As irmãs Luana Feitosa e Bianca Ludimille, de 28 e 22 anos, cresceram ao redor do fogão, observando a avó comandar as panelas de um dos maiores restaurantes de São José do Rio Preto (SP). Inspirada pelas memórias ao lado da matriarca na cozinha, Bianca começou cedo a se aventurar nas próprias receitas, fazendo com que a confeitaria se tornasse um de seus maiores hobbies. No entanto, foi graças ao casamento de Luana que a paixão despretensiosa pela produção de doces virou um negócio familiar.
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A irmã foi a primeira cliente da Le Bianque Doces Finos, que hoje já é uma empresa estruturada em Cuiabá, que atende casamentos dentro e fora de Mato Grosso. No entanto, quando Luana se casou, em agosto de 2023, em Cianorte (PR), o sonho ainda não tinha saído do papel. Por isso, o convite para fazer a mesa de doces da cerimônia foi motivo de apreensão.
“Eu como noiva na época, ainda mais pós-pandemia, não queria que as pessoas pensassem no meu dinheiro, gostaria que as pessoas pensassem no meu sonho. Conversando com ele, falei que já tinha feito degustação e não tinha me agradado. Foi quando ele disse: por que não a sua irmã fazer os doces do casamento? Quando falei para ela, ela disse: Luana, não, nós estamos falando de toda a logística de levar esses doces a mais de 1000 km”, lembra Luana.
Apesar de Bianca ter o conhecimento técnico, ela nunca tinha trabalhado, de fato, com confeitaria. “Mas tudo que você perguntava para ela, ela sabia”, ressalta Luana. Mesmo apreensiva, a irmã aceitou o convite e começou uma preparação intensa, como a compra de moldes para a produção dos doces. Na primeira encomenda que aceitou na vida, Bianca produziu 800 unidades para o casamento da irmã e cuidou da logística para que tudo chegasse perfeitamente no Paraná.
“Ela finalizou todos esses doces aqui no Paraná, na semana do meu casamento, foi uma logística muito grande. Por isso que hoje, de fato, somos uma empresa preparada para atender casamentos fora, porque a gente já sabe o que dá muito certo e o que dá muito errado. E aí eu casei, postei a foto do meu casamento e começou a fazer sucesso, muitas pessoas perguntando onde eu tinha encomendado”.
De forma orgânica, a mesa de doces do casamento de Luana foi um dos destaques do site Central da Noiva, especializado em repercutir as tendências no universo matrimonial. “Fez o maior sucesso entre os convidados, acho que os doces fizeram mais sucesso do que os noivos na época. Todo mundo começou a perguntar se minha irmã fazia doces de casamento”.
Empresa familiar nasceu oficialmente depois do casamento de Luana, que convidou a irmã para fazer a mesa de doces da cerimônia. (Foto: Arquivo pessoal)
Nasce a Le Bianque Doces Finos
A beleza da mesa de doces da cerimônia de Luana chamou atenção da segunda cliente da Le Bianque. Na época, a influenciadora entrou em contato perguntando se Bianca aceitaria outro desafio. “Ela iria casar no civil. Conversei com a minha irmã, ela disse que era uma responsabilidade muito grande, que ela ainda estava se aperfeiçoando. Eu casei em agosto e o casamento dessa influenciadora era em dezembro, ela casou no Mirante das Águas”.
Luana lembra que, apesar delas já saberem que a empresa se chamaria Le Bianque, o negócio ainda não existia oficialmente. Depois de conversar com a irmã, Bianca se encheu de coragem e topou fazer a segunda encomenda. De novo, a repercussão em torno dos doces foi rápida.
“As pessoas começaram a procurar minha irmã, porque essa influenciadora fez um vídeo provando os doces do casamento dela, deu mais de 300 mil visualizações. As pessoas queriam saber quem era, qual era o Instagram e a gente não tinha nada, a não ser o sonho e o nome. Foi um desespero, porque a gente queria sim iniciar a empresa, mas não era em 2023, a gente ia começar toda a parte de branding e formatação da empresa no final de 2024”.
“Do nada tivemos que fazer um Instagram e começamos a ser reconhecidas até hoje, de forma totalmente orgânica, nunca pagamos para nenhum influenciador conhecer o nosso trabalho. Até porque estávamos começando, não tínhamos caixa para isso”.
O ano de 2023 terminou com a Le Bianque criada. Em 2024, as irmãs começaram a ser conhecidas por cerimoniais de Cuiabá, que entravam em contato com mais pedidos de encomendas. No primeiro ano oficial de empresa, Bianca e Luana atenderam mais de 50 clientes.
“Foi um ano em que o Senhor abriu todas as portas, onde nós começamos a chegar em lugares de fato que a gente não imaginava, de noivas começando a disputar data. Para nós foi surpreendente. Fomos construindo nossa marca”.
Atendimento sob medida, doces autorais e sonho levado a sério
Luanda conta que quando decidiram criar a Le Bianque, o objetivo não era apenas oferecer doces para eventos, mas entregar uma experiência única, com exclusividade em cada detalhe e acolhimento desde o primeiro contato. “A gente decidiu que teriam doces tradicionais, mas não queríamos que fosse apenas um brigadeiro. O nosso é um brigadeiro, mas a base dele é um copinho”.
Com foco no mercado de casamentos e atendimento 100% personalizado, a marca envia uma caixa de degustação com 25 doces e seis tipos de bem-casados até a casa do cliente, sem custo adicional. “As pessoas não querem sair de casa, elas querem conforto. E não é problema nenhum, para nós é um privilégio”, completa.
Irmãs buscam referência do que é tendência fora do Brasil para criar doces com sabores exclusivos como o Amarula e Aperol. (Foto: Arquivo pessoal)
A exclusividade também se reflete nos lançamentos: os doces autorais de Aperol e Amarula, feitos com moldes importados da Turquia, são algumas das criações que chamam atenção pelo visual e sabor. “Queríamos que, primeiro, as pessoas comessem com os olhos”, afirma. Neste mês, um novo molde chegou da Bélgica, ainda em segredo.
Apesar da rápida ascensão da marca, Luana conta que tudo ainda parece um sonho: “Quando nos perguntam se damos cursos, respondemos que não. Somos apenas iniciantes e sonhadoras. Nunca imaginamos que chegaríamos onde chegamos”.
O projeto tem raízes familiares. As irmãs cresceram vendo a avó comandar um dos maiores restaurantes de São José do Rio Preto (SP). Bianca, a caçula, se apaixonou cedo pela confeitaria, e a habilidade virou ofício. O carinho entre as duas também está na origem da Le Bianque. “Fui a primeira noiva. Quando olho para minha mesa de doces, lembro do carinho da minha irmã em ter me abençoado com aquilo”, diz Luana, emocionada.
Hoje, elas dividem o negócio mesmo à distância: Luana, que vivia no Paraná trabalhando como assessora parlamentar, deixou a política de lado para se dedicar à empresa, que atende casamentos dentro e fora de Cuiabá, como neste ano, quando viajaram para Campo Grande (MS).
“Não é sobre contrato ou dinheiro. É sobre realização. A cada mês, buscamos entregar o melhor. É por isso que nossa matéria-prima vem de fora do Brasil e de São Paulo. Não queremos ser melhores que ninguém, mas sabemos que sempre podemos oferecer algo maior e melhor”, conclui.
Embora tenha nascido do vínculo entre as irmãs Luana e Bianca, hoje envolve também outros membros da família em diferentes etapas da produção. A mãe, Joana, e a avó, Maria, dando apoio na rotina da cozinha. Os tios Cláudio e Pedro ajudam na logística dos eventos. Já o cunhado Fernando, é quem cuida da área de marketing e da identidade visual da marca.
Para Luana, o maior presente da Le Bianque vai além do sucesso do negócio: é poder compartilhar essa jornada com a irmã. “Somos só nós duas na família, não temos primos, não temos outros sobrinhos, somos só eu e a Bianca”, conta. “Falar disso me emociona porque nunca pensei em empreender, muito menos ao lado da minha irmã. Mas ver tudo o que construímos juntas, com humildade e sonho, é a maior realização que eu poderia ter.