O projeto Tattoo História, criado pelo tatuador Pedro Wagner, de 29 anos, nasceu quando um cliente chegou com a ideia de criar uma tatuagem original que eternizasse parte de sua trajetória. Depois de uma longa conversa para que Pedro pudesse conhecer a pessoa que estava lidando através da escuta atenta, o desenho foi criado e um vídeo que mostrava parte do processo viralizou no TikTok com mais de 850 mil visualizações. Essa primeira experiência aconteceu há cinco anos, mas foi o gatilho para que o tatuador decidisse investir em uma nova forma de fazer arte na pele.
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No início, Pedro contou com a ajuda do escritor Erick Salieri, autor de “Lágrimas de Porcelana”, para transformar o resultado das escutas em um texto literário. Durante o andamento do projeto, o jeito de fazer tatuagem priorizando a escuta ativa passou a ser uma metodologia ao ser utilizada na produção de arte, como quadros. Atualmente, os atendimentos são realizados na galeria Tadow Box, no bairro CPA, em Cuiabá, que além de ser uma incubadora de novos artistas, funciona como espaço para oficinas e encontros.
“O Erick foi um momento em que eu e ele entendemos juntos o que era o Tattoo História, criamos esse conceito de ouvir mais a pessoa, não é ouvir só a ideia da tatuagem, tamanho e tudo mais. Acabou que isso evoluiu para outras formas de arte, fizemos quadros, fomos chamados para a Casacor, onde fizemos uma área e a curadoria dos textos… Fomos fazendo outras coisas, levamos para a música, entreguei um quadro para um cliente e fiz uma música sobre o quadro”.
“Fomos criando essa ideia de ouvir a vida da pessoa para criar análises simbólicas, entender quais símbolos visuais essa pessoa carrega a vida toda para criar uma tatuagem que ela, literalmente, nunca vai se arrepender, porque a gente se baseia no passado da pessoa, que é um fato”, continua.
Depois de vários projetos executados e da dupla eternizar algumas histórias na pele dos clientes, Erick precisou deixar o Tattoo História para voltar a se dedicar integralmente à carreira de escritor. Foi neste momento que Pedro decidiu ir em busca de uma psicóloga, algo que ele já pensava há um tempo.
“Vi que não daria para ficar sem alguém, mas decidi que queria ir atrás de uma psicóloga, foi quando a Nadine [namorada de Pedro] me indicou a Giulia. Ela começou a frequentar o estúdio antigo, fomos conversando”.
A chegada de Giulia ao Tattoo História
A psicóloga Giulia Scramin Bumlai, de 25 anos, passou a frequentar o antigo estúdio de Pedro, onde eles se reuniam para fazer arte em suas mais variadas formas e discutir como poderiam dar continuidade ao Tattoo História, agora com a presença de uma profissional da psicologia.
“Não esqueço até hoje dela [Nadine] perguntando se meu CRP estava ativo, porque o Pedro estava precisando de uma psicóloga para trabalhar com ele. Não conhecia o Tattoo História, só sabia que ele era tatuador. Tinha zero contato com arte, sou psicóloga clínica, ainda tenho minhas pacientes, mas nunca pensei em envolver a psicologia com a arte, é uma possibilidade que estou descobrindo e me redescobrindo”.
Ainda que se questionasse sobre qual seria o papel da psicologia na criação de uma tatuagem, Giulia e Pedro fortaleceram a parceria a ponto de, atualmente, a psicóloga já ter entendido o processo criativo do tatuador. Além disso, apesar de nunca ter tido contato com experiências artísticas, Giulia afirma estar contente por alimentar a própria criatividade.
“Foi bem na primeira tatuagem que me encantei, porque pela primeira vez eu também pude me sentir um pouco artista ou pelo menos entender o que estava por trás da arte. Até então, eu achava que não tinha contato, tinha aquela ideia da arte e que eu era uma pessoa comum, que não criava nada, naquele dia entendi que não, que a arte está em tudo”.
Hoje, o processo do Tattoo História é uma sinfonia de colaboração. Os clientes passam por uma sessão com Giulia, que analisa suas histórias e sugere símbolos. Pedro recebe essas análises, combina com suas referências artísticas e cria desenhos únicos.
Em alguns casos, os clientes são desafiados a revisitar o passado: “Teve um cliente que precisou conversar com a mãe sobre o pai falecido. Isso transformou não só a tatuagem, mas também a relação deles”, relembra o tatuador.
A ideia, que nasceu do desejo de Pedro de ir além do comum, hoje é um movimento que transcende a tatuagem. “Desde o começo, eu não queria ser apenas mais um tatuador”.