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Sexta-feira, 19 de abril de 2024

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Breve ensaio sobre o homem e o constante frenesi da mudança

Foto: Reprodução / Ilustração

Homem: o fanfarrão das mudanças.

Homem: o fanfarrão das mudanças.

A natureza sempre esteve em constante movimento. Transformando girinos em sapos, lambaris em tubarões, lagartos em cobras, homens em veados, neandertais em construtores de bombas atômicas. Não que tubarões descendam de lambaris, ou que os neandertais e os homo sapiens sejam parentes, não é isso. O que quero dizer é que a natureza sempre esteve experimentando, sempre esteve em transformação, mexendo aqui, fuçando ali.

Para ler ouvindo Time They are a Changing - Bob Dylan
Para absorver visitando a obra de Francis Bacon

A sociedade não foge a regra. Variando aqui/ali, o homem molda o ambiente ao seu redor, e por conseqüência, a si mesmo, fato contínuo, o bando do qual faz parte. Seja transformando animais em casaco para nos proteger das mudanças climáticas, seja dominando o fogo para fazer um assado delicioso ou inventando a roda para transportar o que fosse, a sociedade sempre arranjou um jeito de modificar coisas, atitudes, idéias, parâmetros. O que me faz pensar que a única coisa certa nesse mundo, além de que um dia todos nos iremos vestir o paletó de madeira, comer grama pela raiz, como preferir; é que o mundo curte uma mudança.


Homem e seu eterno desejo de moldar o universo ao seu modo

Trazendo essa reflexão para o campo das relações sociais, o que é certo hoje, pode ser extremamente errado amanhã, e o que era errado ontem, pode ser justo, muito justo, justíssimo no novo amanhecer. O que poderia deixar a sua tataravó de cabelos em pé no século passado (como mulheres usando calça comprida) hoje é aceito com extrema normalidade. Gal Costa, no auge da fama, lá pelos idos dos anos 70, foi chamada de prostituta nas ruas de São Paulo por usar calças, conta seu namorado à época, o cantor e compositor Tom Zé. “Naquela época só puta usava calça mesmo”, sentenciara.

Imagine um garoto de 15 anos, em 1912, andando pelas ruas de Cuiabá, com um vistoso brinquinho na orelha? A não ser que ele fosse um cigano ou algo do gênero, a sociedade o discriminaria imediatamente, rotulando o incauto de marginal, veado e drogado, para ficarmos em poucos exemplos. Hoje em dia, em certos grupos, ou ‘gangues’, ele seria discriminado exatamente pelo motivo oposto: por não usa-lo. Nem entrarei na questão dos piercings.

Outro exemplo: no velho oeste, Calamity Jane, uma bandida pistoleira muito da perigosa, não só usava calças como se apropriava de várias outras coisas do universo masculino, como roubar bancos e arranjar brigas em ‘saloons’ (nos dias de hoje ela seria um perfeito exemplar do que conhecemos como ‘caminhoneiras’: lésbicas que propositalmente se vestem como homens, se comportam como homens, coçam a genitália e o escambal). Foi chamada de sapatão. E não o era. Dizem que seu coração vivia dividido entre a pistola de Billy The Kid e o trabuco de Jesse James, dois colegas de serviço de Jane Calamidade.

A sociedade sempre está à procura de um rótulo, para facilitar as coisas. Até porque esse negócio de mudar a todo o momento dá uma tremenda dor de cabeça. Vamos ver o caso dos homossexuais. Urânia é umas das Musas criadas a pedido de Zeus, para cantar a vitória dos deuses do Olimpo sobre os seis filhos de Urano. Por ser representada na maioria das vezes acompanhada por instrumentos matemáticos, é considerada a musa dos astrônomos e astrólogos. Ainda segundo a mitologia – que é um ‘troço’ bem bagunçado, Urânia era filha de Urano ou Zeus, não se sabe ao certo. O que se sabe é que ela foi gerada sem mãe.

Pois bem. Por algum motivo Afrodite, deusa grega da beleza, do amor, da regeneração, da paixão sexual e protetora dos homossexuais (vai ter atribuições assim lá em Brasília) escolheu Urânia como seu cognome (sobrenome escolhido por gregos e romanos com base num traço físico ou de personalidade). E pronto, bastou isso para que algum sacana, que a história desconhece, apelidasse os gays da época de uranistas (alusão ao segundo nome da protetora dos gays). A palavra qualifica o homem ou mulher que sente desejo pelo parceiro do mesmo sexo, ou como disse sabiamente nosso queridinho Oscar Wilde, aqueles que praticam “o amor que não ousa dizer o nome”.


Urânia, que de tanto mudar de útero nasceu de dois pais e não tem mãe.

Hoje aquele que quiser se dirigir a alguém da sexualidade outra, sem respeito nenhum e sem nenhum traço de civilidade, como assinalam os preconceituosos, tem um número bem maior de títulos a proferir: gay, veado, bicha e tantos outros que pipocam na nossa sociedade por inúmeras razões (a maioria delas pejorativas e inúteis, tendo em vista que só servem para fomentar o ódio e o separatismo entre as pessoas).

Seja como for, tratar esse traço do homem tão comum a todos, a mudança, deveria ser tratado com a leveza e o respeito merecidos. Como disse no início, a natureza, a sociedade e o homem estão em constante transformação. Algumas civilizações, como a grega, a helênica e a macedônica aceitavam com normalidade a relação afetiva e sexual entre pessoas do mesmo sexo. Já outras civilizações consideram a homossexualidade um crime pagável com pena de morte, como em certos estados chineses e nações arábicas.

Portanto, é preciso ter cautela na hora de julgar alguém ou certo comportamento. Se eu fosse algum líder muito louco, para o bem ou para o mal, a exemplo de Hitler, Fidel e Ghandi, a minha primeira ordem seria: não julgue para não ser julgado (opa, alguém já disse isso, não?). Afinal de contas, a bichinha de hoje pode ser o Alexandre Magno de amanhã.
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