Apaixonados por história, cultura e antiguidades, o casal de empresários Wersley Aguiar Gonçalves e Daiane Gaudencio, se apaixonou pelo casarão histórico que fica no número 359 da Rua Sete de Setembro, conhecida como Rua do Meio, no Centro Histórico de Cuiabá. Juntos eles toparam o desafio de restaurar o imóvel que já foi morada do coronel Manoel Peixoto Corsino do Amarante e da irmã dele, Balbina Amarante Orlando, em meados de 1855 e 1870.
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Mezanino, que abriu espaço para um segundo andar no casarão, e uma sala de cinema, são alguns dos elementos novos no imóvel. Desde agosto, o casal exibe filmes e documentários sobre a cultura mato-grossense no “Cine Adobe”, projeto que foi contemplado pela Lei Paulo Gustavo. Os documentários "Paradiso de Aníbal" e "Modo de Fazer: Viola de Cocho", já foram exibidos gratuitamente para alunos da rede pública.
Nomeado como “Casa de Adobe”, o casarão foi resgatado do estado de abandono após sete anos de restauração em uma reforma minuciosa, já que a obra precisou respeitar as peculiaridades de um imóvel tombado, como as paredes de adobe, técnica de construção civil que utiliza tijolos de terra crua, água e palha para construir habitações, e outras características originais.
“Fizemos a fachada retrofit, mantendo o mais original possível. Estamos buscando mais a originalidade, mas aqui também tem moderno no meio, é um moderno pregresso, já com uma cara mais de anos 70 para trás, porque exige esse tipo de coisa, entrada de luz e segurança, que o original não permitiria”, explica Wersley.
Retrofit é um termo utilizado na engenharia para designar o processo de modernização de um imóvel, como aconteceu na Casa de Adobe, que mescla materiais milenares como o adobe e atualidade com o uso do aço, por exemplo, para evidenciar a transição entre passado e presente.
“Deixamos os testemunhos e você olhando a estrutura toda você vai ver que a estrutura que não faz parte da casa original é sobre o aço. O aço é um material novo, moderno, e industrial, então a gente fez isso aí para poder entender que naquela estrutura ali é feito um acréscimo. A estrutura original é feita no material original mesmo, que é o adobe, a pintura com cal e tudo mais”, conta Wersley.
Sete anos de reforma
A jornada começou quando o casal decidiu deixar São Paulo e retornar a Mato Grosso para ficar mais perto da família. Durante uma visita à região, eles descobriram o casarão, que havia sido construído originalmente em adobe e pintado com cal. Após uma negociação com o proprietário, eles adquiriram o imóvel e iniciaram o processo de restauro.
“Nós sempre tivemos um sonho de ter um café jazz, porque a gente sempre gostou de centros históricos, nós sempre frequentamos museus ao redor do Brasil e também outros países e esse tema sempre nos encantou. Começamos uma coleção de coisas antigas, juntos e também cada um com a sua parte, coisas de família com memórias afetivas e também os objetos que a gente foi achando interessante”, lembra Daiane.
O projeto contou com a anuência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e envolveu uma equipe especializada em preservação histórica.
Hoje, o casarão é um centro cultural vibrante, abrigando uma coleção de objetos históricos e obras de arte. O espaço é um tributo ao patrimônio histórico material e imaterial de Cuiabá, oferecendo uma experiência única para visitantes.
Para o casal, é importante mostrar que existe espaço para que obras centenárias como os casarões do Centro Histórico de Cuiabá possam existir nos tempos atuais. Por dentro, o imóvel guarda aspectos da arte mato-grossense que conversam com antiguidades trazidas de viagens, como uma vitrola chilena. A escada caracol no pátio, por exemplo, foi trazida de São Paulo e pode ter feito parte do Porto de Santos.
Depois de subir a escada, um charmoso jardim suspenso tem vista para a Igreja Nosso Senhor dos Passados, também construída no século 18. Em agosto, o espaço começou a receber os primeiros eventos privados e a ideia, como explica Daiane, é que seja palco de oficinas, exposições e lançamentos, se consolidando como um centro cultural.
No futuro, o casal também pretende abrir um café jazz e uma loja de artesanato na Casa de Adobe. Com a iniciativa, Wersley e Daiane esperam que outros empresários também se interessem por investir no Centro Histórico. “A ideia é transformar esse lugar em um local onde estão todos os empreendimentos de cultura, gastronomia e turismo, no geral”.