No coração do Centro Histórico de Cuiabá, a Rua 13 de Junho já foi palco de episódios marcantes, como a instalação da primeira linha de bondinhos da cidade, puxados por burros e usados no trajeto até o Porto de 1891 a 1918. Os trilhos desapareceram com o tempo, e parte da arquitetura original também se perdeu, como o antigo casarão que abrigou o primeiro arcebispo da capital, Dom Carlos Luís d’Amour, e depois foi lar de Dom Aquino. A rua, que já atendeu pelo nome de "Bela do Juiz", inspirado no romance de um magistrado forasteiro com uma moradora da região, hoje concentra dezenas de lojas que enchem as vitrines com produtos que fazem sucesso nas redes sociais.
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Pedestres sobem e descem pelas calçadas da Rua 13 de Junho, muitos carregando sacolas. “Encontrou as canetinhas do Bobbie Goods?”, pergunta uma mulher para a amiga, enquanto passam pelas vitrines. Bobbie Goods são livros para colorir que se tornaram uma febre mundial depois de viralizarem em vídeos de influenciadores digitais. Eles saíram direto do Instagram e do TikTok para as lojas do Centro de Cuiabá.
Bobbie Goods é apenas mais uma das tendências virtuais do mundo moderno que viram produto. Uma das vendedoras da loja Queebag, que fica na Rua 13 de Junho, conta que é preciso ficar atento com o que está "bombando" nas redes sociais. Na vitrine da maioria dos estabelecimentos, dezenas de cadernos Bobbie Goods, kits com canetinhas, que vão de 12 a quase 200 unidades, capivaras, Labubus e copos Stanley são as estrelas.
Por trás das fachadas cheias de novidades virais existe uma lógica ágil de consumo que faz desse trecho do centro uma espécie de “25 de Março” local. O paralelo com a rua paulistana, conhecida como centro de distribuição informal de tudo que é tendência, vai além da comparação simbólica: muitos dos produtos vendidos em Cuiabá chegam primeiro na capital paulista.
Lojas da Rua 13 de Junho se atualizam com frequência para acompanhar rapidez do que é moda nas redes sociais, como capivaras e Labubu ou 'Lafufu', como as réplicas do "monstrinho" de pelúcia são chamadas. (Foto: Olhar Conceito)
Lili, de 23 anos, é chinesa e comanda a loja Oriente junto com a mãe, na Rua 13 de Junho. Ela conta que os produtos mais vendidos no momento vêm, justamente, da Rua 25 de Março, onde estão atentos ao que faz sucesso nas redes. “A gente compra lá. O que está vendendo bem em São Paulo, a gente traz pra cá”, resume.
Os itens seguem o rastro de virais e modinhas: de objetos com a imagem da capivara, que virou chaveiro, tapa-olho para dormir, pelúcia de todos os tamanhos, adesivos e centenas de objetos de papelaria. A imagem tranquila e carismática do animal que é amado pelos cuiabanos, foi apropriada por uma estética leve e humorada da internet, que a transformou em meme, figurinha de WhatsApp.
Tal fenômeno fez com que marcas e lojistas corressem para transformar o bicho em produto, que é vendidos na maioria das lojas da Rua 13 de Junho que tem se reinventado entre passado e presente. O passado aparece nas fachadas, nas esquinas e no resgate da memória feito por historiadores como Francisco Chagas, que publicou um vídeo contando parte na história no perfil Cuiabá de Antigamente, que é administrado por ele.
"A Rua 13 de Junho, aqui no Centro de Cuiabá, também já se chamou Rua Bela do Juiz, esse nome foi por conta do escândalo amoroso envolvendo o então governador da recém criada capital do Mato Grosso, Dom Antônio Rolim de Moura, Casa antiga que pertence a família Lotufo, e o ouvidor da vila", conta o historiador.
O romance entre o juiz, que era responsável por aplicar as sentenças, e a bela cuiabana não foi para frente, mas fez com que a rua ficasse conhecida como Rua Bela do Juiz. Depois, o trecho foi rebatizado como Rua 13 de Junho, em homenagem à retomada de Corumbá, em 1867, na época em que Mato Grosso e Mato Grosso do Sul eram um, pelo coronel Antônio Maria Coelho.
No presente, as vitrines mudam a cada semana. São os vídeos curtos que viralizam nas redes sociais que ditam o que vai ocupar cada uma das prateleiras.