Em fevereiro deste ano, o australiano Simon Gagliardi, de 23 anos, visitou Cuiabá pela primeira vez e, assim que voltou para Adelaide, no sul da Austrália, onde morava com a família, decidiu contar aos pais que pretendia se mudar para o Brasil, mais especificamente para a capital de Mato Grosso. Há dois meses, ele vive a nova rotina de um legítimo "pau rodado" e pretende ficar na cidade por, pelo menos, um ano.
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Em Cuiabá, Simon experimentou Maria Isabel com farofa de banana e peixes de rio, que são tradicionais da culinária. O australiano conta que se impressionou por saber como a água, doce ou salgada, influencia no sabor do peixes.
"Em fevereiro conheci o Bar do Jarbas, Bar 44 e esse mês conheci Nuun Garden. Em fevereiro queria comer jacaré e tem na Lélis, só que com glúten, mas comi peixe de rio e farofa de banana, gostei muito. O sabor dos peixes de rio é diferente, a Austrália é perto da praia, tem um sabor diferente, nunca pensei como a água influenciaria no sabor. Aprendi a falar 'Cuiabrasa', 'xômano' e 'vôte', o sotaque as vezes alguém fala 'petche' e não peixe".
Como tem intolerância a glúten e lactose, Simon ainda não degustou o clássico baguncinha cuiabano. Na redação do Olhar Direto, ele experimentou alguns pratos típicos de Cuiabá e elegeu o bolo de arroz com o primeiro da lista de favoritos. A paçoca de pilão também foi um dos pontos altos para o australiano, assim como o pixé, que o impressionou por conta da textura.
Churrasco, feijoada e coxinha são outras receitas brasileiras favoritas de Simon. "Eu comi churrasco e coxinha no Zerou, no Centro, porque eles têm sem glúten e sem lactose, gostei muito de coxinha de mandioca, mandioca gostei muito, porque na Austrália não tem. Coxinha também não é comum na Austrália. Gostei muito de feijão, na Austrália não é normal na dieta".
Apesar dos termômetros australianos marcarem mais de 40ºC durante o verão, ele conta que o calor de Cuiabá não se compara com o que estava acostumado. Simon brinca que nunca suou tanto e viveu em um lugar com temperaturas que não saem da casa dos 40ºC, como tem acontecido nas últimas semanas em Mato Grosso.
"Austrália faz calor, chega a 40ºC, mas não como aqui, com uma semana inteira. Lá são uns três ou quatro dias, depois vai para 36ºC ou menos. Experenciei 40ºC na Austrália, mas nunca por dois meses.
Ontem a noite estava 30ºC, 20ºC é bom para dormir, 30ºC não sei. Muita fumaça e cheiro de fumaça, esses dias abri minha janela e tinham muitas cinzas, nunca vi isso na Austrália", comentou o australiano sobre as queimadas florestais que estão cobrindo o céu de Cuiabá há algumas semanas.
Decisão de mora na América do Sul
Simon explica que quando ainda morava na Austrália criou afinidade pela cultura latina e da América do Sul depois de ter contato com aspectos da música e gastronomia, por exemplo. No entanto, o jovem que agora trabalha como professor de inglês em Cuiabá, conta que não sabia se a conexão era profunda a ponto de morar no Brasil.
"Treinava jiujitsu na Austrália e como tenho amigos aqui, achei que Cuiabá faria mais sentido apra começar a morar no Brasil. Vim para Cuiabá para confirmar o quanto gostava do Brasil, porque como sou novo, achei que poderia ser só um pensamento e passaria, mas decidi verificar e morar no Brasil um pouco. Gostei mais do que pensei".
Quando visitou Cuiabá pela primeira vez, Simon lembra que tinha um nível quase intermediário de português. Agora, o australiano já é capaz de entender, se comunicar e pronunciar algumas gírias cuiabanas.
"Quando estava em Cuiabá em fevereiro, aprendi a cultura, conheci a comida, a música e as pessoas. Todo mundo é muito amigável, gosto da cultura brasileira, sinto que quero morar aqui pelo menos por um ano e depois talvez outra cidade do Brasil, quem sabe. Só conheço Cuiabá aqui no Brasil, tenho amigos aqui".
Para Simon, o fato da família ser italiana fez com que ele criasse um paralelo com a cultura brasileira. Ele conta que na Austrália abraços, beijos e outras demonstrações de afeto não são tão comuns como acontece no Brasil.
"Minha família é da Itália e acho que a cultura é parecida: amigável, com muita festa e comida. Então decidi que tinha que experimentar. Me sinto mais italiano do que australiano, por exemplo aqui é normal, abraçar e beijar quando você conhece alguém, na Austrália é um pouco estranho, as vezes você fala 'oi' e as pessoas não respondem. Me sinto mais combinando aqui".
O australiano lembra do choque causado quando comunicou os pais sobre a decisão de morar em Cuiabá por um tempo e explorar novas possibilidades no Brasil. Apesar da surpresa, a mudança foi bem aceita por ambos.
"Por alguns anos na Austrália eu sentei e expliquei que me sentia mais combinado com outra cultura, não me sinto muito combinado com a cultura da Austrália. Então, meus pais sabem desse sentimento. Pensava que talvez uma vida na América do Sul seria melhor para mim. Em março quando voltei para Austrália falei para eles que tinha gostado muito e que queria mudar, foi triste para eles ouvir isso, mas eles sabem que é isso que eu quero e que sei fazer minha vida sozinho".