Outro dia estava conversando com uma amiga sobre leitura e ouvi algo que não me desceu bem. Precisei discordar, desenrolei um novo caminho possível para aquela teoria. Talvez o que ela me disse seja mais recorrente do que imagino. Por isso, trago a questão para essas linhas (inclusive, avisei-a naquele momento que faria isso).
 
Essa amiga ouviu de um coach no Instagram que devemos extrair o máximo de cada leitura, assimilar com profundidade, focar, aprender e colocar em prática ou de nada adianta abrir um livro. Perguntei o que ela estava lendo e... ela estava “empacada” em um livro pois não estava conseguindo dar tudo de si naquela tarefa de máxima produtividade.
 
Preciso dizer que é realmente muito bom quando a gente termina um livro e retira dele aprendizados para a vida prática. Mas, colocar a leitura apenas neste espaço faz com que ela fique pesada. Talvez gere ansiedade, sensação de incapacidade e outros tantos gatilhos que já lotam nossa mente nos dias de hoje.
  
Eu sugeri a essa amiga que parasse a leitura ao estilo “trabalhe enquanto eles dormem” e escolhesse o romance mais água com açúcar que ela encontrasse. Ler sem pressa nem pressão, de pernas para cima, quando estivesse com vontade e sem se preocupar com nada além da história.
 
Falei que, paradoxalmente, depois de ler muitos livros assim, por puro prazer, é que ela iria desenvolver naturalmente uma maior habilidade de se concentrar e focar em leituras mais complexas e difíceis – e aí “desempacar” o livro do coach.
 
Vamos normalizar a leitura por prazer. A leitura sem metas inalcançáveis, escolhida para aguçar os sentidos e potencializar a imaginação. Despretensiosamente, é ela quem vai nos levar a lugares que nem imaginamos. Como disse Rubem Alves, "Um livro é um brinquedo feito com letras. Ler é brincar!". Quem disse que aprender e crescer não pode ser divertido?
  
Thalita Araújo é jornalista, empreendedora, mediadora do Clube de Leitura Antes de Dormir e fala mais sobre o assunto no @leioantesdedormir.