Nos anos 2000, a primeira atriz brasileira a ganhar um Globo de Ouro esteve em Cuiabá para gravar oito comerciais para a antiga Rede Cemat, que se tornou a Energisa anos depois. A campanha foi criada e dirigida pelo cineasta Bruno Bini, que, em entrevista ao
Olhar Conceito, relembrou a experiência de trabalhar de perto com Fernanda Torres.
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Há 25 anos, a mãe de Fernanda Torres, a atriz Fernanda Montenegro, também foi uma das indicadas ao Globo de Ouro e ao Oscar pela atuação como Dora, em “Central do Brasil”. Apesar de Montenegro não ter levado uma das estatuetas para casa, Torres seguiu seus passos e foi premiada como Melhor Atriz de Drama, mesma categoria que a matriarca da famíia foi indicada.
A atriz, que ficou conhecida pelos papeis cômicos em “Os Normais” e “Tapas e Beijos”, levou o prêmio por ter vivido Eunice Paiva, esposa do ex-deputado federal Rubens Paiva, uma das vítimas da ditadura militar, em “Ainda Estou Aqui”, que assim como Central do Brasil, foi dirigido por Walter Salles.
Antes de entrar para a história do cinema brasileiro, Fernanda Torres esteve em Cuiabá para a campanha publicitária da antiga Cemat. Bini lembra que a atriz chegou preparada e foi extremamente generosa com todos no set de filmagem, mesmo em meio a correria de gravar oito comerciais em uma única diária.
“Foi uma diária bastante corrida, cada comercial era em um local. Ela chegou muito pronta, generosa, muito dedicada, deu para perceber que ali tinha uma artista dedicada ao ofício dela, que é atuar e interpretar. É óbvio que a campanha não tem a demanda dramática de alguns dos trabalhos dela, era uma campanha bem humorada, conversava muito mais com o estilo de Tapas e Beijos ou de Os Normais, então ela trouxe essa leveza que ela consegue carregar”.
O cineasta cuiabano, que recentemente gravou “Cinco Tipos de Medo”, estrelado pela atriz Bella Campos, reforçou a capacidade de Fernanda Torres transitar entre a comédia e uma intensidade dramática como a exigida pelo papel de Eunice Paiva em "Ainda Estou Aqui".
“Deu para ver uma artista muito compromissada, uma pessoa muito entregue ao trabalho e com muito talento, parece que é muito fácil para ela, parece que ela interpreta com muita facilidade, mas a gente sabe que existe ali um exercício de anos e anos de estudo, conhecimento e mergulho técnico no trabalho do ator”.
“É lógico que tem muito talento ali, mas tem muita dedicação, foi maravilhoso ver isso. A Fernanda veio e fez a diferença na campanha, se entregou, foi muito tranquilo e muito legal presenciar e ser testemunha do quanto ela enquanto artista é alguém que tem uma capacidade de se entregar com tanta responsabilidade ao seu trabalho”, continuou.
Bini ressalta ainda que a vitória de Fernanda Torres no Globo de Ouro é uma conquista gigantesca, tanto para ela própria enquanto atriz, quanto para o audiovisual brasileiro.
“Existe um contexto por trás dessa premiação, que é o fato da mãe da Fernanda ter sido indicada 25 anos atrás, tanto ao Globo de Ouro, quanto ao Oscar, que premiou a Gwyneth Paltrow, sendo uma das premiações mais criticadas daquele ano. Ficou um gosto ruim na boca, ficou ruim por duas décadas e meia, foi algo que os brasileiros sempre viram como uma injustiça”.
“Com a vitória da Fernanda, muita gente pode ver isso como uma correção de uma injustiça, mas também como uma coisa do destino, de manter entre mãe e filha essa construção dessa conquista gigantesca para o cinema brasileiro. Ter duas atrizes, super talentosas, envolvidas nesse processo. Um prêmio desse, uma indicação ao Oscar, que pode ou não vir, é algo que traz a atenção do mercado do cinema mundial e do público também para o conteúdo cinematógrafo brasileiro e isso é muito interessante”, completou.
