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Quarta-feira, 24 de abril de 2024

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Para realizar sonhos, bailarina e biomédica arriscam tudo e constroem motorhomes com as próprias mãos

Foto: Arquivo Pessoal

Para realizar sonhos, bailarina e biomédica arriscam tudo e constroem motorhomes com as próprias mãos
Apaixonadas por viajar e cansadas de enfrentar perrengues com hospedagem, as sócias Fernanda Frend e Lays Carlotto tiveram a mirabolante ideia de construir, com as próprias mãos, casas dentro de veículos. Com a marca “Judith Motorhome” ainda engatinhando por Cuiabá, elas já projetaram e executaram as obras de moradia em uma van e uma kombi – que está pronta para venda. Para além de seguirem seus sonhos, elas também pretendem incentivar as pessoas, principalmente mulheres, a entrarem com coragem em projetos que possam parecer impossíveis.

A ideia que virou um hobby, pode virar a futura profissão das sócias. Fernanda é professora de Ballet e Lays, biomédica. Elas investiram tudo que tinham em prol de realizar o sonho de sair viajando por aí, da maneira mais confortável possível. Elas pretendem comprar ou construir uma Van, mas, para isso, ainda têm um longo caminho a ser trilhado – que vai depender da venda da primeira kombi.

 

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“A gente ficou muito feliz com o resultado (das primeiras duas obras), encarando tudo isso e peitando o desafio. A maior dificuldade primeira foi o financeiro. Porque a gente largou tudo. Metemos a cara e a coragem”.

A materialização de sonhos não é tarefa fácil, e com elas não foi diferente. No começo, pensaram em adquirir uma Van, ou rodar de Tiny House, mas o orçamento não era suficiente para tirar um carro completo, direto da fábrica e pronto para viajar. E a burocracia para engatar uma casa numa carreta também as impediu de seguir.

Diante disso, resolveram arriscar a construção de um motorhome com as próprias mãos. Até então, elas que nunca tinham lidado com obras, materiais de construção, medidas, marcenaria e “nunca tínhamos pegado em um martelo”, tomaram gosto pela causa.

Agora, além de construir casas em veículos, também pretendem inspirar, incentivar e motivar as pessoas a acreditarem que podem sim trilhar o caminho de seus sonhos – mesmo que não pareça ser possível.

“É difícil, ter essa coragem, investir tudo que você tem. Mas vai, porque vale a pena. Eu acho que a gente repensa, pensa, será que vai? Será que não vai? Mas se pensar demais, você não sai do lugar. A gente precisou de um empurrão”, disseram.

Em um futuro próximo, dependendo da venda da primeira kombi, almejam ter um galpão para gerir várias obras simultaneamente, prestando o serviço de construção de motorhomes para uma clientela – que ainda está em fase de formação.

Além disso, sonham – mesmo que de brincadeira - em desenvolver uma empresa completamente com mulheres, arquitetas, engenheiras.  “Eu (Fernanda) fico revoltada quando falam ‘vocês são duas mulheres’. Tanto que no começo que íamos para as lojas, os caras perguntavam ‘cadê seu marceneiro’, aí a gente falava - nós somos as marceneiras”.
 
 
O Pontapé Inicial

Com a ideia pronta e os projetos sendo idealizados, surgiu a primeira oportunidade, ainda na pandemia. Os pais de Fernanda adquiriram uma van e propuseram, então, que eles e as sócias fizessem o primeiro motorhome. E deu certo. O que era pra ser apenas algo despretensioso, virou uma chance que elas abraçaram.
  Os quatro, então, fizeram um curso básico de construção de Motorhome e foram pesquisando formas de executar a obra pela internet. Mas diante da distância entre eles, as obras ficaram sob responsabilidade de Fernanda e Lays.

 “A gente entrou na internet e fez um curso online. Fomos assistindo e aprendendo todas as etapas básicas de como construir um motorhome. As etapas, materiais”.

Então, alugaram uma casa, colocaram a Van na garagem e entraram firme na construção. “Colocamos a van aqui na garagem e sobrou apenas 1,5m para trabalhar. Pequeninho. Cortávamos madeira aqui dentro da sala”. No começo foi difícil, elas tiveram que ir fazendo com o que tinham da internet e aprendendo na prática.

Lays, inclusive, deixou de lado sua carreira na biomedicina, tomou gosto pela nova empreitada e se empolgou com as ferramentas, descobrindo que era isso que gostava de fazer. Fernanda, por sua vez, manteve a profissão de professora – caso a nova jornada não desse certo.

“E não tínhamos noção para saber no que ia dar. Porque pegamos o projeto da van dos meus pais e podia dar tudo errado.  Eu tinha muito medo dos móveis não ficarem bons. Mas olha, ficou bonito, planejado, encaixado”.
Elas receberam o carro com a elétrica pronta, e fizeram todo o resto: revestimento, banheiro e hidráulica. O projeto todo, até a entrega do veículo para os pais de Fernanda, levou meses.

“Começamos em agosto e entregamos para eles em janeiro. Hoje eles usam, eles amaram. Onde eles vão, fazem sucesso. Esse foi nosso primeiro trabalho, para nosso primeiro cliente. Mas gostamos disso, de construir. Mudamos toda nossa vida em volta da construção da van”.

E assim construíram a primeira Van. O resultado deu super certo, com todos os móveis planejados encaixados, e a estrutura elétrica e hidráulica em pleno funcionamento. Foi o começo de tudo, quando elas perceberam ser possível seguir com a ideia.

Mas, para as sócias, ainda não era o suficiente. Fernanda e Lays queriam ter um projeto 100% executado por elas. Foi aí que foram buscar uma Kombi para entrarem de peito na empreitada.

A primeira kombi

Com a Van dos pais de Fernanda entregue, foram atrás de um projeto feito totalmente por elas. Então, encontraram na OLX uma kombi do ano 2003, por R$ 16,500. O carro estava “o caos” e as sócias investiram cerca de 30 mil reais entre oficinas, mecânicas e reforma do veículo. Elas trocaram basicamente tudo para, só a partir daí, começar a fazer o motorhome. “Levou dois meses restaurando até começar a construção da casa, que leva de 3 a 4 meses”.

 

Com o interior todo revestido de madeira naval e com produtos de ponta, o carro é autossuficiente e sua energia oriunda de placa solar, faz com que a kombi tenha eletricidade por quatro dias, mesmo se não tiver sol.

Ela tem fogão, pia, frigobar, duas duchas para tomar banho do lado de fora do carro, cama, guarda-roupa, banco que pode levar duas pessoas atrás, ventilador, climatizador 12 volts, placa solar de 285. O carro tem câmera de ré, a mecânica está toda revisada e zerada.

“É tudo de qualidade. O melhor isolamento, tudo em compensado naval que é a madeira ideal para a casa.  Todos os produtos são de ponta. Tudo foi muito bem dimensionado. A kombi tem placa solar. É tudo de qualidade”. Tirando a tapeçaria, todas as outras etapas de execução da obra foram cumpridas pelas sócias.

O design, renderização, as medidas, o acabamento, a parte elétrica, a hidráulica, a compra de materiais e todo o necessário para entregar uma casa dentro de um carro que seja confortável àqueles que desejam viajar ou, até mesmo, morar.

Elas também apostaram em um design inovador, que se diferencie do motorhome comum de fábrica, que leva plástico e tem cara de “geladeira” e “ambulância”.

“Então a gente fez uma coisa inovadora. A gente que criou, a gente que faz o projeto. A gente que faz tudo tudo tudo. Se perguntar o que tem de outra pessoa ali, foi a tapeçaria e o revestimento do banco. O resto que foi tudo.; cortou, pintou, serrou, colou”.

Foram quatro meses de execução, mas elas pontuam que dá para fazer em menos. Porém, todos os processos levam tempo e, para ter o resultado que leve a “cara” das sócias (confortável, que não se assemelhe à uma geladeira), é preciso dimensionar, calcular, projetar tudo nos mínimos detalhes, para só a partir daí, colocar a mão na massa.

Agora com 99% da obra pronta, elas estão pedindo 90 mil, mesmo sabendo que vale mais. Porém, como é a primeira kombi que constroem, optaram por manter esse valor diante da necessidade de ainda reforçar o nome que elas estão criando no ramo.

“Nossa primeira kombi. Mas ainda estamos tendo que criar nosso nome, conquistar a confiança das pessoas. Mas com certeza ela vale bem mais de 120 para cima. Mas é um design diferenciado. Foi no que a gente apostou. Porque a gente vê kombihomes e é só o básico. Com teto de plástico de pvc, móveis mais simples. Então a gente fez uma coisa inovadora”.

“Nunca imaginamos estar aqui”

Batendo de frente em um universo majoritariamente masculino, Lays e Fernanda estão nadando contra a maré para conquistar espaços que comumente são preenchidos por homens. Ainda se adaptando às mudanças que suas vidas estão passando, elas não se deixaram abalar pela normalidade e tomaram gosto pela novidade da inédita prática em suas vidas.

“Descobrimos esse interesse agora. Isso deu um boom pra gente. Porque já estou a 30 anos fazendo o que faço, e aí quando começamos a mexer com isso foi muito legal pela novidade da pratica. No começo falavam que éramos doidas. Largar a profissão no ballet, da biomedicina”.

“No começo, íamos para as lojas e as pessoas não davam muito moral pra gente. Porque somos em duas mulheres num mundo masculino. Agora com o segundo carro, a gente chega nos lugares e as pessoas já empolgam, se aproximam, pedem para ver”, acrescentaram.

Se a empreitada der certo, elas brincam que um dia pretendem abrir uma empresa somente com mulheres, para continuar crescendo e investindo. Mas, para isso, elas precisam conseguir vender a primeira kombi.

A ideia é prestar serviços de construção de moradias em casas, mas ainda precisam fortificar um portifólio para conquistarem a confiança de uma futura clientela. “Então a gente pretende, mesmo se ainda não vender, já fazer a desses clientes com o que temos até aqui. Para incrementarnosso portifólio. Mas a vontade é mesmo de crescer. O sonho é ter um galpão, fazendo três kombis de uma vez. Mas é um sonho que já estamos batalhando. É uma ideia futura”.

Mesmo diante da mirabolante jornada de abdicar quase tudo que se conquistou para viver um sonho, elas pontuam que está valendo muito à pena, principalmente no emocional. “Desde a van. A gente olhava e ficava surpreendida ‘cara, a gente fez isso?’. Eu (Lays) olho o vídeo da nossa primeira obra e eu choro “foi a gente que fez, não é possível”.

“Porque pensa, uma professora de ballet e uma biomédica não tem nada a ver. A gente nunca tinha pegado em um martelo e numa furadeira. A gente não sabia de nada. A gente não sabia fazer nada e aprendemos estudando, pesquisando. É quem quer. Nunca imaginamos estar aqui”.
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