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Sexta-feira, 03 de maio de 2024

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REPRESSÃO POLICIAL

Movimento de cultura urbana promovido por jovens periféricos, Batalha da Alencastro sofre ataques

Foto: Murilo Siqueira

Movimento de cultura urbana promovido por jovens periféricos, Batalha da Alencastro sofre ataques
Movimento de cultura de rua promovido há sete anos pela juventude periférica cuiabana, a Batalha da Alencastro vem sofrendo ataques contra a sua realização. Na quinta-feira passada, a tomada do local usada pelos jovens para os duelos foi retirada. Nesta quinta (20), por conta da previsão de chuva, a batalha iria ser realizada no coreto (único espaço coberto) que estava ocupado pela estrutura do outubro rosa da prefeitura, mas policiais impediram que as rimas fossem travadas ali sob alegação de que a estrutura seria depredada, segundo uma integrante da organização. A Secretaria Municipal da Mulher afirmou à reportagem que não teve conhecimento da proibição da batalha, bem como reiterou que a ordem para que os artistas não utilizassem o coreto não partiu da pasta.

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“Na quinta-feira passada, a gente chegou para fazer a batalha e simplesmente não tinha a tomada. E como tem chovido muito ultimamente, temos realizado as batalhas ali no coreto. E aí, na quinta passada, chegamos para faze normalmente e tiraram toda instalação da tomada”, lamentou uma das organizadoras, acrescentando que uma comerciante emprestou seu som para que os jovens pudessem promover o duelo.

Quando foi ontem (21), os jovens sabiam que estava acontecendo o evento do outubro rosa da prefeitura, inclusive afirmaram entender a importância da ação para a conscientização feminina. Porém, ao chegaram para fazer mais uma edição (no coreto, por conta da previsão de chuva) foram impedidos por força policial sob alegação de que o movimento “depreda” a praça.

“Montaram uma estrutura para fazer atendimentos, tem cadeira, bebedouro com água, banheiro sanitário e até uma estrutura de ferro em cima do coreto e a polícia foi fazer monitoramento para não deixar a gente usar a praça. Perguntamos aos policiais se poderíamos fazer ali, pois estava coberto, e eles disseram que não pois a gente depreda as coisas”, contou.

Mas, ao contrário da alegação policial, a batalha jamais depredou a praça e sempre fez do local um ambiente para promover a ocupação social e cultural da Alencastro. “Estamos enxergando isso como uma tentativa de tirarem a gente da praça. Já uma duas ou três vezes tivemos que mudar de lugar neste ano. Quando tem coisa a gente não pode estar ocupando ali”, disse.

Outra indignação da juventude que batalha pelo RAP em Cuiabá foi a respeito do porquê a prefeitura, ciente que ali ocorre o movimento toda quinta-feira, não pensou em fazer uma integração com a batalha da Alencastro – que é um movimento legítimo de jovens de periferia, majoritariamente pretos e pobres, que estão ali pelo acesso gratuito à cultura.

“Por que ela não pensou em fazer uma integração, quiçá talvez uma batalha de integração ao outubro rosa para conscientizar a juventude feminina?”, indagou elencando que eles não sabem o motivo da retirada da tomada e da repressão policial aos jovens no espaço público.

Mc Caco, que já representou Mato Grosso no duelo nacional de MCs, em Belo Horizonte, refletiu que “a gente não pode faze a batalha ali na Alencastro, que tem aquela tenda, cinco banheiros químicos, então a gente tem que vim aqui para o cantinho. O motivo que a gente não pode realizar a batalha ali hoje naquela estrutura que está sendo paga com nosso imposto, foi porque o policial falou que ele esta contratado para cuidar da estrutura porque a gente depreda a estrutura”, lamentou acrescentando que ele é da Batalha da Alencastro, não da Riachuelo – local onde tiveram que se instalar para rimar.

Mestre em história, o professor Leosan Sampaio fez uma exclamação sobre patrimônio imaterial que a Batalha se tornou após sete anos de luta para promover o acesso à cultura gratuita aos jovens periféricos da capital. “Se existe um patrimônio, ele é de memória a alguma coisa, a algo construído. Nesse sentido, aqui eu pelo que esse vídeo chegue aos interlocutores da cultura do município para refletir o que é patrimônio material e imaterial. A batalha é um patrimônio imaterial desta cidade”.

Procurada, a Secretaria Municipal da Mulher se posicionou e ressaltou que não teve conhecimento sobre a proibição da batalha que ocorreu ontem e reiterou que a ordem para que os artistas não utilizassem o coreto não partiu da secretaria, “tendo em vista que o município e a pasta apoiam toda e qualquer apresentação cultural”, diz trecho da nota.

“Tivemos que realizar a batalha novamente em frente a Riachuelo que é o espaço coberto mais próximo à praça Alencastro. Faça chuva ou sol, praça interditada ou não vamos continuar fazendo cultura!!!”, exclamaram os jovens da Alencastro.
 
 
 
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