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Sábado, 07 de dezembro de 2024

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Poeira, lama e sufoco: a pior estrada do Brasil leva a uma metrópole no coração da Amazônia

Foto: Pelos Brasis

Poeira, lama e sufoco: a pior estrada do Brasil leva a uma metrópole no coração da Amazônia
Olá, viajante. No último texto, estávamos no Acre e no penúltimo em Rondônia. Para chegar no nosso destino de hoje, precisamos dar meia volta na estrada e percorrer de novo tudo o que andamos nas últimas semanas. E o motivo é um só. O Norte do Brasil tem menos estradas que outras regiões devido a vários fatores, com destaque para os desafios impostos pela Floresta Amazônica. Além, claro, da trafegabilidade ser mais viável pelas águas.


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Hoje vamos para Manaus, uma impressionante metrópole construída no coração da Amazônia brasileira. Só que para isso precisamos voltar do Acre rumo a Porto Velho, em Rondônia, e de lá encarar a “famosa” BR-319, conhecida como a pior estrada do país. Esta rodovia é a única ligação por terra entre o Amazonas e o restante do país, via Rondônia.





Há, claro, outras formas de se chegar lá. Por via aérea, o que era inviável em nossa viagem de Kombi, e também por rio. Aliás, o fluxo de chegada e saída de Manaus pelas águas é o mais intenso. E quase inevitável, inclusive. Porque mesmo optando pela única via terrestre, passamos por quase 50 pontes e quatro balsas. Pessoas e cargas chegam e saem por barcos, balsas e navios diariamente. Faz todo o sentido o transporte hidroviário ser bem-sucedido na maior bacia hidrográfica do mundo.
 

São quase 1000 km entre Porto Velho e Manaus, dos quais 450 km sem asfalto. Essa parte, conhecida como trecho do meio, é a mais temida. A estrada corta a Floresta Amazônica e tem longos trechos de isolamento total, sem postos de gasolina, cidades, vilas, fazendas ou sequer acostamento nas margens.

Em parte do ano, no período chuvoso, o fluxo fica inviável, com enormes atoleiros. No começo da época das águas, a lama transforma a pista em um verdadeiro “sabão”, o que exige atenção redobrada. Com o tempo, a persistência da chuva e o trânsito de carros e carretas remove o barro, criando enormes atoleiros e inviabilizando o fluxo de veículos. Na época mais crítica, só se passa de trator - ou puxado por ele. Comunidades ficam isoladas.





Como nossa viagem é de Kombi, nem em sonho enfrentaríamos a 319 na época de chuva. Mas como estamos na seca, a encaramos. Como faltam pontos de apoio, reforçamos o estoque de água. Providenciamos um galão extra de gasolina. Fizemos uma boa compra no mercado... e fomos. Se por um lado não teríamos – assim imaginávamos – uma pista molhada e escorregadia para nos preocupar, a atenção teria que se redobrar com as nuvens de poeira que se levantam a cada veículo que passa. As partículas de terra levantadas pelos pneus impedem a visão. E invadem a Kombi por todas as frestas possíveis.
 

Tentamos reduzir os danos tampando as brechas das portas com fita adesiva. Forramos a cama com sacolas plásticas e limpávamos o carro a cada parada. Isso não impediu o acumulo de poeira, mas não quero nem imaginar como nossa casa teria ficado sem essas precauções.




Precisamos de seis dias para vencer esses menos de 1000 km entre Porto Velho e Manaus. Isso porque um dia foi “perdido”. Mesmo estando na época da seca, ficamos o terceiro dia inteiro, desde a madrugada, sob chuva. A possibilidade de atoleiros e de encontrar a pista extremamente escorregadia nos fez apenas sentar e esperar.
 

Estávamos no Ponto do Gaúcho, um restaurante que serve de apoio para os caminhoneiros que encaram a 319. Os motoristas mais experientes que levam cargas sempre por aquela rota também ficaram parados. Para sair dali, só mesmo em um 4x4. As caminhonetes que chegaram naquele dia nos traziam informações e imagens nada encorajadoras. Os carros “comuns” que tentaram andar, atolaram.
 

No dia seguinte, conseguimos seguir viagem, e daí em diante, só precisamos mesmo parar para comer e dormir. A parada do quarto dia, aliás, foi a mais marcante da travessia. Um momento que vai ficar marcado para sempre quando nos lembrarmos dessa viagem Pelos Brasis. Chegamos à comunidade São Sebastião, na beira do rio Igapó-Açu, onde a travessia é feita por balsa. Encostamos a Kombi no estacionamento da Pousada Remanso do Boto. Eles não cobraram a hospedagem, mas jantamos no restaurante deles em retribuição. Um peixe fresco, delicioso, pescado ali mesmo, no “quintal” de casa.
 

Chegamos lá antes do entardecer. Conhecemos os donos. E as crianças nos chamaram para tomar banho de rio. Entramos nas águas e logo vieram dois botos-cor-de-rosa, que vivem naquelas águas livremente. Acostumadas com aquelas visitas, as crianças não se intimidaram e passaram a mão no boto. Nós também perdemos o receio e nos aproximamos. Tivemos a oportunidade única de contato com esse animal lindo e carregado de mística, símbolo da riqueza cultural e folclórica da região amazônica. Nadamos com os botos na Amazônia! Isso no habitat natural deles, longe de cativeiros e armadilhas.
 

Dois dias depois, chegamos em Manaus, cidade com mais de 2 milhões de habitantes. Mas esse relato de hoje já está tão longo e acho difícil termina-lo de melhor forma do que narrando nosso contato com os botos. O resto dessa história a gente termina de contar na próxima coluna. Até lá!

A coluna Pelos Brasis é assinada pelos jornalistas Lucas Bólico e Isabela Mercuri. Acompanhe o projeto no InstagramTikTokYoutube e Spotfy

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