado.

Com escassas entrevistas de Moura, o diretor optou por não buscar falas de amigos, conhecidos e especialistas. A única entrevistada é a viúva do músico, Halina Grynberg, que não oferece o rosto às câmeras, mas abre seus arquivos pessoais de fotografias e mostra a trajetória do cantor pela lente da intimidade. Suas mãos protagonizam as cenas.

Apoiado em um grande material de apresentações, como nos festivais de Montreux, na Suíça, de Tel Aviv, em Israel, e Lagos, na Nigéria ou em show em Paris com Martinho da Vila, Escorel mostra a importância de Moura para a identidade da música brasileira e seu transito entre o jazz, choro, samba, bossa nova e música clássica.

Autorizado pelo próprio músico para fazer o documentário, Escorel teve a rara oportunidade, a convite da família, de gravar a última música executada por Moura, Doce de Coco, de Jacob do Bandolim, já no leito do hospital, parcialmente cedado, mas a cena não pode entrar no filme porque alguns dos presentes não permitiram. Veja abaixo.



Apesar dos poucos minutos gravados com o músico, o documentário consegue revelar a maturação do instrumentista, desde o início da carreira, quando sonhava em tocar em uma big band de jazz até desconstruir os alicerces da canção e se apresentar apenas com sopro e percussão, isso após transitar por inúmeros estilos.

Mais que um documentário, Alma Brasileira é uma homenagem ao compositor, arranjador, saxofonista e clarinetista que levou a música brasileira para o mundo, mesmo sendo acusado, pós-golpe de 1964, de não tocar como brasileiro.
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