Em uma das memórias de Eliane de Oliveira Silva, de 59 anos, ela ainda era criança e andava com a mãe pela avenida Tiradentes, em Rondonópolis (MT), para chegar à barraca de frutas e verduras da matriarca da família. Décadas depois, a comerciante montou o próprio ponto na frente da casa em que mora com o marido, no bairro Jardim Cuiabá, para seguir no trabalho que atravessa gerações na família.
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“Em 1972 eu tinha sete anos, acompanhava minha mãe na feira lá em Rondonópolis onde a gente morava, na avenida Tiradentes, tenho vontade de ir lá para ver”, lembra enquanto limpa cada um dos tomates que tira no caixote e posiciona com cuidado em uma das prateleiras da barraca. A comerciante é cuiabana e, antes de montar o ponto na frente de casa, ela trabalhava no antigo Mercado Municipal, na década de 90.
“Alugava um box, mas depois comprei um, acabou que fiquei só com um mesmo. Trabalhei lá até 1997, foram sete anos vendendo fruta, verdura, farinha, feijão, até amendoim empacotado. Viemos em novembro de 1997 para cá, construímos a frutaria, era grande. Saí dela tem três anos, mas temos 24 anos aqui”.
Depois de se mudar de Rondonópolis, a mãe de Eliane comandou o Verdurão Campo Velho, na avenida Carmindo de Campos, em Cuiabá. Pelo fato da profissão estar na família há gerações, a comerciante brinca que está no ramo desde que nasceu.
Foi trabalhando que ela conheceu o marido, que tinha um depósito de verduras no bairro Porto, na capital. Durante a pandemia da covid-19, Eliane chegou a abaixar as portas e deixou de atender os fregueses fiéis por oito meses.
“Mas não aguentei, os fregueses ligavam querendo frutas boas. Dona Janete Riva é minha freguesa, dona Graça, só gente boa. 'Volta, dona Eliane'. Falei para o meu marido que achei que ia voltar, eu também gosto, não consigo ficar parada, mas não voltei para a frutaria, comecei a vender aqui na frente”.
A barraca abre de quarta-feira a domingo e, quem passa pela rua, encontra Eliane ouvindo música enquanto acomoda cada uma das frutas e verduras nas prateleiras. O carinho que tem com o trabalho se tornou um diferencial entre os clientes, que saem de bairros distantes para comprar os produtos escolhidos a dedo por ela.
“Antigamente ia no Verdão, hoje vou lá no Distrito Industrial e escolho minha mercadoria, só coisas que sei que é boa. Eu que pego o tomate, escolho um bom, limpo tudo para colocar na banca, não vendo assim como no mercado, tudo amassado e sujo. Dá um trabalho, tem gente que dá valor, mas muita gente não dá, por causa de R$ 1 de diferença do mercado, reclama”.
A comerciante entende que, por conta da correria do dia a dia, alguns clientes costumam “sumir”. Ela não se preocupa, já que logo eles voltam em busca de frutas e verduras fresquinhas. “Tem gente que dá uma sumida, começa a ir comprar no mercado, mas depois liga pedindo. Tenho muitos fregueses médicos, que me acompanham desde o Mercado Municipal, as vezes fica mais fácil comprar no mercado mesmo, mas eles voltam”.
Alguns dos “sumidos” são recepcionados com carinho por Eliane enquanto ela conversa com a reportagem. Enquanto arruma os produtos escolhidos em uma caixa, a comerciante ensina a diferença entre salsinha e coentro ou alerta que o mamão está “docinho”.
Quando os fregueses fazem o pagamento, a simpática senhora de avental anda pelo estabelecimento pegando algumas frutas e verduras. Em uma das caixas, acrescenta mais dois chuchus como agrado. “Depois que a gente paga a conta, ela vai colocando os presentes”, brinca um dos clientes.
Apesar de gostar do que faz, Eliane lamenta pela rotina cansativa. Para conseguir escolher os próprios produtos, ela e o marido precisam acordar 1h30 para encarar o trajeto até o Distrito Industrial, onde ela escolhe as melhores frutas e verduras, garante. “Vontade de parar não falta, se eu tivesse dinheiro, eu parava, porque é cansativo”.