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Quinta-feira, 20 de março de 2025

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Conheça história de protetora que tenta encontrar lar para mais de 40 gatos resgatados em Cuiabá

Foto: Reprodução

Conheça história de protetora que tenta encontrar lar para mais de 40 gatos resgatados em Cuiabá
A rotina da protetora animal Pollyana Iris Lima de Sousa, de 36 anos, é marcada pelo trabalho solitário que envolve o cuidado de 40 gatos resgatados, algo que envolve malabarismos financeiros e invade a vida pessoal, já que ela, por muitos anos, evitou ter gastos consigo mesma para priorizar a necessidade dos felinos. Para Pollyana, que tenta encontrar novos lares para os gatos, faltam políticas públicas destinadas para animais que estão nas ruas, fazendo com que o sentimento de alguns protetores seja o de “enxugar gelo”. 


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“Os protetores estão enxugando gelo, porque a gente faz uma vaquinha para castrar um gato e logo na esquina tem uma gata grávida que está parindo cinco. Colocam muito nas costas dos protetores individuais, e estão todos doentes. Acho que quem faz sozinho, é porque ama muito, mas abdica da sua própria vida e da sua saúde. Coisas acontecem por causa disso, eu fico limitada na minha vida, não consigo viajar, por exemplo, porque não têm quem cuide dos gatos para mim. Fui colocando os gatos na casa da minha mãe, ela se mudou, então existem problemas que acontecem por causa disso”. 

Os resgates de Pollyana começaram em 2015, quando o gato que era cuidado por uma vizinha ficou na rua quando ela se mudou do bairro. Como ela e a família tinham um cachorro, não era possível acolher o gato dentro da casa, mas ela construiu um abrigo e passou a alimentá-lo. 

Alguns dias depois, o gato apareceu muito machucado e precisou de atendimento veterinário. “Decidimos que íamos adotar ele, telamos as janelas e tudo mais. Esse foi meu primeiro gato da vida, que foi o Sallen. Depois que ele chegou começaram a aparecer mais gatos e foi ficando mais difícil de doar. Um dia apareceu o Gerânio e no outro dia a Filó, que eu achei que fosse ser fácil de doar porque eles eram muito bonitos, tinham uma pelagem diferente”. 

Como a casa da mãe ficava perto de áreas de mata, era comum que gatos aparecessem ou que filhotes fossem abandonados pela região. No início, Pollyana conseguiu encontrar novos donos para os gatos que acolhia, algo que se tornou cada vez mais difícil. Gerânio, por exemplo, foi doado apenas há dois anos, enquanto Filó ficou com Pollyana até falecer, há duas semanas. 

“Depois apareceu uma gatinha na rua com a perna machucada, peguei ela para cuidar e ela ficou. Um dia abri a porta de casa, um gato entrou, sentou no sofá e não quis ir embora mais. Depois apareceu uma gata grávida e coloquei ela para dentro para ela ficar em segurança. E aí começou a aumentar e ficar meio sinistro”, lembra. 

“Alguns eu conseguia doar, outros não, chegava gata grávida, eu conseguia doar os filhotes, mas a gata ficava. Foi aumentando e eu fiquei oscilando entre 13 e 17 gatos. Eu doava um, chegavam três, doava outro, chegavam quatro”, continua. 
 

Não demorou para que os abandonos na casa de Pollyana se tornassem frequentes. A protetora animal conta que, muitas vezes, estava indo dormir e, ao apagar as luzes da residência, começava a ouvir miados de filhotes de gato no quintal. “Alguns eram abandonados filhotes, mas acho que a vizinhança começou a entender que eu cuidava, nisso as pessoas tiram a própria responsabilidade: não castrei minha gata, ela pariu em casa, mas ali tem alguém que cuida”. 

Em um dos resgates marcantes que realizou durante os 15 anos em que cuida de gatos abandonados, Pollyana encontrou dois filhotes de gato dentro de uma caixa de sabão em uma sacola de plástico. Deixados para morrer no sol do meio-dia, eles foram resgatados por ela. 

“A sacola estava muito amarrada, com um nó muito forte, dentro dela tinha uma caixa de sabão em pó e os gatos estavam dentro dela. Era um sol de meio-dia, eles estavam falecendo já de calor, peguei e levei para o veterinário correndo. No ar condicionado eles foram se recuperando, receberam os atendimentos, mas eles eram muito bebezinhos, tinha que dar a fórmula de três em três horas, estimular para fazer xixi e cocô”. 

Os irmãos tiveram um final feliz, já que Pollyana conseguiu doar os dois juntos, mas novos gatos continuaram chegando na vida e na casa dela. 

Rotina extenuante 

Atualmente, Pollyana mora com 42 gatos de diversas idades, entre filhotes de quatro meses e idosos. Há três semanas, uma gata pariu na casa da protetora animal e, agora, ela também se prepara para encontrar novos lares para os filhotes. Do momento em que se levanta da cama até a hora de deitar novamente, a rotina da protetora animal é moldada em torno das necessidades dos animais, algo que muitas vezes a faz pensar “quem cuida de quem cuida?”. 

“Às vezes a gente fica muito desamparado, é de domingo a domingo, não tem um dia de folga e não é um trabalho tranquilo, me demanda horas do dia. São horas pela manhã, horas no final da tarde, limpar todas as caixas de areia, limpar os pratinhos, limpar os cômodos que eles vão ficar, ficar manejando a quantidade de ração, areia, suplemento vitamínico. Essas coisas são realmente exaustivas fisicamente e mentalmente”. 

A cada quatro dias, Pollyana precisa de 10 kg de ração para alimentar os gatos, por isso vive em economia constante. Como em janeiro ela precisou custear algumas internações, o gasto mensal subiu de R$ 2,5 mil para R$ 4 mil. Conseguir os recursos financeiros que precisa para cuidar dos 42 animais é um eterno jogo de equilibrar pratos para a protetora animal. 

“Tem algumas pessoas que me ajudam financeiramente, mas mesmo assim não é nem metade do que eu gato, eu tenho que fazer todo tipo de corre para tentar fazer alguma coisa. Tenho parceria com alguns bares, eles juntam as latinhas, eu passo lá e pego para vender, às vezes dá o valor de uma ração de filhote ou dois pacotes de areia, isso já ajuda, né? A galera doa algumas coisas para eu revender também, mas não é tranquilo e nem fácil”. 

Apesar de não pensar em deixar de ajudar a causa animal, há um ano Pollyana percebeu que estava se deixando de lado e vivendo apenas para garantir uma boa vida para os gatos que resgata. 
 

“As pessoas me chamam para sair e eu tento ir, porque antes ficava pensando que gastaria o valor que poderia comprar um saco de ração ou no que tinha para fazer do cuidado dos gatos. Não é fácil mesmo, a gente faz só porque a gente quer muito ver esses gatos bem, em casas de pessoas que têm essa noção e essa responsabilidade de que gatos não são objetos ou ursinhos de pelúcia, precisam de cuidado e segurança”. 

Mesmo com as dificuldades, Pollyana afirma ser movida pelo amor que sente pelos gatos que moram com ela atualmente, apesar de entender que os protetores animais não conseguem seguir sozinhos apenas com o afeto que sentem. 

“É muito puxado para uma pessoa só fazer, isso tinha que ser algo público mesmo. É muito ruim você querer que as pessoas resolvam só com amor no coração e boa vontade, não dá, as pessoas ficam adoecidas. Não sei se você sair perguntando para todos os protetores se eles estão doentes, se algo desregulou, aqui desregulou minha família, minha mãe saiu de casa”. 

Pollyana tem um perfil no Instagram onde divulga os gatos que estão para adoção, uma forma que encontrou de chamar atenção para a causa animal. A protetora animal estima que 100 animais já passaram pela casa e mais de 70 já foram adotados. 

“Realmente amo esses gatos, quando eles chegam para mim, eu pego um amor que é fora do comum e a única coisa que eu quero é que eles tenham a melhor vida possível. É por isso que coloco eles para adoção, porque sei que eles merecem atenção exclusiva, aqui eu tenho que dar atenção para 40 gatos, além de ter 24 horas em um dia para conseguir dinheiro, para fazer as coisas e limpar, sobra muito pouco tempo. Por amar eles demais, quero o melhor para eles”. 
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