O cuiabano Jefferson Silveira, de 45 anos, começou a restaurar fotos antigas da própria família por hobby, movido pelo fascínio de ver o passado ganhar vida novamente. Com o tempo, o interesse se voltou para imagens da cidade de Cuiabá, e o trabalho manual, que antes levava quase uma semana por foto, passou a ser potencializado com o uso da inteligência artificial. Hoje, Jefferson utiliza a tecnologia tanto para restaurar fotografias quanto para produzir vídeos históricos, conseguindo resultados mais rápidos e precisos do que o método tradicional.
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"Certa vez vi na internet uma foto antiga de Cuiabá e resolvi restaurar e colorir. Na época, esse processo era totalmente manual e levava quase uma semana para ser concluído. Depois eu publicava nas redes sociais, e as pessoas sempre demonstravam muito apreço. Mas eu fazia apenas de vez em quando, porque o trabalho era bastante demorado", conta ao Olhar Direto.
Com a chegada da inteligência artificial, o processo se tornou mais rápido e eficiente, permitindo que a restauração de fotos e a produção de vídeos históricos sejam feitas de forma muito mais ágil.
"Fiquei surpreso com o resultado. Ainda precisei fazer ajustes em ferramentas de edição, mas o resultado foi incrível — e muito mais rápido do que o método manual. Hoje, a IA se tornou minha principal ferramenta tanto para restaurar fotos antigas quanto para produzir vídeos históricos".
"Meu leque de ferramentas aumentou muito com as novas opções disponíveis. Hoje, praticamente todas as principais plataformas de IA — como ChatGPT e Gemini — já trabalham com imagens, assim como o próprio Photoshop. Isso facilita bastante o processo", continua.
Antes de iniciar cada projeto, o restaurador realiza uma pesquisa minuciosa. Ele consulta acervos oficiais, como o do IBGE, Arquivo Público de Mato Grosso e Arquivo Nacional, além de recorrer a materiais jornalísticos, sites especializados e redes sociais, como o grupo “Cuiabá-MT de Antigamente” no Facebook.
Para garantir que o resultado final de seus vídeos e restaurações seja fiel à história original das imagens, Jefferson segue um processo detalhado. “Quando se trata de um vídeo, sigo várias etapas: defino o tema, elaboro o roteiro, valido o conteúdo historicamente, crio os personagens, pesquiso todas as imagens que vão compor as cenas, produzo as imagens, animo as cenas, faço os diálogos e narrações e, por fim, publico o vídeo no Instagram. Esse processo garante que tudo mantenha coerência histórica e visual”, explica.
Tela do pintor Victor Hugo ajudou a criar restauração da fachada do luxuoso Cine Tropical. (Foto: Arquivo pessoal)
Algumas imagens tiveram impacto especial em seu trabalho, como a do Cine Tropical, considerado o mais luxuoso do Centro-Oeste em sua época. A única referência de qualidade existente era uma pintura do artista Victor Hugo, que havia trabalhado no cinema pintando cartazes.
“A partir desse quadro, consegui desenvolver uma versão realista do cinema. Se não fosse a obra do Sr. Victor Hugo, talvez não tivéssemos nenhum registro visual desse histórico local. Ele também publicou em suas redes sociais a única fotografia existente da fachada do cinema, mas estava bastante degradada, e consegui restaurar recentemente usando também a sua pintura como base. Isso me emocionou muito”, relembra Jefferson.
Outros registros, porém, apresentaram desafios maiores. A fachada do restaurante Sacy Caseiro, dos anos 1980, por exemplo, exigiu a combinação de duas fotos diferentes, e Jefferson precisou esperar que as ferramentas de inteligência artificial evoluíssem para conseguir restaurá-la. O local marcou época como o primeiro restaurante self-service de Cuiabá.
A recepção do público às imagens restauradas tem sido bastante positiva. Segundo Jefferson, as pessoas ficam emocionadas e impressionadas ao descobrir como a cidade era no passado, especialmente nas décadas de 1940 e 1950.
"Também se emocionam ao reconhecer lugares que já não existem mais, mas que fizeram parte de suas vidas".
O objetivo do restaurador vai além da simples restauração de imagens. “Meu maior objetivo é contribuir para que a história e a cultura de Cuiabá sejam conhecidas por todos que vivem aqui. Nossa história é incrível, mas ainda muito pouco conhecida”, afirma. Recentemente, ele também publicou material sobre Várzea Grande e se mostra aberto a parcerias com instituições culturais e projetos que valorizem a memória regional.
Para Jefferson, a tecnologia tem sido uma ferramenta essencial nesse processo. “Usando tecnologia para restaurar fotos e produzir vídeos históricos e culturais, tenho aprendido muito sobre nossa cidade. Cada novo projeto me deixa ainda mais impressionado com a riqueza da nossa história”, conclui.
